07 fevereiro 2006

caricaturas imprudentes

Para defender a publicação das caricaturas de Maomé, tem-se erguido a bandeira da liberdade de imprensa. Todos concordamos com essa bandeira, mas é preciso lembrar que a liberdade de imprensa não é o “vale-tudo”. Há valores que constrangem essa liberdade e que também fazem parte dos direitos humanos e da nossa cultura: por exemplo, os constrangimentos de ordem deontológica, o segredo de justiça e os deveres de confidencialidade. Todos estes valores são também importantes, na medida em que servem o direito à justiça, o respeito pela dignidade humana, a promoção do valor da confiança nas relações entre pessoas e povos; e, ainda, garantem o direito á diferença e os chamados direitos pessoais (privacidade, intimidade, etc.)

Não percebo a tese dos que defendem o valor absoluto da liberdade de imprensa e calam, por exemplo, autarcas, dirigentes de futebol e políticos que fazem blak-out, se recusam a falar com determinada imprensa, que perseguem jornalistas porque não dizem o que eles querem que eles digam, que só aceitam entrevistas por escrito ou, ainda, utilizam os jornais para enviar recados ou exercerem promoção pessoal.

O que está em causa com as caricaturas não é a liberdade de imprensa, mas o preconceito etnocêntrico de considerar que a cultura ocidental é superior à oriental e o sofisma primário de generalizar o terrorismo a todos os maometanos.

O valor da tolerância apoia-se no direito à diferença e perante eventuais conflitos de culturas, exige uma postura de ética prudencial que avalie as consequências previsíveis dos nossos actos, relativamente às crenças mais genuínas de outras culturas. Só assim, o diálogo ente civilizações ou culturas é possível.

Por tudo isto, discordo, em absoluto, da publicação de caricaturas que, no meu entender, ofendem grosseiramente a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos e considero lamentável que, desnecessariamente, (mas previsivelmente) se tenha contribuído para o despoletar de uma espécie de guerra santa (servindo os interesses da al-Qaeda) do mundo árabe contra o mundo “dito” cristão.

32 comentários:

C.M. disse...

Belo texto este!

Só acrescentaria que ele é igualmente válido no caso desses "escribas" ou cartonistas - como o ( nosso - salvo seja) António "gozarem" com o Papa ou com qualquer aspecto da Religião Católica.

Mas os Católicos estão adormecidos...deveriam também, nesses casos, vir para a rua e protestar..."queimar umas bandeiras"..."HELÁS!!!Aí surgiria logo a nova "PIDE": a "República e Laicidade", quais Aiatolas do nosso País!!

dlmendes

o sibilo da serpente disse...

Não é a liberdade de imprensa - é a liberdade de expressão - que está em causa.
Eu também não vejo a vantagem de publicar tais imagens. Sobretudo no tempo em que vivemos. Mas apesar da piada de gosto duvidoso, não me parece que haja violação do exerício legítimo da liberdade de expressão.
(DLM tem razão quando fala no preservativo no nariz do Papa. E nessa altura os que agora protestam ficaram calados)

AM disse...

Publiquei no SEDE:
http://forumsede.blogspot.com/

"Pornoliberdade de expressão

Quem percorrer a cidade do Porto (como, decerto, tantas outras) verificará que, na generalidade das lojas que se dedicam ao comércio de jornais e revistas, se encontram expostos em escaparates ou montras, à vista de todos, os mais diversos exemplares de jornais e revistas habitualmente classificados de “pornográficos” ou "eróticos" nas versões “hard” ou “soft”.

Pessoalmente, acho essa exposição de extremo mau gosto e considero-a até ofensiva, nem precisando de citar situações específicas em que a localização dos estabelecimentos ou bancas poderia acrescentar mais algumas considerações ao simples “mau gosto”.

É claro que os comerciantes além do DIREITO, tem a LIBERDADE de expor o seu produto, e se aquilo se publica é porque se vende, por isso tem que haver quem venda...

(Gostaria aqui de deixar bem claro que estou longe, mas bem longe, de ser um qualquer tipo de moralista (verdadeiro ou falso) e que muito teria a confessar se fosse adepto de alguma religião que se dedicasse a tais práticas, não, não é disso que se trata, trata-se apenas de GOSTO, obviamente relativo, se bem que admita que, para outros, a questão até possa ser mais grave.)

Mas, repito, os comerciantes tem a LIBERDADE de proceder desta forma e não serei eu que os irei tentar, pela palavra, demover dessa prática, até porque há certas coisas que ou se é capaz de ver, sem ajuda, ou então não há ajuda que valha.

Agora tenho que reconhecer que me desgosta viver numa sociedade em que haja quem se sinta bem a ganhar a vida a publicar “daquilo”, em que haja comerciantes que não se importam de colaborar com esse comércio para ganhar mais uns tostõezitos e que não exista uma “pressão do mercado” que leve a que os comerciantes entendam que seria mais vantajoso, para a sua actividade global, demonstrar outro grau de respeito pelos seus clientes.

Será que isto significa que eu sou defensor da censura?

Ou será que entendo que a liberdade de expressão não é um dos valores fundamentais da nossa sociedade?

António Moreira"

Primo de Amarante disse...

E se estiverem na Idade Média essa gente deixa de ser gente, pode ser humilhada nas suas crenças e colocada no caixote do lixo?!...

E se eles pensarem o mesmo em relação a nós (podem achar que o modo de ver o mundo que nós consideramos medieval é muito melhor que o pragamatismo da pós-modernidade)?!... Terão o mesmo direito de nos humilhar, de não nos considerar gente, etc.?!...

