17 outubro 2006

Au Boheur des Dames 36

A jornada portuense relatada a Madame Kamikaze
por mcr chauffeur de Madame Sílvia Chueire

Perdoarão as gentis leitoras que esta vá em forma de carta para Madame Kamikaze, aliás Lili Marlene, aliás hospedeira do ano. Razões, poucas mas substanciosas, como verão. Na verdade, a referida destinatária (gosto deste tom seco, indefinido, muito de auto de notícia ou de cursillo de formação, ou similar) estava em grande cuidado por não ter podido aproximar-se da capital do trabalho (ah, ah, boa esta, capital do trabalho...) tutelando os passos da nossa (do incursões) Cônsul Geral na praia de Ipanema e seu termo. Ou seja da Sílvia.
Fui testemunha, ainda que só de vista de telefonemas da Frau K. para a pupila. Pelas respostas adivinhavam-se as perguntas: estão a tratá-la bem?, o Carteiro ainda não fez propostas de alto teor lírico?, o mcr tem sido o chauffeur impecável que prometia?, têm-lhe dado de comer a horas decentes? E de beber? já lhe deram alguma coisa melhor do que o Mouchão (cfr Au Bonheur 35)?
Em suma, a coisa parecia um interrogatório de uma juíza de instrução a uma inocente testemunha em vias de se perder no meio de um grupo desordeiro, nortenho, de portistas fanáticos com a notável excepção de um navalista (de Naval 1º de Maio, essa mesma que ontem meteu uma seca ao Boavista em casa deste, desculpe lá senhor major mas a malta figueirense não ia vir por aí acima para ver as vistas...). Convém dizer que a Sílvia se portou bem, sem ceder aos cantos de sereia que lhe vinham de lá de baixo. Respondeu a tudo dizendo “bacana! Bacaníssimo” num brasileiro impecável estranhamente parecido com o português que usamos. Vejam lá o que a empatia é capaz de fazer.
Mas para que se faça luz definitiva sobre este derby Porto-Lisboa, deve ser aqui deixado relatório sintético da passagem do cometa Chueire pela cidade invicta.
Quem estas traça, encarregara-se com muito gosto de ir buscar a visitante vinda do outro lado do mar a Campanhã. Com a pressa esqueci-me de pôr boné e de lavar o carro. Desculpe lá Sílvia, foi o nervoso. De Campanhã para o hotel teve a nossa convidada possibilidade de conhecer uma cidade engarrafada e de verificar que o seu chauffeur não desdenha manobras perigosas, proibidas e de alto valor artístico. O passeio programado reduziu-se a ir do hotel da Bolsa até uma explanada do molhe para um “chopinho” e conversa porque o engarrafamento não mostrava sinais de cansaço. Nessa noite a Sílvia deu um recital na capela de Fradelos e alguns dos incursionistas tiveram o prazer de conhecer o leitor “Ferreira”. (Saravah, leitor amigo e atento! Mande a sua direcção para cá para na volta do correio lhe poder mandar uma separatinha que há tempos publiquei.). Cumpridas as funções poéticas fomos beber um copo a um dos múltiplos poisos do noctívago Carteiro. Pelo número de meninas que ele beijocou, ficamos a saber (já suspeitávamos...) que o cavalheiro é mais conhecido que a broa de Avintes e estimado na mesma ou em maior medida. Que inveja!
E já que se fala de broa, convém dizer que no sábado pela fresca matina foi a nossa convidada levada a conhecer uma verdadeira casa de pasto de Matosinhos para se bater com sardinha assada, broa e uns choquinhos grelhados. Como os convidantes eram dois (o próprio e o venerável Simas Santos, Manuelzinho para amigos, Sílvia incluída) não ficámos totalmente arruinados pelo animoso apetite que ela demonstrou.
Do jantar que reuniu a esmagadora maioria dos incursionistas nortenhos, verifico agora que ela própria já falou (acabo de ver no blog um texto da Sílvia que assim, à má fila me passa a palheta) que só peca numa coisa: esqueceu-se de referir o amável Carneiro, dono do restaurante que nos aturou até uma hora relativamente tardia.
Claro que a Sílvia ainda não percebeu porque é que a recebemos assim. Estas brasileiras são umas inocentes. A malta está já a consultar preços de avião, a estudar o calendário, a pedir informações meteorológicas sobre o Rio de Janeiro para em alegre excursão lá desembarcar e alojar-se, como está bem de ver, chez Sílvia, que os hotéis devem estar cheios e os restaurantes esgotados...

ps: Sílvia V ainda não partiu e já estamos com saudades!

