(a propósito do antecedente postal do Cabral Mendes)
Há muito que não ia a Ferragudo, aquela terrinha à beira da foz do Arade, que já foi só de pescadores e que, durante mais tempo do que seria de esperar (que não de desejar), via da janela do seu vasto horizonte o crescimento do betão na outra margem sem se deixar por ele invadir. Relembrava o Sudeste, uma tasca à beira rio, onde se comia bom peixe assado (sim, assado, que é como em "algarvio" se diz grelhado no carvão...) em mesas colocadas a esmo por entre aparelhos de pesca, a suave fresca marinha a fazer esquecer a canícula diurna, as luzes de Portimão, na outra margem, quase a levar-nos ao olvido da fealdade do seu “skyline”...
Voltei agora para reencontrar amigos que, vindos de pontos tão distantes como Cidade do Cabo e Moscovo, numa feliz coincidência se encontravam, por estes meus dias algarvios, a retemperar energias na zona da esquecida Ferragudo, onde apetece dizer ao vento poemas de Nuno Júdice, também ele refugiado ali mesmo ao lado, na Mexilhoeira Grande.
A terrinha apresenta-se agora "de cara lavada": estacionamento ordenado, um "calçadão" à beira rio onde antes era terra batida, o Sudeste travestido de restaurante, enfim o progresso, ainda que à custa de algum charme perdido...
A construção disparou, claro, mas não de forma excessivamente visível, pois se é verdade que as falésias estão semeadas de moradias, a sua pouca altura e a vegetação circundante continuam a evidenciar que, entre as duas margens da foz do Arade, hesitante em ser ainda rio ou fazer-se já mar e mar, há dois modelos de crescimento com filosofias bem distintas.
Mas uma surpresa maior esperava-me, a mim que, sendo completamente indiferente ao "tema Olivença", recebo de há muito e regularmente (vá lá saber-se como e porquê) correio electrónico do GOL (Grupo dos Amigos de Olivença). Maior surpresa ainda, pela nova coincidvncia, ao ler o anterior post do Cabral Mendes, pelo que não resisto a colocar aqui a fotografia que tirei a uma casa junto ao rio, não pela qualidade que manifestamente não tem, mas pelo inusitado e pela coincidência temática...
6 comentários:
Está a ver, Kami? Qualquer dia ainda avançamos para Castela...
Obrigado pela primeira fotografia, a dos barcos. Já fui muito feliz em Ferragudo, nos Caneiros, em Portimão, no Alvor, na Prainha.....que saudades.
Linda imagem. Quem me dera lá estar no final da tarde…
Em 1989, estive uma quinzena de férias numa moradia em Ferragudo. Era uma terra simpática, com o Arade e uma praia bonita.
Julgo que não voltei lá e, numa próxima investida, talvez mereça a pena espreitar Ferragudo.
Ferragudo ? Ai tempos aí passados, campismo selvagem, gente de vários sítios, um Algarve desconhecido e vazio peixe assado, vinho da Lagoa e uns banhos romanticos noite alta. Se o Carteiro lê esta não me larga...
Ai os anos sessenta... ai umas belgazinhas qui voulaient s'encanailler... e os portugas voluntários. homessa estamos aqui para o que der e vier. E uma noite com o Zeca Afonso vindo de Olhão (da restauração) a dizer-nos Ó malta vocês são uns debochados... E a malta doidissima a dizer "ó Zeca para de chatear o indígena pá". As férias do verão são férias de tudo até da política. E uma lampeirinha a levar o Zeca pelo beiço com a desculpa que queria aprender guitarra... E o Zeca que de guitarras sabia pouco... mas para o resto estava por ali...
Ó Kami V já parece a Sílvia quando faz aqueles versos... digamos... digamos que põem o das cinco chagas numa aflição...
Que beleza de lugar, Kami.
E o MCR se afligindo sozinho, : )
Abraços,
Silvia
PS: Ando com dificuldades de postar comentários aqui.Ontem então foi impossível.
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