10 março 2006

Da Prima, por causa desta, do primo desta, das paixões da carne que tanto atormentaram o Rei D. João V e dos seus amores barrocos



Atentem bem, caros amigos, no machismo latente deste blog: logo no dia internacional da mulher, eis que uma digna representante do belo sexo – a escritora Maria Manuel Viana, mais a mais sendo familiar de um lídimo membro do mesmo - é impedida de comentar um postal aqui colocado por este humilde escriba!

Teve de socorrer-se desse bem nosso conhecido, o incontornável Marcelo Correia Ribeiro, pois então, pessoa prestimosa, certamente incapaz de dizer não a uma senhora, galante que é, ou não pertencesse a uma geração de românticos, e que se apressou a entregar a carta a …Garcia, perdão, a DLM.

Pois bem, não vai aquela bela donzela, posta em desassossego, sem resposta (aqui não sei se hei-de pedir ajuda ao MCR ou ao Carteiro, que este último, aliás, anda-me cá com uns calores…)


Refere a mesma uns eventos ocorridos na época do senhor João Francisco António José Bento Bernardo, mais conhecido por D. João V O Magnânimo.

Pois é verdade: este nosso rei teve de enfrentar diversos problemas, tais como conflitos de trabalho (vejam bem que, afinal, estes não são apanágio dos nossos pobres políticos de hoje)…insubordinação de nobres e…eis o ponto, perturbações na disciplina conventual!

Mas colhe tempestades quem semeia ventos…

É que este nosso conspícuo Rei perdeu-se de amores por uma pobre freira, Madre Paula de seu nome, que frequentemente visitava no convento de Odivelas. Dessas visitas nasceram os chamados "meninos da Palhavã", para quem mandou construir um palacete aqui em Lisboa, que serve hoje de Embaixada aos nossos “hermanos”…

Aliás dizia-se de D. João V que era tão religioso que todas as suas amantes eram freiras…fraquezas, meus amigos, que eu aqui não estou a atirar pedras a ninguém...

Ora, destaquemos apenas os filhos “ilegítimos” (se o meu antigo Prof. de Direito da Família, Pamplona Corte-Real me lesse, desancava-me já em comentário…era e é muito pós-moderno…)

1. D. Maria Rita, filha de D. Luísa Clara de Portugal, que nasceu e morreu em data que se ignora. Foi monja do Convento de Santos, em Lisboa, e conhecida como a “Flor de Murta”.

2. D. António, nascido nesta nossa cidade de Lisboa, a 1 de Outubro de 1704; aqui falecendo a 14 de Agosto de 1800; foi sepultado no claustro do S. Vicente de Fora; filho de uma francesa e um dos três “Meninos de Palhavã”, por ter sido criado neste palácio.
Foi reconhecido em 1742, tendo obtido o grau de doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra. Esteve desterrado no Buçaco, por ordem de Pombal, de 1760 a 1777.

3. D. Gaspar, nascido em Lisboa, a 8 de Outubro de 1716; falecido em Braga, a 18 de Janeiro de 1789; filho de D. Madalena Máxima de Miranda. Foi o segundo “Menino de Palhavã”. Exerceu o múnus de arcebispo de Braga, de 1758 à data da sua morte.

4. D. José (nascido em Lisboa, a 8 de Setembro de 1720; falecido nesta a 31 de Julho de 1801; sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora); ora aqui “bate o ponto”: filho da tal Madre Paula, freira em Odivelas. Chamado o mais jovem “Menino de Palhavã”, foi doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra e inquisidor-mor em 1758. Esteve desterrado no Buçaco, com seu irmão D. António, de 1760 a 1777.

(de referir a ajuda prestimosa da “minha” História de Portugal favorita – a de Joaquim Veríssimo Serrão, no caso, volume v - A Restauração e a Monarquia Absoluta (1640-1750), da Verbo. É que este não é daqueles historiadores que colocam avental para escrever…”topam, não topam?”…


Bem, com estes exemplos, é claro que o ambiente nos claustros não seria o mais propício à meditação à mortificação e à abstinência…


Mais a sério, os exemplos vêm sempre de cima, bons ou maus: se as classes dirigentes (ai o “pessoal ortodoxo”!...) não são um exemplo de honestidade e de probidade, adeus minhas encomendas!