O que vale para nós, já não vale para eles?!...

Tem de haver alguma lógica no modo de apreciar as questões.

M.C.R. disse...

Em primeiro lugar não vi em parte alguma dos comentários que me foi dado ler que a figura era a de Maomé.
Em segundo lugar também não conheço nenhuma lei islâmica que proiba reprodução de seres vivos tanto mais que há - e já os vi em musreus - muitos homens retratados em miniaturas islâmicas.
Em terceiro lugar julgo que o uso do nome Maomé ou Allah para glorificar massacres terroristas permite caricaturas.
Em quarto lugar a liberdade de imprensa deve ser defendida sob pena de mais cedo ou mais tarde não podermos dizer sequer que o Ferreira Torres tem um processo... As coisas começam de manso e transformam-se em avalanchas!
Em quinto lugar as caricaturas foram publicadas em Setembro e só agora é que começam os protestos.!!!...
Em sexto lugar a reacção é desproporcionada.
Em sétimo lugar as reacções desproporcionadas dão armas aos xenófobos europeus, que os há e muitos.
Em oitavo lugar as lágrimas de crocodilo de Bush provam bem que se assiste a uma reunião de integrismos e similares contra o laicismo europeu.
Em nono lugar já houve pedido de desculpas o que não demoveu quem pediu a pena de morte para os do jornaleco que as publicou.
Em décimo lugar será bom que se preparem para ouvir dizer que um qualquer fanático se fez explodir na Dinamarca matando um par de inocentes.

Os países islâmicos subsistem quase todos do conflito entre os detentores da grande riqueza que até são capazes de beberem a sua pinga (quando estão de férias na Europa) e a pobreza extrema de massas fanatizadas que só têm a religião como magra consolação. Se os seus governos quizessem vingar a honra bastaria apelar a um boicote dos produtos dinamarqueses ou escandinavos. Não o fazendo só me fazem dizer Viva a Dinamarca e a liberdade de imprensa.

O meu olhar disse...

Compadre Esteves, não podia estar mais de acordo consigo. Hoje ouvi na rádio um dos cartonistas noruegueses, que disse não concordar com a iniciativa do dito jornal. O director deste decidiu avançar com um conjunto de caricaturas sobre esse tema, com o objectivo de pôr à prova o nível de aceitação de liberdade de expressão, por parte dos muçulmanos residentes na Noruega. O dito cartonista referiu que também fez a caricatura mas a dar um pontapé no jornal por essa iniciativa.
Bom, acho tudo isso lamentável. E essa da liberdade de expressão, assim como outras liberdades mal exercidas, é um chavão que dá para muita coisa. Devemos ter liberdade, e felizmente que a temos, mas não para ofender. E o que foi feito foi uma ofensa. Pode custar perceber esse sentimento mas, com compreensão ou sem ela, o respeito deve prevalecer e não, como bem disse o Compadre, o exercício da prepotência da cultura ocidental.

Primo de Amarante disse...

Caro MCR: a questão é de princípios e não de retórica.

Gomez disse...

Caro Compadre:
Aborda aqui, com o brilho habitual, questões complexas e sobre as quais estou longe de ter certezas. Tenho por isso – e por aflitiva falta de tempo – evitado pronunciar-me sobre elas. Partindo da sua reflexão e no mero intuito de “pensar alto” deixo aqui algumas ideias apressadas:
- É evidente que a liberdade de expressão e de imprensa não é, nem pode ser, absoluta e conhece limites decorrentes de outros direitos. No entanto, deve ser salvaguardada em toda a extensão possível e nunca poderá ser, em absoluto, postergada.
- A ponderação do respeito devido a crenças religiosas alheias – tal como a outros valores, como é o caso mais frequente da honra - poderá, em abstracto, interferir com a liberdade de expressão. Mais do que isso, a n/ lei penal sanciona até, por ex., crimes contra sentimentos religiosos, como o crime de ultraje por motivo de crença religiosa (art. 251º do CP).
- Em qualquer caso, os limites da liberdade de expressão e de imprensa, só devem ser determinados, ponderando todas as vertentes de cada caso concreto e tendo em atenção os direitos e bens jurídicos relevantes, à luz do Direito positivo aplicável e que se mostre conforme com os princípios fundamentais de direito internacional.
- Não se trata aqui de propôr uma “fuga” para uma apreciação “jurídico-formal” da questão, uma vez que a ordem jurídica tem subjacentes valores que procura tutelar (incluindo, como referi, as crenças religiosas). Trata-se, tão somente, de validar os valores que podem interferir com a liberdade de expressão, face ao disposto numa ordem jurídica que, respeitando os direitos fundamentais, será em princípio democrática e supra-confessional.
- Assim e a meu ver, o que não poderá limitar, por si só, a liberdade de expressão, é um respeito acrítico pela específica “sensibilidade religiosa” dos visados, sejam eles quem forem. Admiti-lo, seria voltar a admitir que as confissões religiosas podem condicionar a livre expressão e circulação das ideias, com base em toda e qualquer crença que perfilhem ou tabu que instituam, independentemente da extensão dos constrangimentos daí resultantes para os direitos fundamentais.
- Os sentimentos religiosos são um valor a ponderar, mas também não podem ter um carácter absoluto e deve ser a lei – e não crentes de cada uma das religiões – a definir a necessária harmonização com outros direitos. Os tempos da “Santa” Inquisição não devem reentrar-nos sorrateiramente pela janela, a coberto de uma enviesada capa de multiculturalismo
- A renúncia a preconceitos etnocêntricos e o reconhecimento do direito à diferença não nos podem fazer cair num relativismo absoluto. A contextualização e o respeito pela diversidade das culturas, não prescinde de um conjunto de valores que no Ocidente temos por inalienáveis, sob pena de não conhecermos linha de rumo, no plano ético e civilizacional. Uma abordagem multiculturalista não pode servir para justificar a aceitação de situações limite que – face à nossa mundividência, claro - sejam absolutamente inaceitáveis (como o canibalismo ritual, a escravatura ou a mutilação genital feminina, ...), ainda as ditas se possam considerar intrínsecas à cultura ou às “crenças mais genuínas” dos praticantes.
Dito isto - e tendo-me alongado mais do que queria, por falta de tempo para ser mais conciso/preciso :-) - sobre o caso concreto ainda não me posso pronunciar, em consciência, que nem sequer vi as famosas caricaturas.
O que me parece claro é que “a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos” (ou dos católicos, ou de outras crenças...) não pode, por si só, constituir um limite absoluto para a liberdade de expressão, que é um dos mais importantes direitos universais do homem.
Outras questões, de bom senso, bom gosto ou de oportunidade, são também tema interessante de debate. Não devem, porém, sobrepôr-se à liberdade ou ao exercício de direitos que, em concreto, se revelem legítimos.
A ser chamada à colação, a Tolerância só pode abonar e absolver o lado da liberdade, ambiente em que se pode afirmar, nunca o do fanatismo ou do despotismo, que a não admitem.

