Em Coimbra menino e moço vergado ao peso da literatura
Aportei à Coimbra de lavados ares quatro vezes nesta vida que já leva uns anos redondos. Eu explico: nasci por acidente em Coimbra, trazido de supetão, ainda no ventre de minha mãe, da Figueira, mais precisamente do Cinema Peninsula onde, ao oitavo mês de gravidez, lhe rebentara o saco das águas; no fim dos meus doze anos, voltei a Coimbra para continuar a estudar no liceu, visto que na Figueira só havia o primeiro ciclo. Felizmente ainda nesse ano fomos para África onde me diverti que nem um cabinda.
Os meus pais, coimbrinhas convictos, acharam que fazer o terceiro ciclo dos liceus na pecaminosa Lourenço Marques, longe de Nampula e deles, sozinho num mundo de praias, turistas inglesas e boers e perdições várias, seria tentar o diabo. Vai dai, mandaram-me para Coimbra (abramos aqui um parêntesis para dizer que os pais, todos os pais, são de uma ingenuidade aterradora) e, claro está que dei com os burrinhos na água pois as notas dos dois primeiros trimestres estavam no ponto critico e balançavam assustadoramente para um chumbo a alemão. Zás: internato anexo ao liceu de Braga para ver se as coisas se compunham.
Finalmente, e pela última vez (espero) regressei a Coimbra nos alvores de sessenta para frequentar a Faculdade de Direito. Ponhamos que é esta a vez que conta, dado que as três primeiras foram episódicas e de curta duração.
Amesendei-me numa honesta pensão que, para os parâmetros coimbrões, era mesmo luxuosa. Aí conheci um par de amigos para a vida fora, e mais um que, volta e meia, quando menos o espero, aparece, toma um café comigo, recorda sempre as mesmas histórias: encontrámo-nos logo no dia de chegada, à mesma mesa, caloiros receosos da praxe e dos novos ambientes a que vínhamos. Tenho sempre prazer em vê-lo e ao mesmo tempo um frio terrível na espinha: não sei o nome dele, andámos para aí trinta anos sem nos vermos, e não queria ofendê-lo, ó pá afinal qual é a tua graça? Não imaginam os truques que já usei para saber como é que o tipo se chama mas nada!
Mas voltemos ao nossos trabalhos: rapidamente nessa pensão passei para uma mesa de oito pessoas onde entre outros conheci o herói da história de hoje: João Quintela, alto, grande desengonçado trunfa de filosofo, bem disposto, culto e vadio. Andava em Histórico-filosóficas depois do primeiro chumbo em Direito. Convém dizer que 99% da população de Histórico-filosóficas vinha dos Gerais espavorida com os professores e o curso de Direito. Aliás não conheço nenhum licenciado nestas matérias (e de alguma idade claro) que não tenha feito o seu tirocínio em Direito.
Ao fim de uma semana, o João, o Pedro Sá Carneiro, o Gunderico e mais dois ou três onde eu me incluía, já não nos largávamos. E a coisa foi em tal crescendo que entendemos todos que o João tinha de se mudar para a nossa pensão ou, pelo menos, para casa perto, pois ele queixava-se que a casa onde pernoitava era demasiado longe. E, contas feitas, nem sequer era mais barato viver numa casa particular e comer na nossa pensão. E a liberdade (ó palavra amável!) era outra. E aprazou-se o mês de Novembro, dia 1, para a vinda do João para a nossa beira. O problema principal consistia, segundo ele, na trasfega dos seus pertences, uns livros, a roupinha, e uma cadeira de braços dita de aviador, coisa grande de difícil carrego em táxi. Aliás a palavra táxi nem foi pronunciada. Estudante que se prezasse andava à pata, maxime de eléctrico ou à boleia.
Ofereci-me para o ajudar. Ao fim e ao cabo ele não morava assim tão longe. Era uma rua de Montes Claros que não distaria dos Arcos do Jardim mais que dois ou três quilómetros. Combinámos mesmo que faríamos percurso mais ou menos directo que evitaria a vergonha de passar pela Praça da Republica, centro estudantil por excelência, e que tomaria umas ruas calmas rodeando o jardim da Sereia e a Penitenciária e desembocando no topo norte dos Arcos. Trajecto discreto para quem não queria ser visto ajoujado a um par de malas e uma cadeira enorme de aviador.
