Estava este vosso criado num engano de alma ledo e cego, descansadinho, a acabar uma tradução gigantesca, quando a paz a que fez jus, se viu subitamente interrompida por uma carta ameaçadora do Tribunal de *** onde o notificavam que deveria comparecer hoje, no citado local, a fim de ser testemunha num processo que envolvia uma tal Deolinda que demandava uma Misericórdia do Norte.
Convém dizer que eu, Deolinda de que me lembre só uma: uma velhíssima criada (quando criada queria dizer serviçal, amiga, como era o caso e ligada até mais não ao “seu menino” – este marmanjola da colheita de 41! - a quem numa visita aí há sete ou oito anos depois de não me ver durante alguns cinquenta, disse “ai como o meu menino cresceu!” – Deixe-se disso Deolinda. Estou é velho, dê cá um beijo, dois ou três, uma dúzia, um quarteirão até, e conte-me como vai a neta campeã de patinagem artística, mulher de Deus! ) amiga da família para não dizer, e com muita honra, uma familiar.
E da Misericórdia, uma vez corridos os maus e restabelecidos os direitos dos bons, já não sabia há um bom ano.
Mais: no meu tempo, quando era necessário convocar uma testemunha, o advogado, prevenia, ou mandava prevenir, a criatura. No meu caso, tendo exercido durante uns anos a advocacia, mais se imporia essa pequena cortesia. Mas nada! Apenas o aviso de que se faltasse comia com uma multa. Vai daí, lá fui sob um temporal desfeito, pela fresca madrugada para ****. Uma vez chegado, consegui saber que era testemunha da Santa Casa de que fora representante judicial, como já disse. Ora aqui está, pensei, como a educaçãozinha não medra nestes locais mesmo quando lhes fizeste um favor dos gordos! O caso, ao que soube, era ainda mais inacreditável. Uma ex-empregada da Misericórdia demandava a instituição querendo, ao que sei, ser readmitida. Todavia, a mesmíssima empregada, despedira-se dessa instituição para trabalhar numa sociedade particular, autónoma, que em tempos, gerira (???!!!) o lar de idosos que a instituição tinha. Daí se despedira sem dizer água vai há três anos. E agora vinha pedir para re-ingressar nos quadros da Misericórdia. Não faço ideia do que alegava mas pelo andar da carruagem devia ser um coisa fina, finíssima! Como é que estas coisas acontecem, desconheço. Como é que um advogado lhes pega, idem, aspas, aspas. Como é que a Santa Casa se lembra de me pôr a testemunhar ainda menos, dado que os factos, a haver factos eram anteriores em dois anos à minha breve e justiceira intervenção, e a acção era posta em meados desde ano, seis meses depois de eu ter dito ao tribunal, à Misericórdia e ao senhor Bispo que já chegava de fazer fretes sozinho e de me ver sozinho quando as coisas estavam feias e acompanhadíssimo quando corriam de feição.
Quando consegui apanhar o advogado da Santa Casa, este, sem sequer se desculpar, disse-me que eu era essencial para provar que a Deolinda não era assalariada da Santa Casa (!!!) que não me contactara porque não sabia a minha direcção (!!!) que não me podia dispensar. Também não disse quem é que pagava os oitenta quilómetros feitos e a fazer, que as idas têm sempre uma volta, as portagens da auto-estrada, o tempo perdido em vão. Quando lhe comecei a murmurar algo mais grosso jurou-me que ia fazer os possíveis por me dispensar. Quando eu lhe disse, um pouco mais ao ouvido que era a autora que tinha de provar um vinculo laboral com a Misericórdia a menos que agora seja moda inverter-se o ónus da prova, olhou-me espantado.
A causa acabou por morrer na praia. A autora desistiu. Espero que o seu advogado também tenha desistido de ser pago. Eu, pela parte que me toca, desisti de receber o dinheirinho que este fait-divers me custou.
Esta historieta só vem aqui, à pequena praça pública do blog, porque em época de ataque à função pública, convém mostrar como funcionam os privados. No caso um senhor advogado que aceita uma causa sem pés nem cabecinha. E um outro que se esquece das mais elementares regras da educação e da cortesia. E uma instituição privada de solidariedade social que se esquece com grande rapidez dos momentos em que nenhum dos seus dirigentes se atrevia sequer a passar perto dos que lhes esbulhavam alegremente a instituição.
Se isto ocorresse com um qualquer serviço público caía o Carmo e a Trindade. Como é coisa que se passa virtuosamente entre privados é o que se vê. E o Tribunal, outro monstro horrível, que se aguente com esta gente que o usa quase impunemente. Durante uma manhã um juízo esteve impedido de funcionar. A culpa deve ser do juiz, do MP, ou da testemunha mcr. Sobretudo desta.
Nota que não tem nada a ver com isto. Então não é que um leitor meu que também exerce de leitor do João Vasconcelos Costa nos pôs em contacto? O João que eu não via há quilómetros… E tem um blog, aliás dois, óptimos! um para quem não faz dieta (www.gosto-comer.blogspot.com: um must, uma delicia, leitura obrigatória, prosa fresca e da boa, enfim um regalo. Leiam, sob pena de ileteracia violenta! Um outro: www.meubloconotas.blogspot. com. é farinha de outro saco, não menos branca mas mais para a pazada na cretinice dominante, enérgico e opinativo. Aqui à puridade, não me espanta. Este tipo prometia. Ah, também gosta do “couraçado potemkine” , do “sunset boulevard” e do “citizen Kane”. Falta-lhe “A regra do jogo” do Renoir e “A sede do Mal” do Welles para ser quase perfeito… Paciência!… Vão e vejam com os vossos olhos. Saravah João!
