Durante toda a década de 90, até hoje, a grande aposta do Estado, em termos de investimentos públicos, centrou-se na criação ou renovação das infra-estruturas de transportes, com particular incidência na construção de auto-estradas, IP.s, etc. O argumento era o de que esses investimentos iriam potenciar o crescimento económico, reduzir as assimetrias regionais, gerar mais riqueza, enfim, melhorar as condições de vida das populações.
No mesmo período outros países fizeram as suas apostas na valorização dos recursos humanos, com particular incidência nos domínios científico e tecnológico.
O resultado final foi que, no espaço de uma década, esses países ultrapassaram-nos em termos de desenvolvimento económico e social. Aliás, esses mesmos países continuam a crescer acima da média europeia. Portugal, por sua vez, não consegue, já lá vão quatro anos, sair do crescimento zero ou muito próximo disso.
Apesar deste panorama e do que a evidência mostra, o que o Governo garante, para os próximos dez anos, é que a aposta no domínio dos grandes investimentos públicos (mesmo sob a capa de parcerias público-privadas) vai continuar a ser as infra-estruturas de transportes. Ou seja, serão mais 20 anos a fixar os transportes como a grande prioridade e a canalizar volumes avultados de recursos para este sector.
O que os últimos dez anos mostraram é que hoje os tempos de deslocalização já se encurtaram significativamente, sem que daí tenha resultado impacto no desenvolvimento económico ou na fixação das populações no chamado interior. Será que a OTA ou o TGV é que irão inverter a tendência actual e trazer o desejado desenvolvimento? O país algum dia terá o retorno do investimento que se propõe realizar no TGV?
Numa perspectiva optimista lá virá o dia em que alguém entenderá que o país está bem dimensionado deste tipo de infra-estruturas, que bastará melhorar algumas e conservar outras e, então, definirá como prioridade a educação e o desenvolvimento científico e tecnológico. Contudo, face às opções que se avizinham esse dia nunca ocorrerá antes de 2016-2020.
Não haverá maneira de fazer antecipar esse dia, para amanhã, se possível?
No mesmo período outros países fizeram as suas apostas na valorização dos recursos humanos, com particular incidência nos domínios científico e tecnológico.
O resultado final foi que, no espaço de uma década, esses países ultrapassaram-nos em termos de desenvolvimento económico e social. Aliás, esses mesmos países continuam a crescer acima da média europeia. Portugal, por sua vez, não consegue, já lá vão quatro anos, sair do crescimento zero ou muito próximo disso.
Apesar deste panorama e do que a evidência mostra, o que o Governo garante, para os próximos dez anos, é que a aposta no domínio dos grandes investimentos públicos (mesmo sob a capa de parcerias público-privadas) vai continuar a ser as infra-estruturas de transportes. Ou seja, serão mais 20 anos a fixar os transportes como a grande prioridade e a canalizar volumes avultados de recursos para este sector.
O que os últimos dez anos mostraram é que hoje os tempos de deslocalização já se encurtaram significativamente, sem que daí tenha resultado impacto no desenvolvimento económico ou na fixação das populações no chamado interior. Será que a OTA ou o TGV é que irão inverter a tendência actual e trazer o desejado desenvolvimento? O país algum dia terá o retorno do investimento que se propõe realizar no TGV?
Numa perspectiva optimista lá virá o dia em que alguém entenderá que o país está bem dimensionado deste tipo de infra-estruturas, que bastará melhorar algumas e conservar outras e, então, definirá como prioridade a educação e o desenvolvimento científico e tecnológico. Contudo, face às opções que se avizinham esse dia nunca ocorrerá antes de 2016-2020.
Não haverá maneira de fazer antecipar esse dia, para amanhã, se possível?
49 comentários:
A verdadeira Questão Nacional é esta que aqui foi apresentada.
Nem Sá Carneiro, nem Cavaco, muito menos Soares, foram capazes de dar uma forma consistente à nossa estratégia de desenvolvimento económico naquilo que ao Estado diz respeito.
Nos anos oitenta, com a entrada na CEE apostou-se na política do betão.
Os resultados estão à vista: não foi suficiente para o arranque em direcção ao pelotão da frente e criou-se uma avantesma que é o grupo de empresas que vivem das obras públicas, sustentanto centenas de milhar de famílas.