Primo de Amarante disse...

Caro Compadre Gomez: não está em causa o direito à crítica, o que está em causa é o achincalhamento da imagem de Maomé e o fazer corresponder todos os maometanos a terroristas.

A inquisição nasceu de uma concepção etnocêntrica, onde tudo que não se harmonizasse com os dogmas e até com o modo de ver que dominava na Igreja era mau e justificava todo o tipo de humilhação. O que eu pretendo é o contrário.Defendo o respeito pelas diferenças que proporcione o diálogo intercultural.

Naturalmente, o uso da liberdade de expressão ou de imprensa não está em causa, porque as caricaturas estão aí, como um facto a demonstrar essa liberdade. O problema é de haver ou não constrangimento a essa liberdade, em função do direito ou não á boa imagem (do outro que, neste caso, é religioso e maometano).

Podemos chamar à discussão coisas que têm um contexto diferente, mas isso não nos ajuda a ver claro o que as caricaturas despoletaram.

E o problema é grave e desnecessário. Este paradoxo é que tem de nos fazer reflectir.

A nossa discussão, em vez de se situar na questão da liberdade poderia situar-se na questão do bom-gosto e chegávamos aonde eu quis chegar.

o sibilo da serpente disse...

Eu acho que eles também devem ficar incomodados quando nós, ocidentais, andamos (quem anda) a fazer abaixos-assinados para protestar contra o apedrejamento da mulher adúltera... E, no entanto quem promove os abaixo assinados são quase sempre os mesmo que agora se indignam contra as caricaturas.

Mocho Atento disse...

“1.O direito à liberdade de pensamento e de expressão, nos termos da Declaração dos Direitos do Homem, não pode implicar o direito de ofender o sentimento religioso dos crentes. Este princípio é válido, obviamente, para todas as religiões.
2.A convivência humana exige um clima de mútuo respeito para favorecer a paz entre os homens e as nações. Assim, algumas formas de crítica exasperada ou defraudante dos demais revelam uma falta de sensibilidade humana e podem constituir, nalguns casos, uma provocação inadmissível. A história ensina-nos que não é esse o caminho para curar as feridas dos povos.
3. Há que precisar que as ofensas, feitas por um indivíduo ou por um meio de comunicação, não podem imputar-se às instituições públicas desse país, cujas autoridades poderão e deverão, eventualmente, intervir segundo os princípios da legislação nacional. No entanto, são igualmente deploráveis as acções violentas de protesto. Para responder a uma ofensa não se pode ignorar o espírito verdadeiro de toda a religião. A intolerância, real ou verbal, venha de onde vier, seja como acção, seja como reacção, constitui sempre uma ameaça séria à paz.”
(Declaração da Santa Sé, 04-02-2006)

Invocações e preces
Rotary Clubs do mundo inteiro têm em seu quadro social pessoas das mais variadas religiões, crenças e valores, as quais crêem nos serviços humanitários. Como cada Rotary Club é uma entidade autônoma, é preciso usar bom senso quanto à maneira de conduzir as reuniões para que reflictam o princípio básico de tolerância defendido pelo Rotary e motivem os rotarianos a participar de projectos de prestação de serviços humanitários.
(Manual de Procedimento – Rotary International)

Dia da Paz e Compreensão Mundial
O aniversário da fundação do Rotary, 23 de fevereiro (1905), também é comemorado como o Dia da Paz e Compreensão Mundial. Nessa ocasião, todos os clubes prestam reconhecimento especial ao compromisso do Rotary com a paz, a amizade e a compreensão internacional.

Primo de Amarante disse...

São coisas diferentes. Podemos cair numa visão pragmática de considerar que há factos e fazer equivaler todos os factos a um mesmo valor. Penso que o respeito pela figura de Maomé pode ser defendido e ao mesmo tempo (sem contradição)repudiar o apedrejamento da mulher adúltera. Nem os factos nem o valor dos mesmos são idênticos.

o sibilo da serpente disse...