Nos dias de hoje, já ninguém é obrigado a entrar para uma ordem religiosa, ao contrário do passado: tantas e tantas vezes, as raparigas eram verdadeiramente forçadas, por causa da legítima dos filhos varões, a entrar nos conventos…

Hoje, a vida consagrada tem outra dimensão: ela é composta por homens e mulheres que se sentem verdadeiramente chamados por Deus e que respondem ao convite do seguimento radical de Jesus Cristo: imitam a Sua vida, procurando testemunhar o absoluto de Deus e sublinhar a transitoriedade das coisas terrenas.

Mas também aquelas Ordens mais activas, nos dias de hoje, dedicam-se à divulgação da cultura, da educação, da saúde, no cuidado dos mais pobres.

Eu conheço muitos, e dou-vos, caros amigos, este testemunho.

O texto já deve ir longo…A Kami que me perdoe.

Quero agradecer a cartinha que veio pelas mãos generosas do nosso MCR; cá fica arquivada, no “disco rígido”.

Que venham muitas mais: servem de pretexto para estar aqui à conversa.

Do vosso,

dlm/c-m

12 comentários:

o sibilo da serpente disse...

E eu que ainda um destes dias falava no meu amigo jornalista que queria tirar-me do convento para ir até ao Iraque. Ora, no convento é que se está bem, diz-nos a história pela mão atenta de DLM. Realmente, as freiras devem ser um filão. E eu que não tinha pensado nisto...

C.M. disse...

Foi chão que deu uvas, caro carteiro...chão que deu uvas...

o sibilo da serpente disse...

Hum! Ok, se me diz, recuo...

M.C.R. disse...

Carteiro amabilíssimo
Eu sei que pequei ao esquecer referir-me a si na carta da prima que, a pedido desta, aqui pus mais em baixo.
Todavia, eu referia-me a si. Só que... graças à minha extraordinária inabilidade o primeiro texto perdeu-se por razões que não descortino: lá se dizia, preto no branco, que não só não queria pescar em águas alheias (as do Carteiro) mas cominava mesmo a minha relapsa prima a dirigir-se a Si da próxima vez.
Pensando melhor, ainda bem que o texto se perdeu: V. anda "mui alevantado" de carnes e humores...
ah ah ah


DLM: 1 suponho que só V poderá absolver-me do pecado de usurpação de funções.
2. Belo texto!

C.M. disse...

totalmente absolvido...

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Caro Cabral-Mendes, convido-o a ler a História de Portugal coordenada por José Mattoso (que não usa avental...).
Não tem tanto factualismo e não está tão presa a datas e acontecimentos, mas dá um enquadramento e uma contextualização que a obra de Veríssimo Serrão não permite obter. E olhe que tenho as duas obras.

C.M. disse...

JCP, obrigado pela dica. Claro que conheço o autor mas não a sua obra. Para mal dos meus pecados, tenho outra História de Portugal cá em casa: a de, imagine... A.H. de Oliveira Marques!! Não gosto, pronto!

Mas JCP, aguçou-me o apetite; procurei na net a obra de José Mattoso, mas não consigo saber qual a editora: poderá dizer-me?
obrigado.

Sabe que eu adoro a História de Portugal, mas isso não implica que saiba muito acerca dela. Quem me dera!

M.C.R. disse...

Tente a Estampa ou o círculo de leitores. DLM.

C.M. disse...

Ai este meu amigo MCR sempre atento!

Muito obrigado, querido Amigo!

o sibilo da serpente disse...

O JCP fecha a "loja" no final das 6ªas feiras ao fim da tarde e só abre à 2ª de manhã. No interim, não vale a pena perguntar nada...

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Caro Cabral-Mendes, a minha edição é a do Círculo de Leitores.

C.M. disse...

Obrigado a todos, pelas dicas...vou mesmo ver essa edição. Calha bem, que até devo estar a receber um cheque de desconto da Bertand...e encomendo a dita história...