22 junho 2006

O Poeta da Melancolia

Por via do comentário do José no postal que antecede, e na expectativa da sua promessa de um texto sobre este grande poeta da melancolia, aqui deixo, nesta manhã, esse portentoso "Je te donne" - um hino ao Amor, com a música grandiosa de Beethoven, trabalhada por Ferré.

A poesia deste (também usou na sua música poemas de Baudelaire, Verlaine, Rimbaud e Apollinaire) faz-nos vir as lágrimas aos olhos; é a inexplicável nostalgia que se apodera de nós!...talvez por causa do que nos foi dado viver e por tudo aquilo que não nos foi dado viver; por vezes, até temos nostalgia do tempo que não vivemos...ele bem que falou da solidão, das mulheres, e da amizade que muitas vezes não existe.
Eis aqui a letra, em homenagem a Leo Ferre:

Les fleurs à inventer les jouets d'une comète
Les raisons d'être fou la folie dans ta tête
Des avions en allés vers tes désirs perdus
Et moi comme un radar à leurs ailes pendu
Des embruns dans tes yeux et la mer dans ton ventre
Un orgue dans ta voix chaque fois que je rentre
Des chagrins en couleur riant à ton chevet
Les lampes de mes yeux pour mieux les éclairer
Les parfums de la nuit quand ils montent d'Espagne
Les accessoires du dimanche sous ton pagne
Les larmes de la joie quand elle est à genoux
Le rire du soleil quand le soleil s'en fout
Les souvenirs de ceux qui n'ont plus de mémoire
L'avenir en pilules toi et moi pour y croire
Des passeports pour t'en aller t'Einsteiniser
Vers cet univers glauque où meurent nos idées
Des automates te parlant de mes problèmes
Et cette clef à remonter qui dit " je t'aime "
Un jardin dans ton cœur avec un jardinier
Qui va chez mon fleuriste et t'invite à dîner
Des comptes indécis chez ton marchand de rêves
Un sablier à ton poignet des murs qui lèvent
Des chagrins brodés main pour t'enchaîner à moi
Des armes surréelles pour me tuer cent fois
Cette chose qu'on pense être du feu de Dieu
Cette mer qui remonte au pied de ton vacarme
Ces portes de l'enfer devant quoi tu désarmes
Ces serments de la nuit qui peuplent nos aveux
Et cette joie qui fout le camp de ton collant
Ces silences perdus au bout d'une parole
Et ces ailes cassées chaque fois qu'on s'envole
Ce temps qui ne tient plus qu'à trois... deux... un... zéro

JE TE DONNE TOUT ÇA, MARIE !

11 comentários:

M.C.R. disse...

Boa malha, DLM, boa malha. Ferré, além de cantor extraordinário, era um grande poeta. Com P grande. Suponho que foi com esta Marie, uma italiana, que tive a honra e o enorme prazer de cear, em companhoa do poeta que nessa noite comeu bacalhau (ou assado ou á brás, não tyenho a certeza). Ah que noite, DLM, que noite que só acabou pela fresca alvorada...

C.M. disse...

Fantástico, MCR! Quanto eu adoraria ter estado nesse jantar!

Creio que nos "quentes setentas", assisti a uma palestra de Ferré na Faculdade de Letras de Lisboa, que ficava e fica em frente à de Direito (aquela onde havia "miúdas giras") e o anfiteatro estava apinhado! Já só tenho ideia de que foi um delírio!! Parecia um pai a dar conselhos aos miúdos…

É verdade, a Marie era italiana, casada com Ferré, e da qual teve uns filhotes, aqueles que se vêm na capa do disco “Je te donne”. Está a ver, aquela poesia toda que o levou até a casar, de aliança no dedo e tudo…ai aquele anarquismo…é só rebeldia da juventude…

Patrick disse...

je ne parle pas portugais...
Marie est Espagnole et non pas Italienne

Patrick
http://larbredupoete.free.fr/

M.C.R. disse...

Merci, Patrick!
Talvez eu tenho confundido a nacionalidade da mulher de ferré porque eles viviam em Itália, na Toscania. De todo o modo lembro-me bem dela mas como todos falávamos franc~es em honra da nossa visita (concerto memorável no Coliseu do Porto, organizado pela Delegação Regional do Norte da Secretaria de Estado da Cultura e pelo Instituto Francês. agora seria imposível: nenhuma destas estruturas existe no Porto!!!

Quanto ao casamento convem lembrar que eventualmente era essa a melhor maneira de Ferré defender economicamente a mulher e os filhos no caso de morrer entretanto...
As convicções não costumavam (nem costumam) suprir as exigencias da lei...mesmo se estas são, como no caso em apreço, burras e aviltantes para um livre pensador.

Patrick disse...
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Patrick disse...

voici une photo de Maria Cristina Ferré (née Diaz)

amitiés

Patrick

C.M. disse...

Merci, Patrick.

Pensei que era italiana. Com efeito, ela chamava-se Marie-Christine. Foi a sua terceira mulher. A anterior chamava-se Madeleine e foi muito importante na sua carreira.

Instalou-se definitivamente na Toscania com a Marie-Christine. Nasceu-lhe a Marie-Cécile em 1974, e a Manuella em Janeiro 1978.

Léo Ferré aí encontrou a paz de alma que só a vida em família, e no seio da natureza, pode dar…

Léo Ferré, Jacques Brel e Georges Brassens, foram considerados os pilares da canção francesa (existe uma bela foto, gigante, dos três, tirada em 1969, no café mexicano ou do México, ali na Avenida Dom Carlos, nesta cidade de Lisboa, claro…).

C.M. disse...

Em tempo:

Louis Aragon chegou a afirmar que "Il faudra réécrire l'histoire littéraire un peu différemment à cause de Léo Ferré".

M.C.R. disse...

Para ser ainda mais preciso a última mulher de Ferré era francesa de origem espanhola: Marie Christine Diaz, eventalmente filha de exilados políticos. Vou tentar ver melhor isto no site organizado pelo filho de Ferré

C.M. disse...

MCR, há-de mandar-me o link desse site...

M.C.R. disse...

DLM
leo-ferre.com (/memoire/accmem.html) penso que este resto não é importante. O site é da responsabilidade do filho e tem por título la memoire et la mer