02 janeiro 2006

Cidade a elevar-se


A cidade eleva-se ao pôr-do-sol,
sobe e mergulha a cabeça na noite.
O Atlântico por baixo,
o sol dentro dele apagando-se,
e a cidade a subir para os rolos de céu negro.
Observo a cidade decolando na noite;
distante de mim meu rosto voa
tomado pela chama de tudo que é vivo.
Meus olhos miram o horizonte,
a transformação das coisas,
a bebê-las lentamente,
esquecidos das pessoas que se arrastam
pelo pó.

O poema se escreve.
Existe no silêncio,
independe das minhas palavras.


Silvia Chueire

5 comentários:

Primo de Amarante disse...

Ao ler o seu poema, lembrei-me de poema de Sophia. Coloquei-o em post. Espero que goste. È um poema que me diz muito.

Silvia Chueire disse...

Obrigada, Rui e compadre. Muito.

Silvia

o sibilo da serpente disse...

Pois, eu sempre disse que ser poeta não a arte de bem escrever - é a arte de bem sentir. Só que não sei dizer como a Silvia.

M.C.R. disse...

Gosto do poema, gosto particularmente da alusão contida nos rolos de céu negro mas tenho um reparo: independe! Não será tanto o facto da palavra não existir (alias já existe desde que a Sílvia a usou e os poetas servem tambem para criar palavras...) mas independe oarece palvra de receita farmaceutica antiga...
De todo o modo não destrói o poema mas enfraquece-o um bocadinho. Silvia, ao trabalho...
Um beijão

Silvia Chueire disse...

Obrigada, carteiro. : )

MCR,
Este erro foi um erro mesmo ! Sem desculpas.Vou procurar uma palavra que substitua "independe". O engraçado é que tem sido ultimamente utilizada assim mesmo. O verbo independer logo, logo, estará nos dicionários, não fui eu que o inventei. : /
qQanto a lembrar receita farmacêutica antiga não percebo bem, talvez seja a pronúncia ou o uso (nas receitas) aí em Portugal.
De qualquer modo quero agradecer-lhe por apontar um erro num meu poema. Outras críticas são muitíssimo bem-vindas.

Abraço aos dois,
Silvia