O que o João não tinha dito era que os livros (em duas malas descomunais) pesavam que nem chumbo de tantos que já eram. Sopesadas as malas, observada a cadeira, concluímos que a nossa viagem requeria várias etapas para descansar e para mudar os carregos. Assim a pessoa que trouxesse as malas, sentar-se-ia no cadeirão durante os altos da viagem. Depois, mais descansado, de cadeira às costas, retomaria a viagem divertindo-se com o andar cambaleante do parceiro que transportava os dois malões.
E assim fizemos. Com uma pequena variante. Dois garotos que brincavam numa esquina ficaram fascinados com o nosso duo e resolveram seguir-nos. Quando atravessámos a rua Lourenço de Almeida Azevedo já eram sete e por alturas da Penitenciária eram onze, numero máximo atingido que, de qualquer modo, julgo ser um recorde na hipótese, aliás improvável, de mais dois maduros terem feito percurso semelhante e com carregos idênticos. Claro que este cortejo, lento e com paragens, ruidoso devido ao chilreio da garotada e ás nossas invectivas, despertou natural curiosidade nas ruas por onde passávamos. Descobrimos que casa sim, casa não, tinha raparigas estudantes hospedadas que vinham em enxames às janelas, ver o espectáculo, rir à gargalhada, apontar-nos a dedo, enfim uma troça pegada que dói quando se tem dezoito anos e se esta(va) num pais bisonho, feio e triste. Aliás a notícia desta caravana estapafúrdia correu mais depressa do que o nosso caminhar lento e cansado. Em chegando aos Arcos do Jardim, já lá estava, em pleno, o pessoal da pensão, com o Gunderico sentado numa cadeira que trouxera do seu quarto. Malta das casas mais próximas (entre eles o João Amaral) acorria em bando e os estudantes da república Ay-Ó-Linda mobilizaram uma dúzia de caloiros para nos prestarem honras militares. A coisa foi ao ponto de se organizar um jogo de futebol entre o bando de garotos do nosso séquito e os infelizes caloiros, meus colegas quase todos, sob a arbitragem do Mor da republica já citada. Para vergonha da universidade vetusta e da cultura em geral, os putos ganharam por dois a zero. E mais ganhariam se não tivesse entretanto aparecido uma patrulha da polícia que pôs fim ao jogo que se desenrolava em pleno largo dos Arcos do Jardim com notórios inconvenientes para a circulação de viaturas e peões (sic). Resta-me a alegria de saber que quem pagou a multa foi a malta da república, dado ser do conhecimento público ter sido ela a instigadora e o seu Mor o árbitro do jogo.
Bem feito!
E os livros perguntará alguma eventual (se as há) freguesa desta coluna? Pois li-os quase todos com farto proveito próprio e idêntico prejuízo no estudo do Direito.
Permitam-me os habituais e escassos leitores que me aturam com beneditina paciência que dedique esta á memória de João Granjo Pires Quintela: Amigos iguais felizmente h(aver)á; melhores nunca!
E como o João tinha um coração enorme e não pedia exclusivos, gostaria de dedicar esta tambem aos colegas de blogue, comentadores e leitores que passaram por Coimbra. Eles saberão apreciar esta história pois como diz o Palito Métriconos quoque gens sumus et bene cavalgare sabemus. Salve companheiros!
Os meus pais, coimbrinhas convictos, acharam que fazer o terceiro ciclo dos liceus na pecaminosa Lourenço Marques, longe de Nampula e deles, sozinho num mundo de praias, turistas inglesas e boers e perdições várias, seria tentar o diabo. Vai dai, mandaram-me para Coimbra (abramos aqui um parêntesis para dizer que os pais, todos os pais, são de uma ingenuidade aterradora) e, claro está que dei com os burrinhos na água pois as notas dos dois primeiros trimestres estavam no ponto critico e balançavam assustadoramente para um chumbo a alemão. Zás: internato anexo ao liceu de Braga para ver se as coisas se compunham.