6 comentários:

O meu olhar disse...

Caro MCR, com que então uma tasca em Matosinhos, com que então sardinha assada, broa e uns choquinhos grelhados… nada mau! A Sílvia deve ter ficado deliciada uma vez que nunca tinha provado sardinhas, pelo que entendi.

Quanto ao nosso animado debate de ideias na véspera espero que se mantenha. Quero dizer-lhe que é mais o que nos aproxima do que o que nos separa. Concordo com imensas coisas que defende. Não concordo com outras. Também se pensássemos todos da mesma maneira isto era muito monótono!...

o sibilo da serpente disse...

Oh, MCR, então não se viu que a forma carinhosa como me tratam no sítio é uma manifestação de saudades? É que, sendo eu um noctívago, como diz, não o sou porque saia muito - sou-o porque tenho insónias.
Mas também gostei das nossas incursões com a Silvia e todos os outros. E gostei muito da Silvia, claro. Mas isso ela já sabe, por muito que a sua forma de estar tão brasileira possa indiciar-lhe que sou distante. Não, não sou. Só pareço, sobretudo quando tenho de fazer um esforço para me manter acordado. :-)

M.C.R. disse...

Minha Cara "o meu olhar": eu tenho um fraco por mulheres bonitas, inteligente e animosas. Isto que já não é pouco diz pouquissimo do prazer que tive em debater consigo algo que nos preocupa a todos. Não ficaremos por aqui, claro até porque suspeito que estrategicamene estamos ambos num profundo acordo. Tacticamente foi o que se viu mas é assim que as coisas andam para a frente, argumento contra argumento dentro da amizade e do respeito mútuos.
Convém, se me permite dizer agora, que gostei muito do cavalheiro idoso e aposentado que estava a seu lado e que meteu de quando em quando a sua colherada,
As sardinhas de Matosinhos lá continuam gordas, frescas e portuguesíssimas da costa prontas a ser comidas. Isto não parece mas é um convite...

Carteiro duma cana!.... ( e mais não digo, porque a inveja sufoca-me)

Silvia Chueire disse...

Caro MCR,

Há coisas que não se esquece. E eu que tenho péssima memória para nomes, livros, citações, por outro lado tenho uma boa memória emocional, digamos.

E ainda que tenha escrito o último post focalizando o jantar, não me esquecerei do almoço na tasca em Matosinhos. A deliciosa sardinha assada que me foi apresentada, os choquinhos grelhados, a imperial bem gelada, e acima de tudo a companhia de pessoas agradáveis, inteligentes e calorosas como você, o Simas Santos e sua esposa e, claro a Grazie.Foi mesmo um prazer.

Nem hei de esquecer-me da sua recepção perfeita! Ou da noite passada na conversa à vontade( ah, gosto de conversas boas assim) consigo, o Carteiro , a "o meu olhar" (que tem mesmo um olhar expressivo e receptivo)e seu marido (uma simpatia) no famoso Triplex. : )

A Kamikaze e seu cuidado comigo, sua atenção, elegância, sutilíssima percepção das coisas e inteligência, e ainda as tantas coisas que descobrimos em comum, tem sido incansável. Terei orgulho, e digo isto emocionada, de mantê-la como minha amiga. Amiga dessas com A maiúsculo, que poderá contar comigo "para o que der e vier", como dizemos, por todos os anos que eu ainda venha a ter. Uma amiga muito, muito, querida.

Seu texto me fez sorrir pelo seu modo cheio de humor, dos bons. Mas isto não é novidade.

A novidade foi a acolhida de todos, não que eu não esperasse uma boa acolhida, mas esta tem superado em muito a minha expectativa. E muito!

Esta brasileira aqui espera ansiosa a oportunidade de retribuir o carinho de todos e depositar aos pés dos incursionistas, o Rio de Janeiro.

Meu grande abraço a você. Transmita-os a todos, sim?.

Silvia

Kamikaze (L.P.) disse...

O facto de o postal me ser endereçado deixa-me assim um pouco encabulada, como diria a Consul de Ipanema no Inc, mas ainda assim eu vou dizer o que sinto: bela e impressiva cronica, para mais carregada de humor! E o meu "retrato"! Um must, ah ah ah! Na mouche!

M.C.R. disse...

É para que saiba!