14 novembro 2006

fumo e fogo

Em Portugal, no que à criminalidade de colarinho branco respeita, onde não havia nem sombra de fumo, passou a haver constante fumarada. Fogo é que só mesmo nas florestas... mas isso é lá mais para o Verão, por isso calma pessoal, os bombeiros mais especializados e treinados já hão-de estar em campo, pelo que podemos ficar tranquilos - certamente hão-de estar a ser tomadas medidas preventivas e poderemos continuar a gozar da fama de sermos gente de brandos costumes, pese embora estas declarações, proferidas há poucos dias, pelo Director da PJ. Há muito que tarda o incêndio da pradaria... Eu, kamikaze, pirómana por natureza, apesar de tudo não consigo deixar de acalentar uma esperançazinha de que seja desta ...
Vem este relambório a propósito da notícia de capa no DN e no Público de hoje.

copy paste do DN:


Polícia Judiciária faz buscas em consórcio que ganhou o SIRESP

Eduardo Dâmaso, Licínio Lima e Carlos Rodrigues Lima

«O negócio de adjudicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), uma rede de comunicações que irá ligar entre si os principais organismos de socorro do País, está envolto em polémica. A Polícia Judiciária (PJ) procedeu a buscas na semana passada na Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a empresa que lidera o consórcio com que, a 3 de Julho passado, o Ministério da Administração Interna (MAI) assinou um contrato de 485 milhões de euros para a instalação daquele sistema. As autoridades suspeitam da prática dos crimes de corrupção e tráfico de influências neste caso.

O DN apurou que as buscas envolveram as restantes empresas do consórcio e que elas foram feitas no âmbito de um inquérito aberto há mais de um ano e dirigido em exclusivo por um magistrado, dos quadros de inspecção do Ministério Público, nomeado pelo ex-procurador-geral Souto Moura.

Esta iniciativa é explicada pelo facto de um dos eventuais arguidos no caso poder vir a ser o homem que viabilizou o concurso, Daniel Sanches, ex-ministro da Administração Interna e magistrado do Ministério Público que chegou a ser director do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). Esta iniciativa do então ministro foi assumida depois de um parecer jurídico oral positivo do magistrado Mário Gomes Dias, auditor jurídico do MAI e eleito na semana passada para o cargo de vice-procurador-geral da República (PGR).

Ainda no tempo do Governo de Santana Lopes, o então ministro das Finanças, Bagão Félix, e o ministro da Administração Interna, Daniel Sanches, assinaram o contrato de adjudicação por cerca de 600 milhões de euros. Isto aconteceu três dias após as eleições legislativas de 20 de Fevereiro. Os ministros adjudicaram, por despacho conjunto, o contrato de "concepção, projecto, fornecimento, montagem, construção, gestão e manutenção do sistema integrado de tecnologia trunking digital das redes de emergência e segurança de Portugal ao consórcio composto pelas empresas Motorola, PTVentures, SLN, Datacomp - Sistemas de Informática e Esegur - Empresa de Segurança". É o que consta do despacho 219/2005, assinado a 23 de Fevereiro

Antes de integrar o Governo, Daniel Sanches era administrador da Pleiade, uma sub-holding da SLN - holding que controla o Banco Português de Negócios (BPN). Dias Loureiro , ex-ministro da Administração Interna de Cavaco Silva e actual deputado do PSD, é administrador não executivo da SLN, um grupo presidido por Oliveira e Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva.

Na altura era Gomes Dias auditor jurídico no MAI - magistrado do Ministério Público que em Janeiro vai tomar posse como vice-procurador-geral da República, convidado por Pinto Monteiro, o actual PGR. Gomes Dias deu parecer positivo ao negócio, exarando em despacho que "a presente adjudicação se revela como acto de gestão corrente, em função da sua natureza imprescindível e inadiável, atendendo à imperiosa urgência de implementação, em tempo útil, do SIRESP".

O PS ganhou as eleições e António Costa assumiu a titularidade do MAI desconfiado dos contornos do negócio. Neste sentido, solicitou um parecer ao conselho consultivo da PGR e outros actos que levaram o Governo de José Sócrates a renegociar a adjudicação.

Através do seu parecer n.º 36/ 2005, votado em 28 de Abril de 2005, aquele conselho veio a concluir ser nulo o acto de adjudicação, por considerar que os seus autores, membros de um governo de gestão, em funções após a sua demissão, não seriam competentes para a prática do acto de adjudicação. Perante isto, o MAI declarou o negócio nulo.