Finalmente, e pela última vez (espero) regressei a Coimbra nos alvores de sessenta para frequentar a Faculdade de Direito. Ponhamos que é esta a vez que conta, dado que as três primeiras foram episódicas e de curta duração.
Amesendei-me numa honesta pensão que, para os parâmetros coimbrões, era mesmo luxuosa. Aí conheci um par de amigos para a vida fora, e mais um que, volta e meia, quando menos o espero, aparece, toma um café comigo, recorda sempre as mesmas histórias: encontrámo-nos logo no dia de chegada, à mesma mesa, caloiros receosos da praxe e dos novos ambientes a que vínhamos. Tenho sempre prazer em vê-lo e ao mesmo tempo um frio terrível na espinha: não sei o nome dele, andámos para aí trinta anos sem nos vermos, e não queria ofendê-lo, ó pá afinal qual é a tua graça? Não imaginam os truques que já usei para saber como é que o tipo se chama mas nada!
Mas voltemos ao nossos trabalhos: rapidamente nessa pensão passei para uma mesa de oito pessoas onde entre outros conheci o herói da história de hoje: João Quintela, alto, grande desengonçado trunfa de filosofo, bem disposto, culto e vadio. Andava em Histórico-filosóficas depois do primeiro chumbo em Direito. Convém dizer que 99% da população de Histórico-filosóficas vinha dos Gerais espavorida com os professores e o curso de Direito. Aliás não conheço nenhum licenciado nestas matérias (e de alguma idade claro) que não tenha feito o seu tirocínio em Direito.
Ao fim de uma semana, o João, o Pedro Sá Carneiro, o Gunderico e mais dois ou três onde eu me incluía, já não nos largávamos. E a coisa foi em tal crescendo que entendemos todos que o João tinha de se mudar para a nossa pensão ou, pelo menos, para casa perto, pois ele queixava-se que a casa onde pernoitava era demasiado longe. E, contas feitas, nem sequer era mais barato viver numa casa particular e comer na nossa pensão. E a liberdade (ó palavra amável!) era outra. E aprazou-se o mês de Novembro, dia 1, para a vinda do João para a nossa beira. O problema principal consistia, segundo ele, na trasfega dos seus pertences, uns livros, a roupinha, e uma cadeira de braços dita de aviador, coisa grande de difícil carrego em táxi. Aliás a palavra táxi nem foi pronunciada. Estudante que se prezasse andava à pata, maxime de eléctrico ou à boleia.
Ofereci-me para o ajudar. Ao fim e ao cabo ele não morava assim tão longe. Era uma rua de Montes Claros que não distaria dos Arcos do Jardim mais que dois ou três quilómetros. Combinámos mesmo que faríamos percurso mais ou menos directo que evitaria a vergonha de passar pela Praça da Republica, centro estudantil por excelência, e que tomaria umas ruas calmas rodeando o jardim da Sereia e a Penitenciária e desembocando no topo norte dos Arcos. Trajecto discreto para quem não queria ser visto ajoujado a um par de malas e uma cadeira enorme de aviador.
O que o João não tinha dito era que os livros (em duas malas descomunais) pesavam que nem chumbo de tantos que já eram. Sopesadas as malas, observada a cadeira, concluímos que a nossa viagem requeria várias etapas para descansar e para mudar os carregos. Assim a pessoa que trouxesse as malas, sentar-se-ia no cadeirão durante os altos da viagem. Depois, mais descansado, de cadeira às costas, retomaria a viagem divertindo-se com o andar cambaleante do parceiro que transportava os dois malões.