Há um ponto comum: quando nós protestamos contra o apedrejamento da mulher adúltera, estamos a dizer-lhes que eles se portam mal e deviam portar-se de outra forma. E isso é uma ingerência nas crenças deles. Eu acho que nós não temos o direiro de lhe ensinar como viver. E o inverso também é verdadeiro.
Veja-se: li há tempo um livro de uma inglesa que se apaixonou por um tipo do Iémen do Sul, casou e foi viver para lá. Cedo percebeu que aquilo não era vida para ela (coisa que devia ter percebido antes de ir). E recusou-se a aceitar aquela forma de vida e fizeram-lhe avida negra, tentando obrig´´a-la a viver em conformidade com o sítio. E eu acho justo. Claro que ela fugiu, escreveu o livro, ficou famosa e rica.
Mas eu acho que ela não tinha razão. Do mesmo modo que não aceito que eles venham para o ocidente impôr-nos as suas regras.
Não discuto se são eles ou nóis quem tem razão: o que sei é que o mundo deles é mau, o nosso também eu.

Mocho Atento disse...

A questão das caricaturas não é de natureza religiosa, mas apenas política.

Em todos os conflitos, o "Ocidente" (ou seja, os Estados Unidos da América) tem criado "guetos" étnicos, culturais e religiosos. Vejam-se os exemplos recentes da ex-Jugoslávia (Bósnia e Kosovo) e Iraque. Esta forma de resolver as situações demonstra a clara falência dos sistemas democráticos ocidentais em cumprirem na sua acção diplomática os valores que pregam.

No caso das caricaturas, não está em causa a liberdade de imprensa, mas sim a ofensa à liberdade religiosa e à dignidade da pessoa humana. Pode publicar-se o que se quiser; não pode é querer publicar-se que todos os muçulmanos são terroristas, bombistas, diabos encarnados. Esta visão redutora e errada não pode ser alimentada na nossa sociedade. As sociedades de influência dominmante muçulmana têm caracterirsticas claramente diversificadas. Aliás, o "Ocidente" deu cabo de todas as experiências de secularização, tendo sempre preferido a islamização dos Estados árabes (ex: destruição do Iraque e apoio incondicional à Arábia Saudita.

Também não podemos demitir-nos de exprimir as nossas opiniões, nem de afirmar as nossas convicções.

Mas, na verdade, os paises islâmicos onde há problemas são aqueles em que o Ocidente se esforçou por colocar líderes duros para que controlassem os povos e lhes entregassem as matérias-primas.

Nenhuma caricatura justifica a violência, que resulta manifestamente da manipulação de gente inculta (que existem em todas asreligiões e fora delas, vejam-se as "claques") por líderes que sabem bem que querem criar inimigos externos que evitem problemas internos, como factor de coesão em torno de uma liderança.

Mas essa mesma lógica têm os Estados Unidos, a quem interessa criar e alimentar a guerra entre "eles" e "nós", como se não fossemos todos pessoas.E por isso em nome da guerra ao terrorismo, tudo vai sendo permitido, desde violar leis internacionais, suprimir direitos cívicos e criar um estado policial absoluto.

Na Dinamarca, 4% da população é muçulmana, que contribui para 10% do PIB. A publicação das caricaturas teve manifestamente conteúdo xenófobo e isso é inadmissível. E julgo que é crime na própria Dinamarca.

Agora, a única solução é a afirmação universal, coerente e prática dos direitos de homem, seja da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, da liberdade de participação democrática, da liberdade religiosa. Se os chamados países ocidentais, maxime os Estados Unidos da América, fizessem com os países árabes o que Carter teve a coragem de fazer com as ditaduras sul-americanas, o mundo ficaria mais seguro. Se deixasem de subsidiar regimes corruptos e opressores, os resultados seriam melhores.

A liberdade, a democracia e a tolerância, resultantes da educação e desenvolvimento económico, social e cultural dos povos é a melhor garantia de segurança.

Primo de Amarante disse...

Todas as religiões, todas as civilizações podem chegar a uma ética mínima e isso significa que há valores (mínimos) universais. Se um desses valores é ultrajado, todo o mundo é capaz de o reprovar. O respeito pela figura de Maomé torna-se universal, se aceitarmos que o sagrado é um valor cultural que deve ser respeitado. O apedrejamento da mulher adúltera não é um valor universal, porque não serve de medida (não dá prestigio, nem dignidade) a todas as culturas, inclusivamente muçulmanas.

É preciso distinguir o que é um valor (medidas de estima ou de prestigio), do que é uma pena (desumana) ou castigo (neste caso, para a ausência de um valor-- o da fidelidade).

Não podemos juntar o que é diferente, a não ser que a lógica seja uma batata..

C.M. disse...
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C.M. disse...

Mau é o Homem!

Do que o homem é capaz de fazer ao seu semelhante, disso deu provas o século XX: veja-se todo esse horror nazi que transformou a bela Europa em ruínas fumegantes, e a fez decair até aos nossos dias, dando ensejo a que uma nova potência dominasse o Mundo!

