15 junho 2007

Jesus Cristo Superstar



Ontem fui ver o espectáculo Jesus Cristo Superstar. Foi a estreia por isso a grande encenação para receber os convidados, bem ao estilo de Felipe La Féria. Na rua manifestantes protestavam silenciosamente contra as alterações efectuadas na gestão do Rivoli, nomeadamente na concessão ao Filipe La Féria, deixando de funcionar como um espaço de diversas expressões, deixando de ser, em suma, um Teatro Municipal.

Concordo com eles, mas também concordo que as coisas não podiam continuar como estavam. A subsídio dependência de um teatro é um erro. Muitos artistas vivem para o seu umbigo e actuam para o seu círculo de amigos. Claro que eu acho que a cultura tem que ser em parte subsidiada. Mas não assim. Isto cria dependências doentias e que só servem minorias. Assim não se formam públicos.

Em contrapartida, o que eu vi no espectáculo do La Féria foi muita gente a trabalhar, dezenas de artistas de grande talento, todos muito novos e, pelos visto, maioritariamente do Norte. Onde é que eles teriam oportunidades de evidenciar os seus talentos no Porto, se não fosse este espectáculo?

Gostei muito. É de uma grande beleza estética. Quadros de uma plasticidade indescritível. Vozes lindas. Vale a pena ir lá, porque é um espectáculo único.

Quanto às alternativas ao Teatro Municipal espero que a Câmara crie condições para os grupos da cidade poderem desenvolver a sua actividade noutros espaços nomeadamente no Teatro do Campo Alegre

5 comentários:

Gasolina disse...

Concordo.
Mas também recordo o que aconteceu a alguns cinemas e ao Monumental de Lisboa nomeadamente, que foram entregues a seitas religiosas e este ultimo transformado em espaço comercial.
Assim vai a cultura!

Primo de Amarante disse...

Eu não concordo e, por isso discordo.

O RIVOLI foi criado em 1913 por republicanos e foi designado Teatro Nacional. Passado dez anos, a burguesia liberal do Porto cotizou-se para o modernizar e ganhou, então, o nome Teatro Rivoli. Passou a acolher ópera, a dança, teatro e concertos. Tornou-se numa espécie de palco dos criadores do espectáculo, das escolas de dança, do teatro e da ópera do Porto. Por lá passaram nomes célebres de homens e mulheres portuenses do espectáculo.

Na década de 70 degradou-se e acabou por ser comprado pela Câmara Municipal do Porto. A autarquia pretendeu com o dinheiro dos contribuintes devolver essa estrutura à Cidade. Tornou-se no único palco público da Cidade aberto a debates, a pequenos concertos, a oficinas de dança, de teatro, etc.

Naturalmente, muitos dos seus eventos não enchiam as suas salas. Mas a cultura que faz o futuro não germina entre as multidões de hoje. Lembro-me da primeira exposição de Amadeu de Sousa Cardoso: a maioria detestou e escarraram nos seus quadros. Hoje ninguém se lembra dos que achavam que as suas pinturas ocupavam inutilmente os espaços duma sala de exposição (os Finianos?). Assim acontece com as artes do espectáculo que não regalam os olhos das multidões. Mas poderíamos aprender com a injustiça feita a muitos amadeus que foram inovadores na dança, no teatro, em todas as artes do espectáculo que não regalam os olhos de multidões nem enchem os bolsos de privados.

Mas Rio não consegue aprender com o que aconteceu a Amadeu de Sousa Cardos e justificou a opção pela privatização da gestão do Rivoli com os elevados custos. A cultura é o pão do espírito. Como diria Brecht, se a cultura (esta forma minoritária de produzir arte) dá despesa, invistam na ignorância. E, por iguais motivos, não recolham o lixo que dá despesa, não abram escolas que dão despesa, não ponham a funcionar hospitais, que dão despesas, etc., etc. acabem com o subsidio-dependente que põe a funcionar tudo o que dá despesa.

Os espectáculos de Lá Féria regalam os nossos sentidos e precisamos deles, mas o Teatro Rivoli era uma referência genuína e única para a alma do Porto. E esta alma vai-se perdendo. Por isso, ontem tive pena de não estar com um R , em silêncio, do lado de fora do ex-Rivoli.

Primo de Amarante disse...

Só mais uma coisinha:

Para que Lá Féria encontrasse “dezenas de artistas de grande talento, todos muito novos e, pelos visto, maioritariamente do Norte”, foi necessário que um palco a montante os tivesse formado. Esse era o papel do Rivoli.

Há, hoje, a estudar teatro e cinema nos E.U. (alguns conheço-os bem) rapazes e raparigas que passaram pelo sworkshops, oficinas de teatro e cinema, nomeadamente “Fazer a Festa” que tiveram lugar no Rivoli.

Que palco com dignidade a Cidade tem para oferecer, agora, a grupos de teatro como o Teatro de Marionetas do Porto, Teatro de Ferro, Assédio, Boas Raparigas, Ensemble, Teatro Bruto, Visões Úteis, Teatro Plástico, Panmixia, Art'Imagem, Teatro do Bolhão/ACE, Palmilha Dentada, etc?!...

E que acontecerá a essas enumeras escolas de teatro que existem no Porto. Será que desaparecerão para Lá Féria criar a sua escola, como prometeu paradoxalmente (já que não precisou dela, a sua, para encontrar as tais dezenas de talentos)?!...

Não se pode ignorar que o Porto, até há bem pouco tempo, foi a Cidade com mais escolas de teatro.

Regina Guimarães (e é bom ver o trabalho desta dramaturga no “google”) na sua luta contra a entrega do Rivoli à exploração privada, considerou «obscena, a política de desamparo e desapoio» do actual executivo camarário.

Eu penso o mesmo e tenho-o dito.

O meu olhar disse...

Caro Primo de Amarante

Num comentário que fiz a um post mais acima do MCR já desenvolvi o meu pensamento acerca desde assunto.

Embora nada tenha a ver com o que está em discussão creio que a história do Rivoli não é bem a que refere, nem quanto a quem o mandou construir nem quanto ao tempo em que se tornou Teatro Municipal nem quanto ao papel que lhe atribui de escola de teatro, a ponto de sugerir que os actores que o La Feria recrutou no Porto só o pode fazer porque havia o Rivoli.

Com toda amizade lhe digo que me parece um claro exagero. Anoto apenas que o teatro não foi comprado pela Câmara nos anos 70. Nessa altura terá sido comprado por uma grande imobiliária do Porto para ser demolido e dar lugar a um grande edifício. Essa empresa faliu e o BPA tomou conta do Teatro acabando por o vender à Câmara em finais dos anos 80.

Depois de profundas obras o teatro apenas abriu ao público na segunda metade dos anos 90. Portanto a alma ou áurea que o Rivoli apresenta é a criada na última década, porque pelo menos na década anterior esteve praticamente sem actividade. Anoto que isto nada acrescenta à discussão apenas pretende repor os factos.

Primo de Amarante disse...

Quanto à história do Rivoli não tenha dúvidas de que ela é conforme escrevi. Entre outros documentos, pode consultar:http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_Rivoli.

Eu escrevi que nos anos 70 se degradou e não que foi, nessa altura, comprado pela Câmara. Não se esqueça que acompanhei o processo, porque nessa altura estava ligado ao PS e fazia parte da Comissao Política Concelhia.