Há uns dois ou três anos, o representante desse lobby do betão e obras públicas, dizia abertamente que ou se alargavam os cordões à bolsa pública para a continuidade da construção de obras ou eles mesmos fariam a revolução necessária. Se não foi com estas palavras, o sentido era o mesmo.
Por isso, estamos como estamos.
De facto esta é uma questão central e a prova disso é visível a olho nu, todos os dias. Ainda hoje pude comprovar o que a falta de investimento na formação qualificante faz aos portugueses. Fui a uma cidade do interior e contactei com muitos funcionários públicos. Destes, uma grande maioria era pessoal indiferenciado. Apesar de haver muito interesse no tema tratado, era visível a falta de hábito das pessoas estarem na situação de formação, em sala, sentados, mesmo considerando que o formador era dinâmico e tentava envolver as pessoas. Tende-se a dizer que o pessoal indiferenciado não aguenta ter formação. Centram-se as razões nas pessoas quando, de facto, o que está em causa é o sistema em que estas então inseridas. São as opções do sistema.
Acho que JSC tem toda a razão. Aliás, eu vou ao ponto de achar que há sítios neste país onde as auto-estradas já são em excesso. É o que me parece acontecer no distrito do Porto, onde já só com um curso superior sobre a questão é possível perceber tal emaranhado.
Os primeiros-ministros que o José refere foram, em meu entender, os que tiveram mais responsabilidades no rumo que o país seguiu, com particular responsabilidade para Cavaco Silva.
A política cedeu aos interesses imobiliários (indissociáveis da banca) por duas razões. Uma, por força dos lóbis, nomeadamente autárquicos, que exigiam uma auto-estrada ou um IP à porta; Outra, porque era o caminho mais fácil para gerar emprego (mesmo que desqualificado) e gerar algum arrastamento noutros sectores. O problema é que nunca mais se inverteu o sentido.
Mesmo agora, o que é que ocupa ex-ministros da economia e das finanças ou os empresários que pagam estudos para defender as suas teses (os seus interesses) ou o que questiona o próprio Presidente da República?
Algum deles discute o modelo de desenvolvimento? Algum deles aponta as vantagens que resultariam se o Estado canalizasse o grosso dos recursos para a formação e desenvolvimento científico e tecnológico. Não, todos se ocupam dos traçados, das implantações, enfim, todos concordam em continuar a apostar nas obras, que até poderiam ser para construir centros de investigação, mas que se destinam a fazer o mesmo (e pelos mesmos) que se tem feito na última década: infraestruturas no sector dos transportes.
Como é que isto se poderia inverter? Talvez se o Presidente da República ou empresários ou os cientistas e o pessoal do mundo da ciência fizessem um coro de protesto continuado, fizessem uma exigência que mobilizasse o país para outro rumo.
Claro que isto mudava de certeza se a maioria de nós tivesse consciência do contributo que dá para o país que vai deixar de herança.
Em Junho e Julho de 1978, o semanário O Jornal, lançou uma série de conferências públicas, num teatro de Lisboa,o Maria Matos, numa espécie de Prós & COnras em forma de imprensa, sobre um assunto magno:
Portugal, anos 80-o quê?
Falaram durante horas, vários vultos que eram " os mais representativos elementos dos mais importantes partidos políticos portugueses" de então.
Nomes? Sousa Franco. No capítulo económico defendia ainda o falecido professor a "manutenção das nacionalizações directamente efectuadas, mas orientado para a rendibilidade social ed a máxima eficiência, na sociedade aberta que deve ser a nossa".
Freitas do Amaral falou na semana seguinte. "Nos anos oitenta, toda a década decorrerá sob o signo das nossas negociações e da nossa entrada no Mercado Comum", disse ele. Sob a economia, foi tudo o que disse de concreto. SObre o resto, ainda falava de ditadura versus democracia e do perigo de uma ditadura de esquerda...
Álvaro CUnhal foi ouvido depois. Passo o relato que pode ainda ser ouvido na cassete do PCP...
Depois, Mário Soares. SObre economia, ponho só o título: "Nem novas nacionalizações bem reprivatização dos sectores básicos da economia".Também falou do Mercado Comum.
