Não tiro os meus olhos do mar,
não disponho as mãos geométricas,
calmas, sobre o colo.
Mantenha-se distante ,
diz o aviso em minha testa.
Não evitarei o lugar do corpo,
- o lugar natural ao qual ele pertence -
ou o da voz. Não evitarei a canção.
Não darei voltas ao redor
do óbvio : círculos são formas repetitivas.
Não navego no discurso vazio,
os dias são poucos e raros
para silenciar a fala
com a palavra vã.
Não renego o que digo
nem aceito arreios a atormentar-me os versos.
Não me dobram as noites longas,
cujo céu cresce, onda negra
no silêncio em torno.
O tempo não corre trajetos exatos,
amanhã cantarei a lua, o dia.
Não me cales as palavras
de qualquer ordem
- não me calarei para que durmas em paz,
não me importas.
Não as enfeito com lirismo
elas têm brilho próprio.
O poema é a matéria
que tenho nas mãos.
Silvia Chueire
07 setembro 2006
Não tiro
Marcadores: Poesia, Sílvia Chueire
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