26 março 2007

missanga a pataco 7



Küß die Hand gnädige Frau!

Acredite, excelente Senhora no título desta prosa e perdoe o que vem a seguir. É que eu tinha de Si uma impressão, digamos para ser simpático, extremamente moderada.
A Senhora era, para mim, um mal menor, mas mal, um acidente de percurso na história recente da recente democracia alemã. Sou, não me custa dizê-lo, um “berliner” de adopção, e por isso mesmo um “rot”. Berliner porque amo essa cidade tanto quanto Paris ou Buarcos ou, noutro registo, Lourenço Marques, Amsterdam ou Roma. Berliner ainda porque estudei durante uns meses num Berlin dividido e inesquecível em que até o berliner Luft soava e cheirava bem. Nem eu, na altura sabia, que imitava os passos do meu trisavô Ernst Richard Heinzelmann, estudante que foi na Wilhelm Universität (hoje Humboldt Un.) nado e criado em Havelberg a uns escassos setenta quilómetros e que se banha no mesmo rio que Berlin. Berliner , finalmente, porque me aqueço ao sol da mesma liberdade que permitiu o milagre de uma cidade esquerdista cercada por um muro odioso.
Tudo isto, excelente Senhora, tem pouco a ver com o seu partido, a CDU, e menos ainda com os aliados incómodos da CSU bávara. Todavia, ao ler extractos do seu discurso de ontem, dia da Europa, ao perceber nas entrelinhas o cuidado com que conseguiu que tantos e tão diferentes europeus assinassem uma declaração que nem por ser mínima deixa de ser importante para o nosso futuro de habitantes neste velho continente. Comovi-me, não há que recear dizê-lo com a sua alusão aos tempos difíceis em que um muro dividia a cidade, os rios, a floresta, as famílias e os afectos. Percebo, talvez, melhor essa sua dedicação a uma causa a que tanto democrata que se proclama de esquerda não quer ver. Que uma Europa de nações foi, e poderia voltar a sê-lo, uma Europa de guerras incessantes, paz frágil, desconfianças brutais e diferenças de toda a espécie. Esses falsos arautos do socialismo esquecem depressa a letra imortal das velhas canções (por todas a Internacional) de combate pela igualdade e pela liberdade. Já as não cantam há muito ou esqueceram-se depressa. E foi preciso aparecer uma mulher conservadora para relembrar que o combate de cinquenta anos por uma Europa pacífica, próspera, livre e democrática é ainda um combate actual.
Não vale a pena alargar-me muito mas pelo que acima digo fácil é de perceber porque é que o autor, como seu adversário político, lhe beija a mão respeitável Senhora.


fotografia do restaurante Paris Bar de que tenho as melhores recordações quer do ano de 1971 quer de 1982. ainda por cima come-se bem! Fica na Kantstrasse em Charlotenburg o mesmo é dizer no centro.
A expressão que serve de título e que está traduzida na última linha do texto é, de facto ,mais vienense do que alemã. Mas eu quero crer que na cidade do Spree e do Havel estas cortesias também têm sentido. Berliner Luft (ar de Berlin) é uma conhecida peça musical que se toca impreterivelmente no fim de cada concerto popular e refere também uma velha blague sobre o ar pouco respirável de um Berlin de há 30 ou 40 anos.

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