Aos que lhe fizeram o reparo de que a entrada na CEE, seria improvável sem que antes se anulassem transformações económico-sociais ocorridas durante a Revolução ( assim mesmo, está escrito assim, com letra grande, pelo director do jornal José Carlos Vasconcelos), Soares respondia: " TRata-se de um rematado disparate".
Nessas conferências participaram Salgado Zenha, Miller Guerra, Sérvulo Correia, António Guterres, Marcelo Rebelo de SOusa e Cunha Reis.
De tudo o que se pode ler nesses números históricos do O Jornal nada há de relevante sobre o projecto de desenvolvimento económico para além de umas generalidades e de uma definição entre o sector público, nacionalizado e o outro. As coisas ficaram definidas no PREC de 11 de Março de 1975 e assim ficaram durante mais de dez anos. E mesmo depois, continuou assim, com o Estado patrão a continuar a mandar da economia.
Uma das razões do nosso atraso, a meu ver, tem aí as suas raízes profundas.
Cavaco Silva, herdeiro de Sá Carneiro, é também um herdeiro deste Estado a que chegamos.
Visão? Que é isso? O nome de uma revista, por sinal a sucessora do projecto de O Jornal?!
Acho que sim. Visão, em Portugal é uma revista, tão somente.
As auto-estradas só servem se tiverem ponto de partida e ponto de chegada. Ora em boa parte do território partem de nenhures para lugar algum. claro que também se poderá dizer que ao Estado apenas compete infra.estruturar e qque é aos privados que compete agir e investir. E esta é também a questão nacional: temos nós um sector privado pronto a correr os riscos que lá fora se correm? Tem os poucos privados que por aí saltitam alguma ideia do que é um mercado aberto e capitalista?
quando vejo os grandes nomes do nosso empresariado insistirem em ter um controle absurdo das empresas e grupos que fundaram rio-me (para não chorar) perdidamente.
alguém imagina o filho do principal accionista da GM suceder tranquilamente ao papá? Alguem imagina um milionário americano deter mais do que dez ou quinze por cento da "sua" empresa? alguém imagina a nossa bolsa num verdadeiro mercado de capitais?
Estou de acordo com um outro ponto: o tgv é apenas uma tontice de menino rico num país em que de Lisboa ao Porto correm uns miseráveis 300 quilómetros. Para isso qualquer italiano nos ensinará que um bom pendular chega e sobra. E quanto a rematada tolice de põr um tgv entre o Porto e Vigo nem me pronuncio, Ponho as mãos na cabeça, aflito!
E se...se numa espécie de regresso ao futuro, pudéssemos voltar a 1973, com o país a crescer a taxas agora inimagináveis, mesmo com um sobreesforço de guerra no Ultramar, de mais de um terço do PIB?
E se fosse possível contarmos outra vez com os pensadores e visionários da época que delinearam a estrutura rodoviária que temos hoje ( tenho uma revista Observador em que isso vem tratado de modo espectacular, com indicações precisas dos traçados e calendários de realização de obras), sem apoio de CEE nenhuma e com o esforço dos privados, mesmo com as tão famigeradas duas dúzias de famílas que mandavam na economia, com a CUF à cabeça?
Ou seja e indo por uma via mais simples e directa: e se o PCP de cá tivesse sido o PCI, da Itália, não estaríamos agora infinitamente melhor?
Teríamos acabado com a guerra no Ultramar como acabamos? Provavelmente não. Haveria a fuga de retornados que houve? Talvez, porque o tempo era de clivagem leste/oeste e o PCP que estava com os de leste, não admitia menos do que entregar aos correligionários amigos dos povos de África, os destinos da corrupção petrolífera, como de facto veio a acontecer.
A nossa desgraça adveio da esquerda, infelizmente. É essa a minha verdade.
Um dos problemas do país é o esquema de raciocínio que conduz à conclusão que o José tira no seu comentário anterior.
Somos capazes de fazer grandes análises mas ficamos, no fim, sempre a olhar para trás, presos a um passado que teima em não nos largar ou que não queremos largar, para justificar o que somos ou para termos razões para a nossa inércia.
Hoje, o que está em cima da mesa e pode hipotecar o futuro do país por muitas décadas é a opção de prosseguir com os investimentos no sector dos transportes, isto é no TGV e no novo aeroporto (que por razões meramente eleitorais o governo finge que recua e aceita que se estude o que já decidiu: OTA).