Esses crimes contra o ser humano não são um acidente da História. Foram antes premeditados. No séc. XX, supostamente civilizado, foi uma realidade o extermínio de quase todos os judeus da Europa, ciganos, enfim, de todos aqueles que de algum modo fossem “diferentes”, e a redução à escravatura de outros. Passou-se aqui na doce Europa aquilo que, no fundo, o homem infligiu, durante séculos, aos Índios da América e aos negros de África, sem que, por assim dizer, se desse por isso. Só que agora o crime foi perpetrado contra o homem branco...Com efeito, paralelamente ao curso do julgamento de Nuremberga, tranquilamente os “goulags” acumulavam-se na União Soviética e a segregação racial estava legalizada nos EUA. Contradições...Mais tarde, o Ocidente aceita como aliado o governo racista da Africa do Sul, para onde tinham fugido tantos nazis...É claro que na longa noite da História, do Egipto à China, da Grécia aos impérios mongol ou otomano, o esclavagismo era praticado sem aparente sentimento de culpa. O escravo “nascia” quando o vencido era um simples despojo, ele, a sua mulher e os seus filhos. Desumanizados, explorados, à mercê de todas as sevícias.
Na própria África, os árabes muçulmanos exploraram os negros, antes durante e depois dos europeus...

Cruel é o Homem…

O respeito pelo Homem não existe. Esse mesmo respeito que porventura tinha sido já plantado quando, na Galileia, Jesus de Nazaré a percorria, exortando os homens à fraternidade, ao amor. O amor que falta ao próximo, que não existe na comunidade internacional, que vê o outro como inimigo, como um obstáculo aos fins prosseguidos, sejam eles quais forem...

No século XX o principal teatro de confronto entre potências hegemonistas foi a Europa.
A primeira metade, com efeito, foi profusamente sangrenta em solo europeu, e assistiu-se à emergência imperial e depois ideológica (nazismo) da Alemanha, e na segunda parte do século nasceu a "guerra fria" e a coexistência com uma nova superpotência nascida da afirmação ideológica internacional (a URSS).
No século XXI, as cartas são outras. Há uma deslocação do teatro do confronto geo-estratégico para a Ásia e Médio-Oriente...
Parece-me que os alinhamentos deixaram de ser feitos em termos ideológicos (entre os dois sistemas filosóficos e económicos dominantes do séc. XX - capitalismo e socialismo) para passarem a ser "civilizacionais".

E a "civilização" não-ocidental aí está com uma grande “força” para se afirmar geo-estrategicamente.

A política mundial entrou numa nova fase. Para Huntington a fonte de conflitos será efectivamente de ordem cultural, o choque de civilizações dominará a política global nos próximos anos. Concordo…
Na década de 80, o mundo era marcado por um combate ideológico entre dois países, os EUA e a URSS. Enquanto o primeiro defendia o capitalismo, o segundo era a alternativa socialista ao liberalismo.
Os dois tinham países-satélites, ou seja, seguiam as suas doutrinas. E era nesses países que os conflitos de facto aconteciam: Vietname e Coreia são dois exemplos. Também até esta época, o Estado era quem ditava as regras nas relações internacionais.
A década de 90, porém, trouxe algumas alterações neste cenário. A queda da URSS deixa os EUA aparentemente sem inimigo externo à altura, podendo assim demonstrar o seu poderio económico, militar, e político, expandindo a sua influência para o resto do mundo, indistintamente. A sociedade mundial, no séc. XX, após 45, mergulhou naquela forma de capitalismo de que já falei, de um imperialismo que não é apenas obra de um governo, mas de todo um sistema lógico. que despreza os direitos do homem, considerando-os como um contratempo...
Ao lado deste facto, cada vez mais os Estados saem de cena para a entrada de outros personagens importantes internacionalmente: as ONG’s, organizações internacionais como a ONU, empresas multinacionais e... organizações terroristas.
A religião e as convicções morais são decisivas nesta nova “guerra fria” entre diferentes nações. Não há cooperação, mas frieza e oposições latentes.
Neste choque a Religião é decisiva. Confrontam-se hoje o Islamismo e o Cristianismo, duas Religiões monoteístas, com um só Deus. No passado tantas intolerâncias e guerras pela fé! Que hoje estão de novo acesas! Aí está a “ jihad”! A civilização muçulmana opõe-se ao modo de vida Ocidental e à tentativa de universalização dos valores ocidentais. Luta pela manutenção do seu costume e pela não-interferência (que considera imoral) dos países ocidentais - principalmente dos EUA.
As explicações para os conflitos presenciados no mundo actual poderão assim não ser essencialmente ideológicas ou económicas, mas sim de ordem cultural. As Nações-Estado continuam os agentes mais poderosos nos acontecimentos globais, mas os conflitos internacionais envolverão cada vez mais diferentes civilizações. As linhas de cisão entre as civilizações poderão ser as linhas de batalha do futuro, por questões étnico-religiosas.
Os diversos conflitos entre Nações-Estado e ideologias ocorreram no passado fundamentalmente no seio da civilização ocidental ou tendo esta por referência; vejam-se as duas grandes guerras mundiais e a “Guerra Fria”. Contudo, desde o fim desta, a política internacional saiu da fase ocidental e passou a ter como foco principal a interacção entre a civilização ocidental e as não-ocidentais.
O aumento dos conflitos no século XX e agora no século XXI, vai ficar a dever-se à clivagem entre povos de civilizações diferentes. Esta clivagem, este conflito, acentua a consciência civilizacional que, por sua vez, reforça animosidades surgidas há muito tempo…Veja-se que o sonho dos islamitas é reconstruírem o seu antigo Império…que ia até à nossa “Espanha”…
Que loucura!!!
Mas a Oriente, a Religião preenche o vazio, na forma de movimentos fundamentalistas. O homem ocidental, cada vez mais alienado, vive profundamente amargurado nas suas cidades desertas de calor humano, sem alma.
As diferenças entre as civilizações são fundamentais. Elas diferenciam-se pela história, idioma, tradição, costumes, religião. Pessoas de civilizações diferentes têm concepções diversas das relações entre Deus e o homem, o indivíduo e o grupo, cidadão e Estado, liberdade e autoridade. As interacções entre os povos de diferentes civilizações aumentam no século XX e tal facto amplia o choque cultural. Mas os processos de modernização e globalização estão a separar as pessoas das suas comunidades tradicionais. Esse vazio deixado pela perda das origens, pelas mudanças rápidas e assustadoras para as grandes massas populacionais, é preenchido pelos movimentos denominados "fundamentalistas". Esses movimentos tentam recriar laços comunitários. Existe uma reacção contra o poder do Ocidente, que está no auge! No passado, as elites das sociedades não-ocidentais costumavam identificar-se com o Ocidente, do qual adoptavam valores e hábitos, enquanto as massas permaneciam mergulhadas na cultura tradicional. Hoje, não. As elites cada vez mais procuram abandonar os valores ocidentais e voltar para suas tradições culturais, mesmo que grande parte das massas agora adopte alguns hábitos do Ocidente.

