11 fevereiro 2006

"Civilização" e "Barbárie". Porque não assinei.

Nunca pensei que fosse possível, mas é.
Um tipo qualquer da extrema-direita dinamarquesa faz um boneco em que estigmatiza toda uma comunidade, a de religião muçulmana, apontando-a como bombista/terrorista.
Trata-se de uma manifestação racista e xenófoba, ilícita face ao Código Penal português e às convenções e declarações de direitos do homem, aprovadas ao longo dos anos.
Ao invocar-se neste caso a liberdade de imprensa está-se a abrir caminho para a banalização do racismo e da xenofobia.
Como dizia alguém, discordo do teu ponto de vista, mas bater-me-ei até ao fim para que tenhas liberdade para o exprimires. Mas não me baterei pela liberdade e protestarei por todas as formas contra os que lançam estigmas e anátemas contra outras comunidades. Como os artistas nazis fizeram anos a fio contra os judeus, preparando a opinião pública para o extermínio que se seguiu. Como o faz diariamente a extrema-direita europeia em relação aos emigrados e demais minorias de todas as cores e raças. Se isso é arte e liberdade de imprensa e de criação, é uma uma arte ao serviço da negação do outro, do diferente, fautora de divisões e conflitos sem sentido.
As manifestações contra o “cartoon” deviam ser pacíficas e seguir as vias legais, mas pergunto-me se, com a liberdade de imprensa de Berlusconis e de outros, mais as ideias islamofóbicas que dominam, produziriam algum resultado.
Finalmente, é espantoso como, por causa das manifestações da “rua árabe”, se fala em “barbárie”, em contraste com os valores da nossa “civilização”. Uma “civilização” que lhes faz uma guerra sangrenta, ilegal, declarada através das maiores mentiras e que vem cilindrando uma a uma todas as garantias que há muito se julgavam adquiridas, mas que os senhores da guerra rasgaram em pedaços e que, pelos vistos, não merecem sequer um modesto abaixo-assinado.

4 comentários:

C.M. disse...

Hoje, ao folhear ao pequeno almoço, aqui no café do Bairro, a revista de Sábado do “Diário de Notícias”, de chávena na mão senti uma dor súbita ao ver a estonteante beleza que é, na verdade, a cidade de Copenhaga, a capital da Dinamarca, ali exposta aos olhos voyeurs, retratada em belas fotografias, com os seus cafés, as suas esplanadas, os museus, a água, os barcos…e temo por ela, pelos seus habitantes, talvez os mais tolerantes de toda a Europa…e tudo por causa de uns irresponsáveis que não respeitam a ideia do Sagrado, precisamente aqueles que nos dizem que nos dias que passam não existe mais nada para respeitar…são todos esses que nada têm para dar a não ser a instilação do ódio…

Talvez que, dramaticamente, a Dinamarca e outros países europeus venham, amanhã, a sofrer as consequências deste acicate proporcionado pelo jornal dinamarquês.

É claro que, como disse o Mocho Atento no seu postal, foi só depois do encontro da Organização da Conferência Islâmica que as referidas caricaturas de Maomé se transformaram nesta crise…para bom entendedor…Não esqueçamos a “rivalidade” que existe entre o mundo cristão e o muçulmano; não esqueçamos que nós somos, para esta cultura, os “infiéis” e que, nessa perspectiva, deveremos ser combatidos… mas este aspecto daria para outras reflexões…

Mas, sabendo do que a “casa gasta”, não deveríamos nós, europeus, ser mais prudentes? (para além do outro aspecto, a montante, a ter em conta, ou seja, o respeito pelo outro, pelo diferente, como salientei no postalzinho que publiquei).

Então será assim tão utópico podermos todos conviver em paz neste último reduto de beleza que é a Europa? A quem interessa a destruição da Paz e da Beleza?

Para um Crente, a resposta está no Mal que assola o Mundo e penetra no coração de muitos homens…


Parafraseando Adriano Moreira, no seu “Tempo de Vésperas”, os ventos da História sopram apocalípticos…

dlmendes

Primo de Amarante disse...

Viva o Anaximandro!!!!!

Coloca as questões essenciais e isso é que é importante.

viva o Anaximandro, Viva a solidariedade entre os povos, vaiva a paz e a concórdia na base do respeito reciproco!

Peço licença e, com vénia, vou colocar o seu post no meu blog «margemesquerdatrubunalivre.com»

Primo de Amarante disse...

O entusiasmo que o amigo, compadre e camarada Anaximandro me provocou fez com que não reparasse que VIVA é VIVA e não vaiva. De qualquer forma, o que eu quero expressar é um VIVA ao ANAXIMANDRO,à sua clareza de raciocínio e, ainda, á paz e á fraternidade. A liberdade sem fraternidade é uma liberdade sem raizes. Segura-se mal e cai só para os interesses do lado com mais peso.

Primo de Amarante disse...
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