A PGR, contudo, ressalvava que, à parte daquele pormenor, todo o negócio havia sido realizado segundo a lei em vigor. Neste sentido, António Costa manteve o acordo com o mesmo consórcio, mas este foi renegociado.

Assim, a 3 de Julho deste ano, foi assinado um novo contrato de adjudicação, desta vez por 485 455 000 euros , acrescido do IVA à taxa em vigor, repartida por 15 anos, com início em 2007.

Mas, para a PJ, nem tudo está ainda claro.
»


copy paste (excertos) do Público:

Suspeitas de tráfico de influências


António Arnaldo Mesquita e Mariana Oliveira


«A averiguação preventiva foi desencadeada na sequência da polémica gerada pela adjudicação do negócio, em Fevereiro de 2005, por 538 milhões de euros. Em causa estava o facto de o Executivo se encontrar em gestão corrente, na sequência da demissão de Santana Lopes do cargo de primeiro-ministro (...)

A averiguação preventiva daria, entretanto, origem a um inquérito, que Souto Moura decidiu que fosse investigado fora do DCIAP, nomeando como seu titular um dos mais antigos inspectores do Ministério Público, o procurador-geral adjunto Azevedo Maia. Este magistrado - que agora deverá apresentar os factos apurados ao novo procurador, Pinto Monteiro - ordenou, mais de um ano e meio depois da polémica, a realização de buscas àquelas empresas, para confisco de documentação relacionada com a adjudicação do SIRESP. (...)


A decisão dos, na altura, ministros Daniel Sanches e Bagão Félix apoiou-se num parecer oral do actual vice-procurador-geral da República, Gomes Dias, à data auditor jurídico do Ministério da Administração Interna (MAI).

Segundo um memorando, escrito pelo actual subsecretário de Estado da Administração Interna, Francisco Rocha Andrade, em Março de 2005, a primeira versão do despacho conjunto dos ministérios da Administração Interna e das Finanças não foi assinada por Bagão Félix, por este ter entendido, apoiado numa nota do seu gabinete, "que não estava justificada a urgência que possibilitaria a decisão de um governo de gestão". Um dia após as eleições legislativas, e até à assinatura do contrato, a situação inverteu-se, devido a um parecer "em que foi consultado o auditor jurídico do MAI [Gomes Dias], que verbalmente deu a opinião de que a adjudicação poderia ser feita por um governo de gestão", escreveu Rocha Andrade.

O ministro António Costa acabou, porém, por não anular integralmente o concurso, considerado viciado por alguns dos potenciais candidatos, que, por isso, não chegaram a apresentar propostas alternativas à do consórcio vencedor. E, em Maio, o actual Governo voltou a adjudicar o SIRESP ao único consórcio candidato, retirando algumas funcionalidades ao sistema, que desta vez custou 485,5 milhões de euros. »

2 comentários:

Primo de Amarante disse...

O DN, no meu entender, dá uma noticia mais completa.

Há uma questão quem tem sido escamoteada e que convinha ser aclarada: para além de relações empresariais, há relações familiares que cruzam as principais figuras do PS e do PSD. São compadres, têm filhos que casaram com as filhas do partido da “alternância” (talvez melhor, alternativa), passam férias juntos, frequentam os mesmos sítios, etc. E até as cotas já são aproveitadas para estender o polvo. É esta gente que nos governa, convida os seus amigos para dirigir importantes departamentos, gerir importantes empresas públicas, etc. Penso que a democracia se transforma cada vez mais numa oligarquia que entre si distribui o poder e colhe os proveitos. Até quando, não sei!

Kamikaze (L.P.) disse...

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=250446

"«Não sei nem nunca soube de nada. Nem era suposto saber», disse à Lusa Dias Loureiro a propósito das investigações realizadas a semana passada à SLN e a outras três empresas - Motorola, Esegur e Datacomp.

Dias Loureiro referiu ainda que não faz parte da SLN, negando a informação do Diário de Notícia, que refere que o antigo ministro é administrador não executivo da SLN.

O antigo ministro da Administração Interna explicou, no entanto, à Lusa que é presidente de uma empresa de componentes automóveis, detida em 50% pela SLN."