São estas opções que o país deveria discutir. Era contra estas opções que muitos se deveriam levantar, em particular quem entende que não se está a ir no rumo certo e que não é com a distribuição de uns (milhares?) de computadores pelos meninos na escola (cuja importância não nego, pesar dos alunos pouco saberem de matemática e de português) que se vai fazer a transformação científica e tecnológica tão necessária para tirar o país do último lugar da escala comunitária.
Seria interessante que uma universidade ou um forte órgão da comunicação social ou mesmo um grupo de personalidades tomasse conta do debate e liderasse um movimento de avaliação destas opções e contrapusesse alternativas de desenvolvimento e aplicação dos grandes investimentos públicos.
Teria que ser um movimento fora do centrão político, não vinculado a qualquer partido e desligado dessa divisão artificial de esquerda / direita. Claro que não sou tão inocente que pense que isso vai acontecer. Talvez a Universidade devesse assumir essa liderança. Acredito mesmo que essa deveria a ser sua grande missão.
Meu caro JCS:
Alguém dizia que quem nega o passado ou se recusa a conhecê-lo, estará condenado a repetir os mesmos erros. O sentido da expressão é este, a correcção da mesma pode não ser. No entando, o que quero relevar é um assunto que me preocupa há décadas. Sim, há décadas.
A opção pelo colectivismo que efectivamente fizemos em 1975 e continuamos a aceitar constitucionalmente durante mais de 25 anos, formalmente e na prática socialista democrática, (com o socialismo real na gaveta, mas as suas excrescências bem vísíveis e actuantes) hipotecou o nosso futuro durante estes últimos três decénios.
Pode agora vir dizer-se que afinal os capitalistas de antigamente já regressaram e até têm outra vez o poder económico e tudo voltou ao que era dantes. Não é verdade, porque sobrou aquilo que é mais importante e fundamental : o discurso corrente e quem o domina.
Este discurso é dominado há mais de trinta anos ininterruptamente pela esquerda.
De cada vez que há eleições, voltam sempre as velhas questões idológicas que contrapõem as opções do velho colectivismo e da solidariedade e dos ricos contra os pobres e a burguesia contra o povo.
Estas concepções conduzem directamente a que os partidos de maioria, entenda a economia como sendo estimulável pelo Estado, em primeiro lugar.~
Uma boa parte do PS ainda hoje acredita que o investimento público em massa, gera desenvolvimento em modo mais acelerado do que o contrário.
Ontem, Augusto Mateus, um social democrata, dizia precisamente o contrário, na Antena 1, numa entrevista notável.
A opção pelas "Grandes Obras", de pendor socialista reformista, e com apoio expresso de grupos secretos tipo Maçonaria, pode ser um erro estratégico grave e de consequências a longo prazo que agora andamos a pagar e contiuaremos a fazê-lo.
Quando refiro o passado Marcelista como digno de atenção, neste aspecto, é sobre isso que quero falar: da visão diferente que então existia e que agora não existe e nem parece haver lugar a tal visão. Por uma razão essencial: toda a referência a esse passado é entendida como apoio ao "fascismo".
E isso como já disse é consequência directa do discurso de esquerda dominante.
Enquanto não nos libertarmos dessas amarras ideológicas, nunca mais conseguiremos ver além das soluções social-democratas com pendor socializante, que vamos tendo e que nos conduzem sempre a estes resultados práticos.
Portugal precisava de repensar a estratégia de desenvolvimento em dois aspectos chave que dependem do Estado: a Educação e a atenção ao Investimento público.
Sobre isto, quem eu gostaria de ouvir era um governante tecnocrata de Marcelo Caetano: Rogério Martins.
Faltam-nos pessoas assim.Sobram-nos muitos Mários Lino e Pinas MOura.
Caro José
O plano em que se coloca é, em meu parecer, o do repetir a análise do passado até à exaustão. Com que objectivo? Para conhecer melhor esse passado a fim de melhor poder contribuir para o transformar ou apenas para conhecer bem o passado a fim de condenar os agentes e intervenientes nesse processo?
Repare, até poderia seguir o MCR e imputar alguma responsabilidade pelo estado das coisas aos investidores privados, que não estarão prontos para assumir investir e riscos. Não foi isso que fez aquele que é considerado o maior grupo empresarial português e fê-lo exactamente no período que o José qualifica de opção colectivista. Estranho, não é?
