22 março 2007

Diário Político 44

À boleia de O’Neil no "país pátria de exílio"

1 Se o engenheiro sempre não era engenheiro
e a rapariga ficou com uma engenhoca nos braços;

2 o retrato do entediante partido é aquele: um cavalheiro, ao que sei, de “cor” insulta desbragadamente uma camarada e desculpa-se lapidarmente: não insultei e muito menos agredi. Só me atacam porque são racistas. Como diz o poeta:
"um imenso tempo perdido."

3 O sr. engenheiro Belmiro de Azevedo passa “à peluda”. Durante dois dias o infatigável “Público” questiona-se sobre o destino da sonae. Que há candidatos fortes, assevera. No dia da verdade, sai a surpreendente notícia: Azevedo sucede a Azevedo, no meio do geral aplauso dos “públicos” candidatos. E o “Público” realça, na última página que a promoção se deve aos altos méritos do promovido. Provavelmente será assim. Mas alguém com juízo esperava outra solução?
Leitor que me pede a história
que já traz engatilhada,...

4 Discute-se gravemente se o sr. Robert Mugabe deve ou não ser convidado a vir a Lisboa para a 2ª cimeira Europa-África. Um cavalheiro chamado Luís Amado, supostamente Ministro de um governo socialista, de esquerda, portanto, ao que consta, acha que a situação interna no Zimbabué não deve inviabilizar a reunião. Por outras palavras: está firme na intenção de convidar esse bandoleiro de médio curso que aterroriza um pais indefeso, prende e espanca os opositores, quando estes não desaparecem pura e simplesmente. O Zimbabué parecia rico e próspero. Agora parece pobre e arruinado. Não se trata de fazer a apologia do antigo regime doutro perigoso indivíduo chamado Smith (Ian Smith, não esqueçam este nome) mas apenas de verificar que a África teve dias maus e vai ter dias piores. Para quem gastou alguma mocidade a apoiar os condenados da terra isto é difícil de engolir. Ainda que se não caia no disparate do Beco da Mal-Amada:
se acha que a vida não é boa
utilize gás da Companhia
o combustível de Lisboa.”

5 O re-falado envelope nove continua na berlinda: ler os jornais é, além de penoso, agoniante. Ninguém acredita que houvesse alguém que não soubesse do conteúdo das cassetes. A culpa ia direita para um par de advogados manhosos e tudo morria enfim feliz, no terceiro e último acto. Mas isto não é um drama teatral, sequer uma comédia de boulevard. Apenas uma funçanata desempenhada por amadores que decoraram mal os papeis e de tão surdos nem sequer ouviram bem o “ponto”.
Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim

6 Finale sem brio:
Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
..........
se fosses só o sal, o sol, o sul
....
Portugal questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós.


Agradeço a boleia de mcr que me tem valido enquanto não dou com a solução de um problema que me não permite entrar no blog.
As citações são de poemas de Alexandre O Neil, respectivamente “Se”, “ Uma Lisboaremanchada”, “Inventário”, “Saber viver” e “Portugal”, publicados nos livros “No Reino da Dinamarca”, “Abandono Vigiado”, “Poemas com endereço” e “Feira Cabisbaixa”. Actualmente, os livros de O’Neil estão todos contidos em “Poesias completas” (Assírio & Alvim).
Este texto celebra propositada e tardiamente o dia da poesia. O título evoca também um outro grande poeta: Daniel Filipe.


d'Oliveira


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