Tenho o deplorável hábito de ler a jornalada de fim de semana numa esplanada frente ao mar. Basta um pingo de sol e aí estou eu, debaixo de um guarda sol a apurar o Público, o Expresso, o El País, o Le Monde e os suplementos literários dos dois últimos a que junto o do ABC. Isto dá-me para encher as manhãs de sábado e domingo.
No Porto, por uma questão de fidelidade, frequento a esplanada do Ferreira que foi praticamente a primeira que apareceu. Para os fins em vista serve perfeitamente. Além do mais, vejo alguns amigos igualmente fieis que não se deixaram seduzir pela concorrência mesmo se mais elegante ou mais design.
Em Lisboa ou, melhor, Oeiras onde vivem o meu irmão e a minha mãe, ainda não tinha poiso mas descobri a marina e respectivas esplanadas. Com a vantagem de poder ir a pé. E assim mato dois coelhos de uma só cajadada. Ando alguns quilómetros, o que só me faz bem, para abater a barriga que tem diminuído notavelmente e bebo o meu café num sítio aprazível.
Mas esta escolha permitiu-me um par de constatações de que imediatamente dou conta. Por um lado é de aplaudir a ideia do passeio marítimo feito pela Câmara de Oeiras. O Porto e o dr. Rio poderiam aprender umas coisas ainda que eu duvide que o segundo sequer consiga perceber.
A segunda é que o país engordou. Engordou bem mais do que eu, diga-se de passagem. Durante as duas horas em que por ali estive vi passar seguramente duas toneladas de enxúndia, de carne supérflua e pouco saudável. Com este excesso de adiposidades alimentava-se um par de campos de refugiados do Darfur. Claro que não se podia dizer a origem da carne, mas a cavalo dado não se olha o dente. E a carne humana não deve ser pior do que muitas outras de que se fabricam esses duvidosos hambúrguers que por aí se vendem.
A terceira e última observação é esta: fiquei com a impressão de que boa parte dos passeantes que tentavam perder uns quilos depressa os recuperariam ao almoço dominical. Então com um par de quilómetros em cima aquilo deve ser um fartar vilanagem. Isto de andar a suar à beira mar dá de certeza uma traça do catorze.
É que a corpulência dos passeantes faz desconfiar das boas intenções que presidiram à jornada matutina. Tenho o pressentimento que o consumo de feijoadas, cozidos à portuguesa e outros pratos ligeiros do mesmo teor aumenta exponencialmente entre os peripatéticos atletas do passeio do dr Isaltino de Morais.
Moral: os autarcas que queiram ter munícipes saudáveis devem abster-se de construir estes agradáveis passeios à beira água. Eis como o há pouco acusado dr. Rui Rio fica absolvido pela sua não construção. Está a proteger a nossa saúde. Sem passeio marítimo não há passeantes. Sem passeio estes dormem até tarde. E é sabido que quem se levanta tarde come menos ao almoço.
E ao jantar?, pergunta uma azougada leitora. Bem o jantar é outra conversa. Fica para a próxima.
Domingo, Oeiras, passeio do Isaltino, a preparar-me par almoço frugal.
na gravura: Fernando Botero, "Sonhando"
os maldizentes ficam avisados que já perdi doze quilos, já só faltam 5 ou 6. A ver vamos...
No Porto, por uma questão de fidelidade, frequento a esplanada do Ferreira que foi praticamente a primeira que apareceu. Para os fins em vista serve perfeitamente. Além do mais, vejo alguns amigos igualmente fieis que não se deixaram seduzir pela concorrência mesmo se mais elegante ou mais design.
Em Lisboa ou, melhor, Oeiras onde vivem o meu irmão e a minha mãe, ainda não tinha poiso mas descobri a marina e respectivas esplanadas. Com a vantagem de poder ir a pé. E assim mato dois coelhos de uma só cajadada. Ando alguns quilómetros, o que só me faz bem, para abater a barriga que tem diminuído notavelmente e bebo o meu café num sítio aprazível.
Mas esta escolha permitiu-me um par de constatações de que imediatamente dou conta. Por um lado é de aplaudir a ideia do passeio marítimo feito pela Câmara de Oeiras. O Porto e o dr. Rio poderiam aprender umas coisas ainda que eu duvide que o segundo sequer consiga perceber.
A segunda é que o país engordou. Engordou bem mais do que eu, diga-se de passagem. Durante as duas horas em que por ali estive vi passar seguramente duas toneladas de enxúndia, de carne supérflua e pouco saudável. Com este excesso de adiposidades alimentava-se um par de campos de refugiados do Darfur. Claro que não se podia dizer a origem da carne, mas a cavalo dado não se olha o dente. E a carne humana não deve ser pior do que muitas outras de que se fabricam esses duvidosos hambúrguers que por aí se vendem.
A terceira e última observação é esta: fiquei com a impressão de que boa parte dos passeantes que tentavam perder uns quilos depressa os recuperariam ao almoço dominical. Então com um par de quilómetros em cima aquilo deve ser um fartar vilanagem. Isto de andar a suar à beira mar dá de certeza uma traça do catorze.
É que a corpulência dos passeantes faz desconfiar das boas intenções que presidiram à jornada matutina. Tenho o pressentimento que o consumo de feijoadas, cozidos à portuguesa e outros pratos ligeiros do mesmo teor aumenta exponencialmente entre os peripatéticos atletas do passeio do dr Isaltino de Morais.
Moral: os autarcas que queiram ter munícipes saudáveis devem abster-se de construir estes agradáveis passeios à beira água. Eis como o há pouco acusado dr. Rui Rio fica absolvido pela sua não construção. Está a proteger a nossa saúde. Sem passeio marítimo não há passeantes. Sem passeio estes dormem até tarde. E é sabido que quem se levanta tarde come menos ao almoço.
E ao jantar?, pergunta uma azougada leitora. Bem o jantar é outra conversa. Fica para a próxima.
Domingo, Oeiras, passeio do Isaltino, a preparar-me par almoço frugal.
na gravura: Fernando Botero, "Sonhando"
os maldizentes ficam avisados que já perdi doze quilos, já só faltam 5 ou 6. A ver vamos...
1 comentário:
Caro MCR,não sei por onde tem andado no Porto. Então não temos um belíssimo passeio de madeira na Foz, sempre recheado de criaturas parecidas com as que retratou?
Eu cá, como gosto de passear por lá de bicicleta, tenho por vezes dificuldade tal a opulência dos corpos (neste ponto eu devia era estar era caladinha porque não estou propriamente a fazer regime e o resultado vê-se!).
Esta “onda” de passeantes é uma “doença saudável” que atacou os portugueses. Só tenho pena de ver em muitos um verdadeiro ar de obrigação, de penitência, assim do tipo, como bem referiu, deixa-me andar agora para me poder engolir depois. Tenho um irmão
que assume com franqueza esse propósito: faz maratonas ( isso mesmo, maratonas) para poder comer o que bem lhe apetece! A cada um a sua estratégia. O que interessa é que resulte.
Enviar um comentário