Mas o que é que a opção OTA ou TGV tem a ver com o que refere. No ponto dos investimentos o que separa, desde há muitos anos, as opções não é ser de esquerda ou de direita, mas antes o posicionamento em termos de teoria económica: Keynesianismo, neo-Keynesianismo ou Liberalismo. Depois há os interesses a que se ajusta a respectiva teoria económica.
Com todo o respeito e abertura, é meu entendimento que as questões que o afligem estão caducas e à muito que foram ultrapassadas. Mesmo nas eleições o que prevalece, infelizmente, não é um discurso ideológico (ao contrário do que diz, já ninguém fala em burguesia e muito menos na luta de classes) mas antes o discurso populista que fala de ricos e pobres, são todos a favor dos pobrezinhos, dos marginalizados, das mulheres e das crianças.
Os detentores do poder têm alternado, mas as opções profundas, aquelas que absorvem as maiores fatias de investimento, têm sido sempre as mesmas, o que mostra a relativa constância das opções económicas e o progressivo declínio de Portugal em todos os rankings europeus.
Estou de acordo consigo quando diz que uma boa parte do PS ainda hoje acredita que o investimento público em massa, gera desenvolvimento em modo mais acelerado. Também há gente no PSD que pensa o mesmo. Porque esta é uma posição de teoria económica. Eu também penso que o Estado pode e deve ter um papel estimulador do investimento. O Estado deve investir em sectores que potencie um desenvolvimento sustentado. O que não entendo é que o Estado durante mais de vinte anos (o que já fez mais o que se propõe fazer) aposte no sector dos transportes, deixando tudo o mais à míngua. E não entendo, ainda, porque o que experiência mostra é que não é este investimento que levará o país para níveis de desenvolvimento minimamente aceitáveis.
Portanto, reforço o que conclui no seu comentário: Portugal precisa de repensar a estratégia de desenvolvimento em dois aspectos chave que dependem do Estado: a Educação e a atenção ao Investimento público, sendo que este deve deixar de atender às grandes obras (que deverão ficar a cargo do investimento privado) para cuidar da qualificação técnica e científica dos nossos recursos humanos.
Em relação à primeira pergunta que coloca:
Nem uma coisa nem outra. O passado não se repete. Embora haja quem dissesse que a história se repetia, como farsa a seguir à tragédia, a verdade é que as variáveis que entram no jogo são tantas que não é possível a repetição, em replay.
Assim, resta aprender com os erros do passado. Mas como aprender se pouca gente os reconhece verdadeiramente e continua a achar que o que se fez in illo tempore, foi muito bem feito e de acordo com as circunstâncias da época e patati, patata?
Esquecem os que assim dizem que houve gente nesse tempo que avisou, que preveniu que previu o resultado funesto das políticas que se aprovavam por maioria.
Esses que avisaram e preveniram e propuseram outras políticas, tinham razão, mas agora ninguém a quer reconhecer e o argumento é sempre o mesmo: o que interessa é o futuro, não adianta chorar sobre leite derramado e andar sempre a catar no passado, é doentio, etc e tal.
Não é doentido coisíssima nenhuma, porque as receitas do passado, algumdas delas são válidas agora, como se tem verificado.
Assim, importa ouvir quem devia ter sido ouvido no passado e não foi. Os neófitos que agora dão razão a quem na altura negavam, não têm legitimidade para criticar e desvalorizar as receitas que deram provas de funcionar.
E não estou a referir-me a modelos económicos de micro-economia. Estou precisamente a referir-me a opções macro-económicas, como é o caso da crença cega no neo-keynesianismo versus liberalismo.
Se os tempos mudam e as circunstâncias também, a verdade é que há princípios de conduta imutáveis: competência, saber técnico, visão de Estado, opção ponderada de políticas de longo prazo, tudo isso são princípios que outros já puseram em prática muito melhor do que hoje se faz.
Então, porque não reconhecer o valor a quem o tem?
NO diser secular do Evangelho, as árvores conhecem-se pelos seus frutos. Esta árvore que plantamos em Abril de 1974, deu frutos raquíticos e alguns apodreceram já.
É preciso revitalizá-la, não cortá-la, porque a árvore parecia boa.