E assim fizemos. Com uma pequena variante. Dois garotos que brincavam numa esquina ficaram fascinados com o nosso duo e resolveram seguir-nos. Quando atravessámos a rua Lourenço de Almeida Azevedo já eram sete e por alturas da Penitenciária eram onze, numero máximo atingido que, de qualquer modo, julgo ser um recorde na hipótese, aliás improvável, de mais dois maduros terem feito percurso semelhante e com carregos idênticos. Claro que este cortejo, lento e com paragens, ruidoso devido ao chilreio da garotada e ás nossas invectivas, despertou natural curiosidade nas ruas por onde passávamos. Descobrimos que casa sim, casa não, tinha raparigas estudantes hospedadas que vinham em enxames às janelas, ver o espectáculo, rir à gargalhada, apontar-nos a dedo, enfim uma troça pegada que dói quando se tem dezoito anos e se esta(va) num pais bisonho, feio e triste. Aliás a notícia desta caravana estapafúrdia correu mais depressa do que o nosso caminhar lento e cansado. Em chegando aos Arcos do Jardim, já lá estava, em pleno, o pessoal da pensão, com o Gunderico sentado numa cadeira que trouxera do seu quarto. Malta das casas mais próximas (entre eles o João Amaral) acorria em bando e os estudantes da república Ay-Ó-Linda mobilizaram uma dúzia de caloiros para nos prestarem honras militares. A coisa foi ao ponto de se organizar um jogo de futebol entre o bando de garotos do nosso séquito e os infelizes caloiros, meus colegas quase todos, sob a arbitragem do Mor da republica já citada. Para vergonha da universidade vetusta e da cultura em geral, os putos ganharam por dois a zero. E mais ganhariam se não tivesse entretanto aparecido uma patrulha da polícia que pôs fim ao jogo que se desenrolava em pleno largo dos Arcos do Jardim com notórios inconvenientes para a circulação de viaturas e peões (sic). Resta-me a alegria de saber que quem pagou a multa foi a malta da república, dado ser do conhecimento público ter sido ela a instigadora e o seu Mor o árbitro do jogo.
Bem feito!
E os livros perguntará alguma eventual (se as há) freguesa desta coluna? Pois li-os quase todos com farto proveito próprio e idêntico prejuízo no estudo do Direito.
Permitam-me os habituais e escassos leitores que me aturam com beneditina paciência que dedique esta á memória de João Granjo Pires Quintela: Amigos iguais felizmente h(aver)á; melhores nunca!
E como o João tinha um coração enorme e não pedia exclusivos, gostaria de dedicar esta tambem aos colegas de blogue, comentadores e leitores que passaram por Coimbra. Eles saberão apreciar esta história pois como diz o Palito Métriconos quoque gens sumus et bene cavalgare sabemus. Salve companheiros!
5 comentários:
Ahahahah! Isto parece uma historieta do Trindade Coelho dos Meus Amores.
Também eu conheço esse percurso e essa calçada que ladeia a Penitenciária e circunda a Sereira, foi muitas vezes percorrida com o cansaço do tédio.
O que me alegrava em Coimbra nem eram as aulas do Orlando, estimado Professor já falecido; e muito menos as do Vital Central ( cáspite, ó gens!). E as notas foram sempre um remedeio para passar.
O que me alegrava em Coimbra era o tempo! Os anos setenta passaram por mim, como um cometa que trouxe o que de melhor podia trazer: o entusiasmo das descobertas intelectuais; uma certa rapariga e outra e mais outra, que me deram a noção de amor arrebatado e eterno que infelizmente foi passando para a efemeridade, como tão bem a descreve o poeta António Feijó, de Ponte de Lima, no celebrado O Amor e o Tempo.
Coimbra foi isso, para mim.
Mas a narrativa que leio agora é digna de uma passagem pelos Meus Amores, como disse.
Numa outra passagem pode ler-se a história do estudante estroina que no meio de uma trovoada homérica, como só em Coimbra acontece ( e , vá lá, em Foz Coa também), desafia o deus em que não acredita, subindo ao cucuruto de uma árvore e vociferando em plenos pulmões sacrílegos:
"Se Deus existe, que me fulmine já com um raio!"
COmo a infinita misericórdia de Deus, se manifestou naquele momento, poupando a vida ao blasfemo, concluiu então o desafiador:
Aqui a está a prova que Deus não existe!
sempre oportuno, Caríssimo josé, sempre oportuno.
com um senão: V cita e bem Trindade Coelho, escritor e intelectual de craveira muito esquecido. Só que não é aos "Meus amores" que quer fazer referência mas ao "In illo tempore" que para mim constitui o único grande livro de memórias da vida académica coimbrã.
Correctíssimo. Li os dois, numa colecção de livros de bolso da Europa-América ( quando se promovia a leitura com edições baratas e apelativas, sem programas oficiais) e só me lembro de citar Os meus amores, por...causa disso mesmo!
