15 janeiro 2006

Quando...

Quando não há boas notícias no país, aproveitam-se as de fora: Michele Bachelet acaba de ser eleita presidente do Chile por 53,22% dos votos. A nova presidente da república do chile é filha de um dos generais fieis a Allende e por isso mesmo morto pelos golpistas.

12 comentários:

Informática do Direito disse...

Grande notícia, MCR.
Nem sonhava que a nova Presidente era filha de um general fiel a Salvador Allende e morto pelos golpistas.
Raios, 33 anos depois uma coisa destas até dá vontade de dar uma festa !

M.C.R. disse...

Démo-la cá em cas antecipadamente: um caril de camarão triunfal. Eu tinha seguido as notícias pela TVE pela cinq francesa e por jornais espanhóis. Todas as sondagens lhe davam maioria pelo que aproveitámos e pimba.
Agora, desgostado da política indígena ando encantado com a hipótese de Segolene Royal ser eleita pelo PS Francês como candidadta à presidência da República.

Primo de Amarante disse...

Reparem neste maravilhso curriculo:

Verónica Michelle Bachelet

«Nascida em 29 de Setembro de 1951 em Santiago, Verónica Michelle percorre todo o Chile durante a sua infância, ao sabor das colocações do seu pai, piloto militar. Em 1970, inicia estudos de medicina e adere à Juventude Socialista.

Em 11 de Setembro de 1973, data do golpe de Estado de Augusto Pinochet, o seu pai, um general da Força Aérea muito próximo do presidente socialista Salvador Allende, é preso, morrendo seis meses depois, torturado pelos seus pares.

Michelle prossegue os estudos, enquanto ajuda secretamente pessoas perseguidas pelo regime. Contudo, em 10 de Janeiro de 1975, a sua mãe e ela são presas pelos serviços secretos e conduzidas à Villa Grimaldi, centro de tortura da ditadura.

A tortura é terrível, sobretudo do ponto de vista psicológico, porque nos humilha», afirma, acerca deste período.

Libertadas em finais de Janeiro, mãe e filha exilam-se na Austrália e, depois, na antiga RDA, onde Michelle prossegue os estudos.

Em 1979, jovem mãe de Sebastian, nascido um ano antes, regressa ao Chile, onde obtém em 1982 o seu diploma de cirurgia, mas vê fecharem-se-lhe as portas do sistema público de saúde «por razões políticas».

Graças a uma bolsa, especializa-se em pediatria e saúde pública. A sua filha Francesca nasce em 1984. Paralelamente, Michelle trabalha para uma ONG que apoia os filhos de vítimas da ditadura.

Depois da transição democrática (1990), empenha-se a fundo como médica do serviço público, membro da Comissão Nacional da SIDA e consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Considerando que o Partido Socialista, onde milita, conhece mal o papel do exército, estuda estratégia militar em Santiago e, depois, defesa continental em Washington.

Em 2000, o presidente Lagos confia-lhe o Ministério da Saúde e uma grande reforma do sector. Em 2002, é a primeira mulher ministra da Defesa da América Latina e, no 30º aniversário do golpe de Pinochet, defende uma reconciliação histórica entre civis e militares.

É nesta altura que a sua popularidade entra em crescendo.
O advogado Andres Chellew, filho de um oficial de Marinha próximo do regime de Pinochet, é um defensor fervoroso de Michelle desde que a conheceu, em 2001.

Para ele, o êxito de Michelle Bachelet nada tem de misterioso e a sua eleição marca o fim de um domínio de 40 anos da mesma oligarquia política e económica.

«Michelle sintetiza muitas coisas: representa a classe média, o reencontro do Chile com o seu exército, com ela abre-se um novo capítulo da história chilena. O país vai mudar muito em quatro anos, mesmo que alguns não o queiram», garante.» In:Diário Digital.

Lindo!!!!!

C.M. disse...

Independentemente da bondade da questão ideológica transversal ao seu regime, Salvador Allende foi um homem que lutou pela dignidade do seu povo, pelo fim da miséria e exclusão social, características da América Latina.

Recordo, de cor, as suas últimas palavras, na Rádio Magallanes:” Mais cedo que tarde, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor”.

Primo de Amarante disse...

Radio Magalhanes!!!

Que extraordinário, compadre Delfim!

C.M. disse...

