10 maio 2007

Independências

Helena Roseta abandonou a militância no PS e prepara-se para (tentar) ser candidata independente à Câmara de Lisboa. Não é propriamente uma novidade. Desde as campanhas de Alegre, para a liderança do partido e para a presidência do país, que era notório o desalinhamento de Roseta com a maioria do partido.

Aliás, Roseta sempre foi uma desalinhada e isso, que por si só pode revelar qualidades intrínsecas, também faz com que seja difícil conviver numa entidade colectiva, com regras. É que a “nossa” razão não tem necessariamente de ser a melhor, por muito iluminados que julguemos ser, nem a razão da maioria. Logo, ou sabemos conviver com as nossas posições minoritárias ou o melhor é mesmo procurar a porta da saída. Ninguém é obrigado a estar num partido e, quando se está, deve acatar-se as vontades da maioria. Eu próprio militei num partido na minha juventude e saí pelo próprio pé, depois de chegar a ser ameaçado com um processo disciplinar, jurando não voltar a meter-me noutra.

Roseta esteve sempre com um pé no poder e outro fora dele (sobretudo no discurso). Foi dirigente do PSD vários anos, liderou a distrital de Lisboa, presidiu à Câmara de Cascais, foi deputada, engrossou a coluna dos críticos contra Balsemão, juntamente com Cavaco Silva, Carlos Macedo e Eurico de Melo. Saiu para o PS depois de apoiar Mário Soares, manteve-se deputada durante longuíssimos anos, mas nunca reconheceu a líderes como Guterres ou Sócrates as qualidades para o exercício dos cargos para que foram eleitos. A sua cepa (e a dos seus) era diferente. Segue agora o seu caminho, com natural legitimidade.

Roseta é bastonária da Ordem dos Arquitectos, em final de mandato, e avança para a política. Estará bem assim, sabendo-se da intervenção que a classe tem, e quer ter, no urbanismo das nossas cidades? Qual é o seu grau de compromisso com os arquitectos-empresários, que abundam por aí?

4 comentários:

M.C.R. disse...

Meu caro JCP
Li com natural atenção o seu texto e subscreveria boa parte dos seus considerandos. Todavia, entendo, porventura por ser desalinhado há muitíssimos anos, a bem dizer desde sempre, que num partido, no PS por exemplo, o que faz falta são muitos desalinhados.
roseta teve um percurso que atrouxe da esquerda do PPD para a esquerda do PS talvez até por este (PS) ter insensivelmente guinado para a a direita. entenda-se direita do que consideramos esquerda, não direita política. Aí está agora o PSD que durante muito tempo teve a social democracia como alvo.
O problema de Roseta se candidatar põe-se a outro nível: tem o PS candidato melhor? Ferro (que foi corrido para Paris) muito legitimamente recusou. Seguro, prudente fez o mesmo, Soares está no estrangeiro (??!!). sobram cinzentíssimas figuras bem espelhadas É o deserto! Razão tinham em não querer eleições intercalares: estão orfãos, sem ideias nem projecto.
|Voltemos a Roseta: foi boa presidente de Cascais. É combativa. Tem uma larga intervenção no capítulo como bastonária da Ordem dos Arquitectos. Não se lhe conhecem eufeudamentos a grupos empresariais. Não era uma boa hipótese?
Por mim acho que era.
De resto, e a propósito da sua peregrinação política lembro que Sócrates também vem do PPD como muitos militantes do PS.
Registo de interesses: fui apoiante de Alegre mas não estou de nenhum modo perto do seu movimento cívico. Mantenho-me desalinhado e assim pretendo continuar. Conheço Roseta superficialmente e não tenho com ela qualquer relação de amizade (nem de inimizade). Refaço a minha pergunta: tem o PS alguém com a força, o empenhamento político e a notoriedade de Roseta ou prepara-se apenas para fatalistamente perder outra vez a Câmara de Lisboa? Não lhe chegou a lição do lamentável Manuel Maria?
Um abraço

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Francamente, não penso que Roseta fosse uma boa candidata do PS à Câmara. Apesar de toda a sua participação e militantismo, Roseta é vista como uma "has been", com um discurso permanentemente negativo e desconfiado.
Se se confirmar a hipótese António Costa, o PS e a esquerda encontrarão um excelente candidato e presidente.

Unknown disse...

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M.C.R. disse...

Meu Caro: A jogada Costa seria dramática. Não me parece bom candidato por várias razões:
- a sua saída enfraquece fortemente o governo
- o pc nunca o apoiaria e também não me parece que o bloco o fizesse
- a sua derrota (provavel neste contexto) sertia fatal para o ps e para o governo de que teria saído

Eu não vi nunca roseta como uma has been, aliás ela tem ganho em todos os tab uleiros onde joga, incluindo o da candidatura Alegre que esfacelou duramente o ps e o candidato Soares que apesar de tudo eu não qualificaria de has been, sendo nisso, aliás, uma excepção.
O ponto é este: que é que o PS perderia com Roseta e o que é que ganharia?
Perder perde pouco se ela perder e ganha tudo se ela ganhar. E ganha porque o desalinhamento de Roseta poderia atrair o pc para uma governação camaraária.
Segundo ponto:
Mesmo que seja Costa o candidato do PS (e aí muito mais fraço do que João Soares, por exemplo) a candidatura Roseta rouba-lhe espaço e votos e pode mesmo ultrapassá-lo. Está a ver o problema? É que o ps esteve profundamente implicado nesta câmara quer por presença escassa como sobretudo por ausencia e divisão (o caso Carrilho, a sua sucessão, o arratar de pés quanto à demissão de Carmona e as eleições intercalares).
Arriscar uma derrota do actual nº 2 do governo é algo que conviria evitar. E o ps também não tem assim tantos nomes para propor sobretudo quando avançando com Costa, avança com uma terceira escolha. Está a ver o que dirão os próximos convivados?