Também nem tenho bem a certeza se o episódio que contei aparece no In Illo Tempore.Há uns tempos( anos, já), dei-me ao trabalho de folhear o volumito a ver se encontraca a narrativa sacrílega e não encontrei, o que me faz suspeitar que nem é nesse volume que a história aparece e se calhar nem foi o Trindade Coelho ( que foi magistrado) quem o escreveu.
Já deu voltas ao bestunto para ver se me lembrava onde a li e ainda não descobri. A memória já não é o que era...
Tenho quase a certeza que é no 2in illo..." que vem esse episódio mas como não tenho o livro (que obviamente pertencia á biblioteca de meu pai "coimbrinha" fervoroso, que cantava fados, era adepto da Académica e tem, suponho, uns versos no Penedo... postos pela malta do curso dele. Curso esse que parece já não ter nenhum sobrevivente... sic transit...
a questão que põs do gosto pela leitura precisar ou não de estímulos é algo que me apoquenta. Eu nasci numa cvasa com livros. as pessoas liam, transmitiam o prazer da leitura aos outros, escreviam longas e saborosas cartas. eu mesmo confesso que escrevo cartas, se calhar é isso mesmo o que vou para aqui escrevendo, sei lá, vários (mas não todos...) dos meus primos são bons leitores, o meu irmão é um excelente leitor, tenho mesmo alguns parentes com fumaças de escritor que em dois casos são relativamente sérias ou sérias de todo em todo. A novíssima geração já não é assim tão leitora mas ainda ...aparent rari nantes in gurgito vasto... duvido bastante das campanhas oficiais, dos programas pró leitura, eu sempre considerei a leitura um dos grandes vícios solitários (ai se o DLM me lê esta...) e não vejp em que é que um program possa contribuir. Haja bibliotecas e livros baratos e professores inteligentes, amigos de ler, pouco presunçosos e talvez. agora a comissão das criaturas que por aí vi... tirante o facto de algumas serem pessoas excelentes não vejo mais nada senão areia nos olhos do cidadão
Sobre essa comissão de planeamento e fomento de leitores novos que comprem ou leiam livros, não tirei ainda a limpo o que pensar em definitivo.
Por um lado, parece-me evidente que é mais um tacho para uns tantos e uma oportunidade para as senhoras Alçadas da CAminho venderem mais uns volumitos, sendo certo que há uns anos eram quem mais vendia...
NO meu tempo, havia os cinco e os sete e mais alguns também, logo pela infância. Depois era o Júlio Verne impingido pelos "homens da carrinha da biblioteca" que era da Gulbenkian. Muita literatura ingurgitei aconselhada pelos experimentados bibliotecários que queriam obviamente manter o seu posto de trabalho com rendimento que dependia de números. Bem hajam.
No entanto, uma coisa devo confessar: ler livros a eito e sem jeito é o mesmo que ver filmes ou praticar outra actividade de lazer intelectual. Estimula o bem estar do espírito e abre umas luzinhas, mas creio que a maior luz de todas é a curiosidade e a consequente descoberta. Ora, a descoberta pode acontecer com um livro ou outro e isso não se programa oficialmente.
Lembro que no sítio onde andei quando era bem jovem estudante, cubmetiam os alunos a audição atenta e obrigada de sinfonias e peças musicais de grande fôlego.
Mesmo com guias ( o Padre Faria, por exemplo, um musicólogo de excepção e até compositor) a experiência era inútil. Só muito mais tarde descobri as belezas e encantos das sinfonias e erudições musicais.
Nos livros parece-me igual. Só com o tempo se descobre o que vale a pena e isso é experiência pessoal.
Como se chega lá, também não conheço guia certo embora ajude muito um professor, ou alguém que nos empresta um livro ou mostra um catálogo de interesses.
Mesmo assim, continuo céptico quanto à leitura a mascoto.
Seria muito melhor o ensino a mascoto, logo na primária, com a aprendizagem do mínimo pelo máximo denominador comum: ler, escrever e contar como deve ser e com regras básicas como dantes eram exigíveis.
Só isso, seria meio caminho andado para que os editores fossem depois mais felizes.
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