É verdade, Compadre esteves...

Estava La Moneda a ser bombardeada pela aviação de Pinochet, quando Allende, cercado dos seus fiéis, realizou um comunicado para essa Rádio, que assim praticamente terminava. Foi a sua despedida.

Ele lutou contra uma sociedade de exclusão, que espero nunca tenha paralelo com a nossa, apesar de já muitos estarem aqui excluídos...

Espero que a máxima de Brecht nunca aqui tenha aplicação: não é comigo, não me preocupo...mas amanhã, quem sabe?...

Se o Estado não velar pelo cidadão, quem o fará? A mão invisível de Adam Smith?

Um Abraço.

dlmendes

Primo de Amarante disse...

Lindas palavras, Compadre. E é lindo o magalhanes!

Silvia Chueire disse...

Tive vontade de dizer como dizem meus filhos : YEEESSSS !!! : )

Primo de Amarante disse...

Lá apareceu o primo de Amarante. Este 2gaijo2 vai-me perseguir.

O meu olhar disse...

Esta eleição traz esperança. Por vezes, estamos com os olhos tão tapados pela densa teia construída por políticos de interesses próprios, que pensamos ser já impossível que pessoas da qualidade de Michele Bachelet consigam passar a sua mensagem, convencer e vencer. Fico feliz!

M.C.R. disse...

Eu chamaria a atenção para o milagre da democracia: o texto de Delfim Lourenço Mendes, um conservador asumido, é um exemplo de dignidade. Separa o trigo do joio e ressalva em Allende aquilo que é comum a todos quantos entendem a luta pela esperança. Com malta destas discutir é conversar e conversar é um prazer.
Também gostaria de salientar que imediatamente ao reconhecimento da derrota o candidato da direita foi pessoalmente cumprimentar Michele Bachelet e declarou que o respeita o voto nela pois personifica a vontade de milhões de mulheres que assim, e no chile, chegam à história. Chama-se a isto saber perder.
Espero que este saber perder se junte ao saber ganhar de Michele para bem do Chile e das suas gentes.
E das filhinhas de um amigo meu, de Concepcion, "desaparecido" há 33 anos. Era um bom compañero no curso de dirteito comparado. Permitam-me que 33 anos depois lhe diga baixo mas sentidamente "Gaudeamus igitur".

C.M. disse...

Querido Amigo MCR, estou penhorado pelas suas palavras, imerecidas de resto.

De facto, Allende personifica, creio bem, e independentemente da sua ideologia política, tudo aquilo pelo qual todos nós, homens de boa vontade (pelo menos tentamos sê-lo - Deus sabe quão difícil é ser perfeito…ou tentá-lo sequer…) e apesar das nossas fraquezas, desejamos: um amanhã melhor para nós e para os vindouros, onde seja possível viver com a dignidade intacta, para os Crentes dignidade inviolável porque atribuída por Deus a todo o homem e mulher; onde se possa viver numa sociedade que finalmente superou o egoísmo, recuperou o sentido do bem colectivo e do bem nacional.


Nós bem tentamos lutar, à nossa maneira, em diversas instâncias, no trabalho, com os nossos amigos, alguns em Instituições da mais diversa natureza, para que tal seja possível, viável, e que não seja afinal uma bela utopia à semelhança de Thomas Morus.


Embora eu tenda mais para o pessimismo de Santo Agostinho, que tem uma visão negativa acerca da natureza humana, apesar disso, sinto sempre dentro de mim uma pequenina esperança que havemos de ter a nossa pequena redenção, que os homens poderão construir uma qualquer “Cidade de Deus” à escala humana, desde que sigam a máxima de São Tomás de Aquino: Fazer o Bem, e evitar o Mal. Até que venham os fins dos Tempos…

Sempre fiquei muito impressionado com a frase que nunca mais esqueci, proferida por Salvador Allende; creio que ela reflecte o nosso grito de Esperança; para os crentes, em Deus Salvador e também nos seus “ajudantes”, ou seja, todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa mais igualitária mais fraterna, sejam Crentes ou agnósticos, sem que isto seja uma concessão à libertinagem, confundida esta que está com liberdade. É o problema que nos assola actualmente em Portugal, abandonada que está a Ética e desprezados que estão todos os valores que “incomodam”.

Um Abraço!

dlmendes