É preciso regá-la novamente com a boa água, adubá-la com o fertilizante natural da própria terra e não os químicos importados de teorias bacocas e principalmente, pôr a tratar da mesma quem percebe de poda e não uns diletantes quaisquer que aprenderam o que sabem, nas camaratas partidárias onde se estudam principalmente modos varejar o fruto ainda verde, com sofreguidão de quem tem fome de poder.
Nota: é evidente que concordamos no essencial e até no acessório fundamental. Discordamos provavelmente no diagnóstico do mal que atingiu o caule as flores as folhas e os frutos...
Caro José
Se tivéssemos em Portugal PCI em vez ce um pc, s colónias seriam independentes desde, digamos 1960 ou 61.
Se tivéssemos em Portugal um Nenni, um De Gasperi em vez de um Salazar ou um Caetano, as colónias seriam independesntes, outra vez, desde 60 ou 61.
Isto, claro, é futurar sobre o nariz de Cleopatra. mas acredite que a história se repete. E da primeira vez como tragédia da segunda como comédia. Não é a isso que vamos assistindo. Socrates não repete Cavaco? em pior, claro, mas em tom de revista do parque mayer, esse mesmo que já está em ruínas...
Meu caro:
Tem toda a razão nisso do Sócrates e do Cavaco. Mas só quanto a um aspecto: no feitio antidemocraticamente visceral que os anima. Por mim, são mesmo indivíduos de pendor ditatorial, tipo salazaresco. Para pior, porque o Salazar tinha o poder absoluto de mandar, mas tinha um desígnio temperado pela Igreja e pelo ideia genérica de Pátria a quem se quer bem.
Esses dois, nada disso partilham porque me parecem ignorantes de história, de cultura clássica, de sabedoria tradicional e do requinte que só as dúvidas da existência conferem ao carácter.
Esses dois, são uma desgraça nacional. Tenho dito, sobre isto.
Sobre aquilo de podermos ter sido o que não fomos, já não iremos a tempo, mas ainda temos tempo de uma coisa: retomar a ideia de competência e de saber fazer.
No ensino, na prática da administração pública e na mentalidade geral.
Talvez já não seja para os próximso vinte anos, mas espero ver o vislumbre desse sonho.
Repare, José, também no domínio económico e das opções políticas as consequências das opções passadas não começaram no 25 de Abril. Vêm de trás. As campanhas do trigo, o condicionamento industrial, os elefantes: Lisnave, Sines, Alqueva, Cachão. Bem poderíamos ficar aqui a levantar a história. Também poderia outros casos, dizer, por exemplo, que a minha aldeia, que dista cerca de 80 km da cidade o Porto, só dez anos depois do 25 de Abril é que teve electricidade e o acesso ao conforto que a mesma proporciona. Dizer, com grande segurança, que hoje, apesar de tudo, nessa mesma aldeia as pessoas menos remediadas vivem melhor que a média da respectiva população vivia há 30 anos. Contudo, nessa mesma aldeia ainda hoje não há água distribuída ao domicílio nem saneamento básico. O mesmo sucede em milhares de outras aldeias. Muitas das escolas do ensino básico, por esse país fora, não têm as condições para alunos e professores trabalhar. Ainda hoje, na TSF, se fala de uma escola em Cinfães, onde os alunos têm aulas num contentor, que no dizer de uma professora, é muito frio no Inverno e abafado nos dias de calor.
De quem é a culpa? Do colectivismo constitucional imposto pelo 25 de Abril? Mas os países onde o colectivismo fez (já não faz) escola são os que apresentam melhores índices de escolaridade e de desenvolvimento se comparados connosco. Será que o colectivismo de que fala foi mal feito, ficou a meio de caminho ou pura e simplesmente apenas ficou no papel (digo Constituição)? Poderíamos continuar a apresentar factos e contra-factos, a procurar a causa do pecado original ou do pecado maior.
Porém, com esta conversa toda (ainda que interessante e estimulante) só nos estamos a afastar do problema inicial: questionar como e onde o Governo se propõe gastar milhares de milhões de euros nos próximos dez anos.
Aquilo que me espanta não é que o governo se proponha aplicar todos esses recursos nesses dois projectos. O que me espanta mais é que não se questionem as alternativas a esses investimentos e apenas se discuta onde vai ficar o aeroporto e qual o traçado do TGV.
