cresce-me das mãos
cresce-me das mãos o poema.
não sei bem como acontece
a transformação do olhar
num abismo de interrogações
sobre as pernas da vida:
onde nos levam?
as palavras nascendo
a carregarem-me o sonho,
a fazerem-me mais do que sou.
e sonho porque sou mulher,
porque sou humana sonho.
e caminho entre a morte
e a paixão como se fossem terrenos conhecidos.
são estas palavras a surgirem-me das mãos,
esta loucura mansa
a desorientar-me.
já não sei se sou eu, se sou elas,
e me amedronto e rio e caminho pelas ruas
cantando amorosamente.
olhando ternamente as nuvens, a cidade.
e me apaixono pelo mundo,
e o dia se levanta sem que a vida perceba.
vem a noite invadir os corpos, as casas.
as casas precárias.
e vozes precárias murmuram,
não sabem falar,
o amor é-lhes interdito?
mas o poema sai-me das mãos,
diz bom dia ao meu amor
que já não sabe.
e dirá depois, boa noite.
lamento pelos que não sabem
ver a palavra, esta invenção atual
e a sua antiquíssima existência.
lamento pelos que não vêem
o amor, a invenção dele a cada minuto,
sua história, remota como homens e mulheres.
lamento pelos que não sabem o beijo
a cantar nas nossas bocas e línguas,
a caminhar pelos corpos,
e nos ressurgir nos dedos :
poema.
silvia chueire
21 março 2006
Porque é Dia Mundial da Poesia
Marcadores: Poesia, Sílvia Chueire
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
querida Sílvia
Sabia que há um belo livro de versos chamado "A invenção do amor"?
Se não o conhce mande-me o seu endereço que eu terei muito gosto em oferecer-lhe. é uma paga pelos seus versos.
Não sabia não. Eu envio sim o meu endereço, terei prazer em receber o seu presente, não como paga ( que nem é para tanto), mas como gesto de amizade. : )
E de conhecer o livro, claro.
Abraço,
Silvia
Sílvia o seu livrinho já foi comprado numa livraria que só vende poesia e teatro (Chama-se Poetria). Venha daí o endereço, rapido que o livro querandar de avião...
Oba! : )
Envio-o por mail, já, já... : )
Beijos,
Silvia
Enviar um comentário