E pretendem que nós, ocidentais, os sigamos (à força!!!).
A linha de confronto entre o Ocidente e a civilização islâmica, por exemplo, está em ebulição há 1.300 anos. Dos séculos XI ao XIII as cruzadas obtiveram um sucesso temporário sobre os “infiéis”. Do século XIV ao XVII os turcos otomanos mudaram novamente esse quadro, tomando a península Balcânica e cercando Viena por duas vezes.
A nossa Europa tão cobiçada!!!
Nos séculos XIX e XX, com o declínio do império otomano, a Inglaterra e a França estabeleceram o controle sobre a maior parte do Médio-Oriente.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o Ocidente começou a recuar: passou a depender fortemente dos países do golfo Pérsico para obtenção de petróleo; o nacionalismo árabe (recordo Nasser nos anos 60) e, depois, o fundamentalismo islâmico expandiram-se; sucederam-se várias guerras entre árabes e Israel; terroristas muçulmanos, apoiados por alguns governos do Médio Oriente explodiram aviões e instalações ocidentais e fizeram reféns; esse confronto teve um momento importante em 1990-91, quando na Guerra do Golfo o poderoso exército norte-americano entrou em conflito armado com o Iraque, apesar do apoio (muitas vezes formal) de alguns governos árabes à acção de libertação do Kuwait. As populações islâmicas em geral tinham um forte sentimento de identificação com o Iraque por estar a desafiar a maior potência ocidental.
Bastava ver a CNN desses dias...
Esse confronto entre o Ocidente e o Islão acontece há séculos e não parece que, após a passagem para o século XXI , ele se suavize.
O crescimento do fundamentalismo islâmico torna as perspectivas de futuro negras, isto a par do forte crescimento demográfico dos países árabes e em particular dos países muçulmanos do norte da África, que conduz a migrações volumosas em direcção à Europa, que reage tentando fechar as suas fronteiras e aumentando o xenofobismo.
A violência está assim mundializada. Os conflitos, as injustiças batem à nossa porta. Sejam as provocadas pela política internacional, sejam as levadas a cabo pelos nossos políticos “cá de casa”. A pobreza, a desigualdade, a repressão e a arrogância que nos roubam as manhãs que se queriam luminosas, são problemas sem fim à vista. O mal está dentro do próprio homem. O qual não quer ver a verdade. Já Pilatos, há dois mil anos se interrogou sobre o que era a verdade... E Ela ali estava, diante dele, e não a quis receber...
O vento destruidor da mundialização neoliberal varre o mundo, de Wall Street às pobres aldeias de África, Ásia ou América Latina, ou aos “sans papiers” da nossa Europa.
A nossa sociedade internacional, hoje dominada por economias sem alma, entrou numa fase regressiva no que toca aos fundamentos jurídicos e políticos daquilo que deveria ser uma verdadeira comunidade internacional.

Como disse João Paulo II, na sua Encíclica “Centesimus Annus”, “ É verdade que, desde 1945, as armas silenciam no Continente europeu; mas a verdadeira paz — deve-se lembrar — nunca é o resultado da vitória militar, mas implica o superamento das causas da guerra e a autêntica reconciliação entre os povos. Durante muitos anos, de facto, houve, na Europa e no mundo, mais uma situação de não-guerra do que de paz verdadeira. Metade do Continente caiu sob o domínio da ditadura comunista, enquanto a outra metade se organizava para se defender contra tal perigo. Muitos povos perdem o poder de dispor de si próprios, vêem-se encerrados nos limites sufocantes de um império, enquanto se procura destruir a sua memória histórica e a raiz secular da sua cultura. Multidões enormes são forçadas a abandonar a sua terra e violentamente deportadas.”


O homem parece não aprender com os seus erros...

Sou pessimista como Santo Agostinho…

dlmendes

M.C.R. disse...

Meu caro compadre Esteves
eu apresentei-lhe argumentos e não retórica.
Mais: apresentei-lhe factos.
Ou seja: em nenhum momento a caricatura dizia especificamente que era de Maomé que é impossível de caricaturar por não haver (ao contrário do cristianismo) um retrato plausível.
Os cartoons foram publicados há meses e só agora é que suscitam tão virtuosas demonsrtrações de protesto.
O que se pretende é que em mais nenhum país haja crítica política ou religiosa.
A questãocomo diz começa a ser de princípios: Teremos que respeitar tudo o que uma qualquer religião considerar sagrado ou consubstancial á sua visão do mundo?
E lá vamos para o problema do apedrejamento das mulheres adúlteras (das mulheres pois não consta que OS adúlteros sejam apedrejados).
Só porque está na sharia deveremos respeitá-lo?
Devemos respeitar e "compreender" a excisão do clitoris nas mulheres?
Meu caro compadre: andamos todos a cair na falácia do multiculturalismo. Estamos contentinhos porque respeitamos a religião muçulmana e esquecemo-nos de toda uma tradição de laicismo e liberdade individual baseada no livre pensamento que constitui uma das raízes (e a mais forte) da actual europa.

