06 abril 2007

missanga a pataco 9


A cultura e a paixão enquanto não bebo uma cervejinha com o JVC

Daqui a pouco marcho para um pub não muito longe para beber uma cervejinha com o João Vasconcelos Costa. Este “papo” anda a ser marcado e desmarcado há meses mas hoje é certo.
Para aliviar a espera avio um par de linhas porque o tema não sofre demora. Vem aliás no Expresso de hoje num anuncio modesto de um dos suplementos. A figura que orna este pobre texto é idêntica à do anuncio com duas diferenças e de peso. Enquanto aqui se vê tão só um belo par de pernas e respectivo capitel (gostei desta: é clássica, é metafórica e evita-me escrever “un bel culo” no mais puro italiano que uma antiquíssimo amigo, sardo da Sardenha, e amador do belo sexo me ensinou. Na altura, Berlin 1971, ele referia-se ao de uma professora do Goethe, a nossa professora, que sobre ser simpática apresentava um derriére nada teutónico e muito louvável. A expressão do sardo valeu-lhe instantaneamente dois amigos naquele primeiro dia de aulas: este que estas traça e um brioso historiador espanhol, madrileno de pura cepa, chamado Martin e especialista em civilizações peninsulares pré-romanas! Isto de ter três latinos juntos a aprender teutão tem as suas vantagens).
Voltando à vaca fria: o anúncio de que falo vem com um suplemento. Indica o estabelecimento onde as meninas do Crazy Horse se produzirão e na parte de cima em letra maior em fundo azul diz: A Square apoia a cultura.
Eu, leitorinhas gentis, nada tenho contra o crazy horse e muito menos as suas artistas. Confesso mesmo, já que a época é propícia, que gosto demasiadamente do sexo fraco mesmo dançante com efeitos de luz e inacessível como dizem que elas são. A boi velho erva tenra, dizia meu pai, que sabia da poda cem vezes mais do que o padre cura, se é que um padre cura sabe destas coisas tão mundanais quanto uma dúzia de bailarinas nuas de cabaré.
Agora o que me parece desnecessário é a insultante referencia à cultura. Não que insulte a cultura, Deus me livre, que bem precisa de um belo par de nádegas frescas ou de um seio atrevido e pimpão. As pobres raparigas é que saem em demérito. Não falem em cultura, que o público foge. Não digam que é cultural ir ao Crazy ou ao Folies ou ao Casino de Paris que estragam as coisas. A malta vai lá para ver. Aquilo é para videntes ou voyeurs, escolham o que vos convier. Eu, nascido no segundo quartel do século passado, criado na Figueira à sombra do Casino Peninsular, reivindico alto e bom som, o direito a ver este espectáculo de strip chic sem apelo à cultura. A menos que seja física. Valeu?
MSP, vê lá se me acodes, pá, que estão a estragar estes nossos pequenos prazeres!
Já agora, boa Páscoa, leitoras e leitores. Mesmo que isso nada vos diga, boa Páscoa, bom cabritinho tenro, melhores amêndoas e boas férias.

o suplemento em causa é o espaços e casas

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