Carlos Sousa conquistou a Câmara de Setúbal para a CDU em 2001, depois de liderar durante alguns mandatos a vizinha autarquia de Palmela. Os analistas diziam na altura que o prestígio pela obra realizada em Palmela contribuiu para retirar a Câmara ao PS, fragilizado pelos últimos anos da gestão de Mata Cáceres, que tinha conduzido o município de Setúbal para uma situação de ruptura financeira. Aliás, Setúbal e Marco de Canaveses são as duas autarquias do país que chegaram a uma tal situação financeira que tiveram que recorrer a um plano de reequilíbrio financeiro tutelado pelo Governo.
Nas eleições de 2005, há menos de um ano, Carlos Sousa foi reeleito como presidente da Câmara, embora sem conseguir repetir a maioria absoluta que conquistara quatro anos antes. Agora, de forma estranhíssima, o PCP sobrepõe-se à vontade e ao interesse dos eleitores de Setúbal, que deram a vitória a Carlos Sousa em Outubro do ano passado, e obriga-o a resignar, acompanhado de um outro vereador, entregando o poder a outro membro da vereação (ver aqui).
Carlos Sousa meteu o pé na poça? Prevaricou? Cometeu alguma ilegalidade? Como o PCP já garantiu que a decisão nada tem a ver com a investigação desencadeada pela IGATS às reformas compulsivas na autarquia, fica-se com a sensação, se nada de relevante for revelado, que Carlos Sousa, vítima dos controleiros do partido, desobedeceu aos ditames dos sectores mais ortodoxos e isso terá sido suficiente para que o obrigassem a afastar-se, como se o aparelho do partido se pudesse sobrepor ao escrutínio legítimo feito pela população setubalense.
E se a moda pega?
23 agosto 2006
Os controleiros no seu melhor
Postado por jcp (José Carlos Pereira)
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4 comentários:
Assim se vê como vão as liberdades políticas. E assim se vê como funciona um partido com paredes de vidro.
Tanto quanto percebi, o homem herdou uma Câmara falida. Tentou - pouco ortodoxamente - diminuir as despesas, reformando - com a anuência destes - vários trabalhadores. É este o crime?
Bem. Como sublinhas no teu post, Setúbal e Marco de Canaveses estão na mesma situação de ruptura financeira. Mas no Marco o que fez Manuel Moreira? Comprou um Audi A6, estoura o dinheiro em festas todos os fins de semana e não arranja uma lâmpada. Será que o PSD também vai tomar medidas?
Detesto controleiros. todavia penso que se um partido retira a confiança a um eleito nas suas listas este deve resignar.
Sou contra a passagem a independente, ou o que é pior a associação com outro partido para preservar o lugar. O sistema é este. quem se apresenta na cor de um partido cria uma dívida com esse partido. em Espanha esta questão tem sido muito debatida sobretudo devido ao "transfuguismo" que tem dado azo a escandalos tremendos. claro que no caso em apreço desconheço tudo, mas isso não me impede de entender que se o partido serve para eleger também serve para deseleger.
Caro MCR: isso da confiança política é uma coisa que não se pode generalizar. Quando fui vereador do PSD no Marco, o PSD local - por quem tinha sido eleito - também me retirou a confiança política. Na prática, porque eu decidi levar a sério o meu papel de oposição à ditadura, o que parecia não agradar ao PSD local. Entendi não me demitir, ainda que fosse a a atitude mais fácil e mais confortável.
Desta vez, não concordo com MCR. É certo que quem é eleito por um partido tem deveres para com o partido que o elegeu, de acordo com o que tiver ficado acordado entre as partes. Mas depois de passado o acto eleitoral, os eleitos ganham a legitimidade do voto popular, que não pode ser menorizada perante os interesses dos directórios partidários. O que é ainda mais evidente em eleições como as autárquicas, que são muito personalizadas nos cabeças-de-lista.
É claro que, neste caso, Carlos Sousa serve em primeiro lugar o PCP – foi autarca em Almada, em Palmela e em Setúbal. Ele próprio, ao longo dos anos, privilegiou os interesses do “colectivo”. E o “colectivo” agora virou-lhe as costas. Como é evidente, apenas no PCP é possível acontecer uma situação como esta.
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