Dando de barato que Portugal tem que ter uma ligação via TGV à Europa (Entroncamento? Aveiro?), o que é que o TGV acrescenta à actual ligação ferroviária Porto-Lisboa? E qual o interesse de uma linha TGV a ligar Porto-Vigo? Por outro lado, se os promotores privados estão tão interessados na construção de um novo aeroporto porque não se deixa que seja a iniciativa privada a conceber / construir e explorar esse aeroporto? Se fosse assim o governo já poderia aplicar os milhares de milhões de euros naquilo que hoje diferencia a competitividade entre as nações: o reforço das competências da população e do conhecimento científico e tecnológico.
Querendo deixar o passado sossegado, essas perguntas que faz, voltam a desassossegá-lo.
Quando pergunta por que é que não se discute se se devem fazer essas Grandes Obras, está a pòr em causa o modelo de desenvolvimento que o Estado preconiza e principalmente a pressupor que em Portugal ainda é o Estado que preconiza esse modelo.
Logo, estamos no princípio da discussão: as coisas nem sempre foram assim, no que se refere à visão para o desenvolvimento do país.
O Governo de agora, juntamente com as pessoas que em grupo nele colaboram, têm gente que acredita piamente nas virtualidades do neo keybesianismo. Que se há-de fazer?
Ainda por cima, pensam a uma distãncia de dois anos que é o período crítico dos calendários eleitorais e as empresas do betão e do aço, já assumem uma importância em Portugal demasiado grande para serem desprezadas nesta orgânica.
Quando refere o condicionamento industrial anterior ao 25 de Abril, nunca se esqueça que a economia de então crescia a taxas em que agora só os chineses conseguem.
Não interessa saber se eram os Mellos ou os Espírito Santo ou os Chamapallimauds que mandavam. Interessa é saber que agora, quem manda não consegue por isto a crescer sequer a 3 por cento...
É grande a azáfama em Angola que cresce de forma imparável. Em todos os aspectos e nos mais variados campos. Contudo, este insano labor e esta inquebrantável determinação não visam, exclusivamente, a sua própria auto-suficiência. Semelhante ritmo faz parte integrante de um todo, um todo chamado Pátria. Ora e salvo opinião mais esclarecida, a homogeneidade política, social e económica de uma nação só pode ser salutarmente exequível quando os espaços que a formam trilham caminhos convergentes, ainda que não necessariamente paralelos; quando, seja qual for a latitude, o credo ou a cor do firmamento, haja a preocupação da equidade e o pundonor da justiça; quando, enfim, não pontifiquem oligarquias que avassalem e manietem os mais lídimos anseios e os mais superiores interesses da comunidade.
De contrário, continuiar-se-á a chamar de solução ao improviso e de unidade aos factores minoritários - doutrina ambígua, fictícia e ultrapassada, que se antgagoniza, literalmente, com a coerência e o sentido da civilização que o próprio séc XX pressupõe."
Este texto, é um excerto, de um artigo publicado por alguém conhceido, na revista Observador de 29 de Dezembro de 1972.
Esse alguém, tinha esta visão que aí fica exposta. A visão de uma Pátria enunciada; de um interesse comum acarinhado e de um desejo de progresso em que todos coubessem, sem predomínio das oligarquias.
No entanto, era um discurso situacionista e conformista. Não discutia a integridade nacional que incluia os territórios ultramarinos; não discutia o regime que era de ditadura; não discutia o sistema económico, a não ser no mais puro liberalismo que não admite oligarquias.
Sabem que era o autor do texto?
Direi a seguir, para se ver a diferença de mentalidade, antes de depois...
Concordo, no essencial com o que o José diz neste seu último comentário. A pergunta que coloca: Que se há-de fazer? Só pode ter uma resposta, continuar a criticar as opções políticas que vêm sendo tomadas no domínio dos investimentos públicos. Encontrar meios de expressar o nosso pensamento e procurar mobilizar outros para o mesmo fim.
Hoje os estudantes de Coimbra estão a manifestar-se contra o que chamam de privatização da Universidade. Bom seria que se manifestassem também ou que incluíssem nessa luta o reforço do investimento público na investigação.