Eu estou-me nas tintas para o fenómeno cartoons dinamarqueses excepto no que ele revela de reacção destemperada e de "compreensão" pelas "vítimas" ofendidas.
Se isso é retórica então temos diferentes diccionários .

C.M. disse...
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C.M. disse...

Acompanho MCR no seu discurso.

De um modo propositadamente grosseiro, diria que esta história do multiculturalismo apenas servirá para nós, ocidentais, andarmos de joelhos, a pedir perdão ao resto do mundo pela História dos nossos antepassados...

Lembro aqui a batalha de LEPANTO, na qual se jogou a nossa civilização ocidental e cristã; sem a nossa vitória, hoje o mundo ocidental estaria sob o símbolo do Crescente Vermelho...

Não sejamos ingénuos...Os islamitas pretendem impor ao Mundo a sua visão da Religião e da Sociedade. E a Europa até lhe vai fazendo o "jeito"...

o sibilo da serpente disse...

(DO SINE DIE)

Maomé bombista
Um desenho de Maomé com um turbante-bomba (bomba prestes a explodir) é insultuoso para os muçulmanos?

Tenho dificuldade em pronunciar-me sobre o assunto, até porque não sou muçulmano nem seguidor de outra religião. Mas quero lembrar a reacção que desencadeou nos meios católicos (ou em certos meios católicos, para ser mais rigoroso e não suscitar polémicas escusadas neste blogue!) aqui há anos no nosso país a caricatura de João Paulo II, assinada por António, com um preservativo enfiado no nariz. (E o Papa não é profeta...).
Como também não esqueço a indignação de muito "patriotas" (e Bagão Félix indignou-se há poucos dias) com o "abuso" do uso da bandeira nacional ou do hino, símbolos da Pátria!
Eu tenho uma visão muito liberal da liberdade de expressão e sempre a segui na minha vida profissional, nem sempre com sucesso nos tribunais. Propendo a pensar que a sátira deve ser livre, desde que se mantenha nos limites da sátira, da crítica, ainda que azeda, rude ou violenta. O direito de expressão só termina onde começa a injúria, a ofensa, a acção motivada pela intenção malévola de denegrir, de infamar, não de criticar. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (ou dos "direitos humanos", para não ofender as especialistas em "igualdade de género" - que especialidade será esta?) tem jurisprudência sólida nesta matéria, que deveria servir de "farol" à jurisprudência nacional.
Voltando ao Maomé, quid juris? Por mim, tudo bem, embora as caricaturas de Maomé me pareçam ter aparecido num momento inoportuno (tendo em conta a situação no Médio Oriente). Talvez essa inoportunidade não seja casual. Mas talvez a crítica e a sátira sejam sempre inoportunas. Em todo o caso, quem agora defende a legitimidade da publicação destes desenhos fica vinculado a tomar idêntica atitude quando for caso disso, isto é, quando os seus valores, a sua fé, forem visados. Então é que eu quero ver alguns dos (agora) liberais.


Publicado por Eduardo Maia Costa (18:50)

Primo de Amarante disse...

Caro MCR: continua com uma retórica que não responde à questão essencial: saber se o sagrado é ou não um valor a respeitar. Está-se nas tintas, pois esteja! O problema é seu e já, agora, devo dizer-lhe que não vejo nisso nenhuma originalidade. Há muita gente, com quem cruzo todos os dias, que tem a mesma posição. Eu não estou e a razão é obvia: está nas consequências graves de um acto que parecia insignificante. Este paradoxo não me deixa ficar "nas tintas".

Como o Hospede já deu a entender, há a tese de que as secretas ligadas ao Irão terão aproveitado as caricaturas para provocarem uma imagem de revolta contra o ocidente e assim criarem melhores condições para os "negócios” escondidos que estarão a ter lugar relativamente á questão nuclear e ao apoio ao Hamas.

Mas se assim for, o caso das caricaturas ainda se tornou mais imprudente. E, por isso, a demarcação que alguns países estão a fazer, como Portugal, ganha sentido para dizerem que as caricaturas são reprovadas pelos respectivos governos e, por isso, não podem ser misturado com a politica dos respectivos países.

Dê-se as voltas que quisermos, há, entretanto, uma questão de princípio que todas as pessoas de bem têm de reconhecer: o do respeito pelos outros. E é este princípio que nos dá legitimidade para esperarmos que os outros tenham respeito por nós.

Primo de Amarante disse...

Caro MCR: Não podemos ser mais papista que o papa. As caricaturas apoiavam um editorial que não deixava dúbvidas de dizerem especificamente respeito a Maomé.

E já, agora, de Cristo também não há retratos nem desenhos. Há, como no caso de Maomé, a possibilidade de configurar uma imagem.

Gomez disse...