Convém dizer que eu, Deolinda de que me lembre só uma: uma velhíssima criada (quando criada queria dizer serviçal, amiga, como era o caso e ligada até mais não ao “seu menino” – este marmanjola da colheita de 41! - a quem numa visita aí há sete ou oito anos depois de não me ver durante alguns cinquenta, disse “ai como o meu menino cresceu!” – Deixe-se disso Deolinda. Estou é velho, dê cá um beijo, dois ou três, uma dúzia, um quarteirão até, e conte-me como vai a neta campeã de patinagem artística, mulher de Deus! ) amiga da família para não dizer, e com muita honra, uma familiar.
E da Misericórdia, uma vez corridos os maus e restabelecidos os direitos dos bons, já não sabia há um bom ano.
Mais: no meu tempo, quando era necessário convocar uma testemunha, o advogado, prevenia, ou mandava prevenir, a criatura. No meu caso, tendo exercido durante uns anos a advocacia, mais se imporia essa pequena cortesia. Mas nada! Apenas o aviso de que se faltasse comia com uma multa. Vai daí, lá fui sob um temporal desfeito, pela fresca madrugada para ****. Uma vez chegado, consegui saber que era testemunha da Santa Casa de que fora representante judicial, como já disse. Ora aqui está, pensei, como a educaçãozinha não medra nestes locais mesmo quando lhes fizeste um favor dos gordos! O caso, ao que soube, era ainda mais inacreditável. Uma ex-empregada da Misericórdia demandava a instituição querendo, ao que sei, ser readmitida. Todavia, a mesmíssima empregada, despedira-se dessa instituição para trabalhar numa sociedade particular, autónoma, que em tempos, gerira (???!!!) o lar de idosos que a instituição tinha. Daí se despedira sem dizer água vai há três anos. E agora vinha pedir para re-ingressar nos quadros da Misericórdia. Não faço ideia do que alegava mas pelo andar da carruagem devia ser um coisa fina, finíssima! Como é que estas coisas acontecem, desconheço. Como é que um advogado lhes pega, idem, aspas, aspas. Como é que a Santa Casa se lembra de me pôr a testemunhar ainda menos, dado que os factos, a haver factos eram anteriores em dois anos à minha breve e justiceira intervenção, e a acção era posta em meados desde ano, seis meses depois de eu ter dito ao tribunal, à Misericórdia e ao senhor Bispo que já chegava de fazer fretes sozinho e de me ver sozinho quando as coisas estavam feias e acompanhadíssimo quando corriam de feição.
Quando consegui apanhar o advogado da Santa Casa, este, sem sequer se desculpar, disse-me que eu era essencial para provar que a Deolinda não era assalariada da Santa Casa (!!!) que não me contactara porque não sabia a minha direcção (!!!) que não me podia dispensar. Também não disse quem é que pagava os oitenta quilómetros feitos e a fazer, que as idas têm sempre uma volta, as portagens da auto-estrada, o tempo perdido em vão. Quando lhe comecei a murmurar algo mais grosso jurou-me que ia fazer os possíveis por me dispensar. Quando eu lhe disse, um pouco mais ao ouvido que era a autora que tinha de provar um vinculo laboral com a Misericórdia a menos que agora seja moda inverter-se o ónus da prova, olhou-me espantado.
A causa acabou por morrer na praia. A autora desistiu. Espero que o seu advogado também tenha desistido de ser pago. Eu, pela parte que me toca, desisti de receber o dinheirinho que este fait-divers me custou.
Esta historieta só vem aqui, à pequena praça pública do blog, porque em época de ataque à função pública, convém mostrar como funcionam os privados. No caso um senhor advogado que aceita uma causa sem pés nem cabecinha. E um outro que se esquece das mais elementares regras da educação e da cortesia. E uma instituição privada de solidariedade social que se esquece com grande rapidez dos momentos em que nenhum dos seus dirigentes se atrevia sequer a passar perto dos que lhes esbulhavam alegremente a instituição.
Se isto ocorresse com um qualquer serviço público caía o Carmo e a Trindade. Como é coisa que se passa virtuosamente entre privados é o que se vê. E o Tribunal, outro monstro horrível, que se aguente com esta gente que o usa quase impunemente. Durante uma manhã um juízo esteve impedido de funcionar. A culpa deve ser do juiz, do MP, ou da testemunha mcr. Sobretudo desta.
Nota que não tem nada a ver com isto. Então não é que um leitor meu que também exerce de leitor do João Vasconcelos Costa nos pôs em contacto? O João que eu não via há quilómetros… E tem um blog, aliás dois, óptimos! um para quem não faz dieta (www.gosto-comer.blogspot.com: um must, uma delicia, leitura obrigatória, prosa fresca e da boa, enfim um regalo. Leiam, sob pena de ileteracia violenta! Um outro: www.meubloconotas.blogspot. com. é farinha de outro saco, não menos branca mas mais para a pazada na cretinice dominante, enérgico e opinativo. Aqui à puridade, não me espanta. Este tipo prometia. Ah, também gosta do “couraçado potemkine” , do “sunset boulevard” e do “citizen Kane”. Falta-lhe “A regra do jogo” do Renoir e “A sede do Mal” do Welles para ser quase perfeito… Paciência!… Vão e vejam com os vossos olhos. Saravah João!
1 comentário:
Ora bem. O blog do Gosto de bem comer é um lugar de frequência obrigatória para quem alguma vez tentou fazer um bife com um ovo a cavalo que soubesse a algo de espcial. Ou um arroz. Um risoto, por exmplo.
É um dos melhores blogs que conheço, nesse nível gustativo.
Um blog de alta cultura, portanto.
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