26 janeiro 2006

Sistema de escutas e prisão preventiva

Noticia, hoje, a lusa:
No último discurso na Abertura do Ano Judicial como Chefe de Estado, Jorge Sampaio apontou como «situações mais gritantes» em matéria de restrições dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, aspectos ligados à prisão preventiva, escutas telefónicas e violação do segredo de justiça. Disse que não se pode admitir que «enquanto não haja uma acusação definitiva, a notícia da suspeita seja lida como certeza, e a pendência de processo como se condenação definitiva já houvesse». No seu entender, importa «arrepiar caminho rapidamente, com um catálogo restrito e claro dos crimes graves que podem justificar escutas telefónicas» e apelou ao «consenso» entre comunidade forense «sobre o mapa judiciário, as regras de processo, o regime de recursos, a organização e espécies de tribunais e seu reflexo nas carreiras, a formação de magistrados, advogados, oficiais de justiça e polícias.
A par da anunciada restrição em matérias de recursos para as instâncias superiores, Jorge Sampaio também defendeu que «deixem de ser colocados injustificáveis entraves a que, sobretudo o Supremo Tribunal de Justiça, seja um tribunal a que possam ter acesso efectivo todos os juristas».
Jorge Sampaio sublinhou, ainda, que é preciso ter cuidado com as «soluções que visem responsabilizar civilmente magistrados judiciais», mas que se estes errarem intencionalmente «devem ser responsabilizados, sem quaisquer restrições». Por último, defendeu a preservação da independência dos juízes, a autonomia do Ministério Público e o adequado controlo das polícias de investigação criminal.

6 comentários:

M.C.R. disse...

Tendo lido apenas o post , o que poderá ser pouco, parece-me que Jorge Sampaio sai pela porta grande. A que ele, enquanto excelente presidente da República, merece.

Primo de Amarante disse...

O post não pode (nem deve) esgotar o assunto.Apenas chama a atenção para o que se pensa ser relevante. O blog é um jornal de "parede" e não um tratado.

Quanto ao desempenho de Jorge Sampaio, embora não excelente, parece-me que foi Bom. Dava-lhe 15, mas nunca 20. E, modestia à parte, a história vai estar comigo! nesta avaliação.

o sibilo da serpente disse...

Claro, compadre! Já sei que o camarada só dá 20 ao próximo PR, ao eleito. ehehehe

Primo de Amarante disse...

Não é por isso. penso que Sampaio desiludiu pelo seu discurso redondo e não ter interferido com clareza em matérias cruciais, como, p.ex., as da justiça. Nada pode funcionar sem o funcionamento da Justiça e esta instituição não precisava de chegar ao descrédito que tem hoje.

C.M. disse...

Parece-me que Sampaio perdeu uma oportunidade única quando não alertou, a tempo, para o aviltamento da Magistratura, sobretudo a Judicial. Agora é tarde...
Qualquer dia aí temos o MP domesticado...a seguir vêm os Juízes...

Pretende-se que a Justiça se ocupe apenas do "zé da esquina" e seja a "gestora de negócios" das empresas, mormente as multinacionais...a nova "cobradora do fraque"!

assertivo disse...

Post do Vexata Quaestio http://vexataquaestio.blogspot.com

"O procurador-geral da República (PGR) mostrou-se hoje (ontem) "avesso" e "contrário" à eventual criação de um "órgão não judiciário" para fiscalizar as escutas telefónicas em Portugal.

"Não se trataria só de uma grave desconsideração para os juízes, mas também uma solução que poderia ter problemas de constitucionalidade", disse Souto Moura no final da cerimónia de abertura do ano judicial, em Lisboa.

O PGR falava horas depois de o deputado do PSD Duarte Lima ter defendido, a título pessoal, a fiscalização das escutas telefónicas por um órgão independente, eleito pelo Parlamento, e a sua restrição a "situações de gravidade extrema".

Souto Moura lembrou que já havia manifestado na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias um "sentido avesso, contrário, à existência de um órgão não judiciário, não previsto nas leis do processo, para que pudesse fazer essa fiscalização" das escutas telefónicas.

Este entendimento do PGR foi hoje partilhado pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, que, apesar de criticar o actual sistema de escutas telefónicas, advertiu: "Não se caia na tentação, por não se terem, até agora, estabelecido regimes eficazes, de instituir entidades exteriores à administração judiciária , para controlar a legalidade das escutas".

No conjunto, o PGR considerou que Sampaio fez um "discurso excelente", que "coroa da melhor maneira" a sua prestação na abertura do ano judicial.

Fonte: Público e Lusa"