Caro Compadre:
O ponto essencial vai ficando à vista (digo, eu...).
O sagrado - melhor dizendo, os sentimentos religiosos - merecem respeito. O respeito ditado por uma Lei que respeite todos os direitos universais do homem. Não um respeito irrestrito pela "sensibilidade religiosa" dos visados, qualquer que ela seja. Sob pena de qualquer fanático nos obrigar - na prática - a viver de acordo com a sua visão do Mundo.
A liberdade de expressão - por mais contida e legítima que se apresente - só deixará de incomodar os fundamentalistas (neste caso) islâmicos, quando observar "religiosamente" a sua leitura do Corão.
Deveremos passar todos a exprimir-nos, apenas e só, de modo "corânicamente" correcto, para não incomodar os fanáticos do pensamento único?
Ontem não quis usar a palavra para não contaminar ainda mais o debate. Mas esta é, no fundo, uma questão de laicidade. O respeito devido às religiões e a concordância prática a estabelecer com outros direitos, terá de decorrer de uma Lei não-confessional.
A seguir a doutrina do nosso MNE, não tarda estaremos de novo a queimar os livros: ou repetem o Corão e são redundantes ou o contrariam e são blasfemos, recorda-se?

C.M. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
C.M. disse...

Caros amigos, acerca das reais intenções da movimentação islâmica,leia-se o excelente artigo de Vicente Jorge Silva, no "DN" de hoje, intitulado "Caricaturas de Maomé e caricatura da democracia"; está lá tudo...

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Não podemos ficar reféns

Já muito se disse e escreveu sobre a história dos cartoons de Maomé publicados originalmente na Dinamarca. O facto de vivermos numa democracia (já) adulta permite-nos expressar as nossas convicções, sem que isso mereça castigo ou punição. A nossa opinião vale tanto como a do vizinho do lado e merecerá ser criticada ou elogiada apenas pelo que vale, consoante a visão daqueles que nos ouvem ou que nos lêem.
Todo este empolamento à volta dos cartoons está, a meu ver, a ser provocado pelos regimes árabes interessados em “cavalgar” a espiral de violência contra o mundo ocidental. Alguém compreende que uns cartoons publicados em Setembro provoquem agora toda esta explosão?
Acerca do debate sobre a publicação dos cartoons, o respeito pelas religiões e a liberdade de expressão, entendo que o ocidente não pode ficar refém do fanatismo religioso. Não podemos ceder à tentação de “apagar” a nossa matriz civilizacional com medo das represálias e do extremismo. Um cartoon sobre Maomé dá a alguém o direito de se manifestar daquela forma? Não dá.
As religiões, todas elas, são livres de orientar os seus fiéis num determinado rumo, de acordo com determinados princípios e dogmas, mas um estado livre e laico não pode ficar de cócoras perante nenhuma religião. Respeito não pode ser confundido com subserviência. A liberdade de expressão é um princípio fundamental e que não deve ser colocado em causa. O mau gosto e a falta de equilíbrio dos criadores serão julgados por quem aprecia as obras de arte e as julga. Sem perseguições nem índexes.

Primo de Amarante disse...

Caro Gomez: não sei por que temos de associar todos os que se sentem revoltados com as caricaturas a fundamentalistas. Também não entendo por que há-de ser a lei a demarcar os procedimentos legitimos ou ilegitimos. Será que não podemos ter bom-senso, respeitar o outro, sem que a lei o obrigue?!...

E o respeito pelo outro, não será também o respeito por aquilo que dá sentido á sua vida, seja isso a religião ou uma ideologia (laica) qualquer?!

Primo de Amarante disse...

Sei que há muita gente aqui que não gosta de Ana Gomes. Mas não resisto em transcrever só um bocadinho do que ela escreveu, hoje, no "causa-nossa".

Ora vejam: «Freitas do Amaral esteve bem ao demarcar o Governo português e Portugal do conteúdo insultuoso e do propósito estigmatizante de todos os muçulmanos visado nas caricaturas. Fez o que o Governo de direita dinamarquês deveria ter feito inicialmente e não fez. Por incompetência, arrogância e por calculados interesses políticos internos - dependente, como é, do apoio da extrema-direita racista e xenófoba detrás do jornal que publicou as caricaturas. Incompetência e arrogância que levou o PM Andreas Rasmussen ao extremo de durante meses recusar receber os embaixadores de países muçulmanos - e logo ali podia ter acabado com o problema, distanciando-se dos propósitos ofensivos dos "cartoons" e também rejeitando, como é óbvio, qualquer ingerência ou sanção contra o jornal (o que eventualmente apenas caberia aos tribunais).
Freitas do Amaral fez o que a Europa deveria ter feito mais cedo. Porque a primeira vez que a Europa (Solana e a Presidência) se referiu à questão foi no fim-de-semana passado e apenas para condenar a violência contra as embaixadas da Dinamarca (obviamente condenável). Mas nem uma referência ao conteúdo gravemente ofensivo das caricaturas. E à demarcação da Europa da tolerância, do respeito pelos direitos e liberdades fundamentais face à insensibilidade política e propósitos insultuosos e estigmatizantes das caricaturas.».

Consultem o blog "causa-nossa". O texto é muito mais longo e (para quem ache que pessoas de quem eventualmente podemos não gostar podem, no entanto, dar-nos bons contributos para uma reflexão) é de não perder.

o sibilo da serpente disse...

Compadre: tomei a liberdade de colocar o seu texto no Marco Hoje.
JCP: tomei a liberdade de colocar o teu comentário ao post do compadre no Marco Hoje.
Só dos dois, porque ambos são marcoenses e os outro não são.

Primo de Amarante disse...

Peço desculpa. Não resisti e já o coloquei em post.

Primo de Amarante disse...

referia-me a ter colocado em post o texto (carta) de Ana Gomes.

Quanto ao referido por Carteiro, naturalmente não me oponho à liberdade de imprensa.