O dia amanhece frio e nítido
nos meus olhos.
Saio da casa pisando cuidadosamente
para não acordar os que dormem
como se não estivessem prestes a acordar,
neste sol de outono;
luz e visão semi-adormecida do dia.
Tantos passos
ao longo dos anos,
tantas perguntas.
Caminho à beira mar,
a maresia a umedecer-me o corpo.
O mar responde ondas e ondas
onde há perguntas.
E se repete.
Sempre.
O mar é o mundo, atlântico, no qual vôo,
ou mergulho minha inquietude
e esta falta.
As pessoas correm
a alcançar o tempo.
O menino aturdido
exibe os olhos baços de cola
que mal acordaram para o dia.
Assisto o dia estabelecer-se
em pensamentos vagos.
Passaram-se anos desde o primeiro passeio
de mãos dadas comigo,
os olhos escancarados para a vida.
O tempo nos dá voltas.
Tudo foi ontem,
ou será amanhã ?
O que é feito do tempo,
assobio agudo de menina
a correr pela praia ?
Tanto afeto,
tantas palavras.
São os mesmos homens e mulheres
e seus desacertos afogados entre paredes.
As palavras ásperas ou doces
a reverberarem no domo da cidade.
Caminho os mesmos passos
e uma enormidade de fatos
no lapso entre um e outro movimento dos meus pés.
Nosso tempo não muda,
morremos a cada riso,
a cada gesto amoroso,
a cada palavra irada.
Ando pela praia com os braços cheios de perguntas,
a vida colada aos olhos.
A vida e o poema.
O poema se move como um felino,
de coisa, para coisa,
de ato, para ato,
de pessoa para pessoa.
Sempre o senti, nunca pude escrevê-lo.
Quero a canção viva.
Cantar firmemente
tantos anos depois como fazia antes,
quando ignorava que não só me dirigia à luta,
mas ao encontro silencioso de mim mesma,
do único momento
no qual a vida é absolutamente nossa.
Agora sei.
Quero esta canção completa,
lúcida, vívida!
Silvia Chueire
Amigos, perdoem-me a ausência. Não podia mesmo estar por aqui.O poema aí acima é questionável, mas foi o que me deu vontade de trazer. Gosto de estar de volta. E preparem-se ,vou visitá-los em setembro ou outubro. : )
Abraços a todos. Muitos.
Silvia
24 junho 2006
Outra canção
Marcadores: Poesia, Sílvia Chueire
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1 comentário:
aspas!
O nicodemos ainda será de confiar mas os outros...
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