23 janeiro 2006

“Velho tema”

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada,
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos

Existe, sim: mas nós não a alcançamos,
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Vicente de Carvalho

1 comentário:

O meu olhar disse...

Belo soneto! E oportuno.
Eu, pessoalmente, não consigo sentir a esperança dessa maneira.
Ela serve para nos movermos e, de preferência, “pô-la onde estamosxmv”.