Quanto à parte em que refere as fantásticas taxas de crescimento no antes 25 de Abril, confesso que não sei qual era a taxa de crescimento da economia em finais dos anos 60 início dos anos 70. Mas esse tão grande crescimento era a preços correntes ou a preços constantes? É que julgo que por essa altura a taxa de inflação anual já andava acima dos 5%.
E será indiferente o que estava na base desse crescimento? Como sabe, foi a forte abertura da economia portuguesa aos capitais estrangeiros, que vieram aproveitar os baixos salários e os recursos naturais (actualmente vão para outras paragens) que gerou aquilo que (também na economia) se designou por primavera marcelista.
Aliás, o forte desemprego com que o Norte e a região de Setúbal têm sido assolados, desde há vários anos, não tem a ver com isso mesmo? Com o tipo de investimentos que então foram efectuados, que mais uma vez não valorizava os recursos humanos, apenas aproveitavam o seu potencial de trabalho e a baixo custo.
Como sabemos não há regimes completamente bons nem completamente sãos. Se acreditamos que as opções que hoje são tomadas não são as correctas compete-nos dizê-lo independentemente de quem toma ou influencia essas decisões.
PS.: Quando ia colocar este comentário dei conta que o José tinha acabado de colocar outro. Vou ler.
Eu gostaria de lembrar ao josé algumas coisas:
1. angloa e o resto progrediram com a guerra não dúvida alguma. Ninguém o nega nem nunca negou. De resto o país metropolitano tambem cresceu por razões faaceis de descortinar onde nem sequer falha a nossa entrada na EFTA e o investimento estrangeiro.
2 quando se fala em esforço de guerra parece que se esquece que esse mesmo esforço tinha retornos importantes: os salários dos soldados eram enviados para as famílias e isso permitiu reais descolagens do consumo e de algum pequeno investimento
3 as remessas de emigrantes a partir de 64-65 começaram a ser espectaculares. Até a bolsa se animou!
4 o dr Salazar tinha um pensamento estratégico até inícios de 40. a partir daí navegou como pode e foi salvo pelo toque do gong, ou seja a guerra fria. De um momento para o outro foi considerado um cavalheiro onde antes era, e só, um pequeno ditador. Basta ler a imprensa internacional da época.
5 a partir de meados de 50 ou melhor a partir do furacão Delgado a coisa foi sempre um desastre. E defensivo. Houve que abrir o país ao turismo, tornear leis arcaicas, arcar com a perda de Goa, com as sucessivas fugas de Galvão, Delgado, dos comunistas (Peniche e Caxias) com a a reviravolta na elite estudantil que abandonou quase integralmente a nau do Estado Novo.
Um país para se governar precisa da sua "inteligentsia" e isso começou a ser terrivelmente sentido nos anos sessenta. Mesmo os tecnocratas que se juntaram a Caetano começaram a duvidar e a sair do barco. Exactamente como os militares cuja dissidencia vem de longe, craveiro Lopes, Botelho Moniz,Beja etc...
7 A internacionalização da economia ameaçava, e de que maneira, o regime portugu~es. e isto é tanto mais verdade quando se sabe que os grandes representantes do exíguo capitalismo nacional aderiram (alguns dirão: portunistamente...) à revolução de Abril.
8 O regresso dos retornados, já o disse e repito-o foi uma gigantesca oportunidade para Portugal e uma perda incomensurável para Angola e Moçambique.
alguém que se lembre diga-me de em finais de oitenta sainda se falava de retornados. claro que não: eles tinham feito algo de impensável: meteram-se por tudo o que era sítio, criaram pequenos negócios, tornaram-se mais normais dos que os normais. a este nível Portugal pode gabar-se que nunca soube o que era um pied noir. qua mesmo hoje ainda aparece em França!
Salazar (e Caetano) era um medíocre economista e tinha uma visão rural do país e da economia. e duvido aliás que sequer tivesse a partir de quarenta e tal o beneplácito da Igreja. Pelo menos há quem diz alto e bom som que não. E para quem se lembra da JUC e da JOC, para não falar do CADC a partir de meados de 60 isto é mais do claro.
Pessoalmente, já aqui o disse, sempre defini salazar com um reacionário jamais como um fascista. do ffascismo aproveitou os emblemas, a MP, a organização corporativa, a FNAT e a Legião mas capou tudo isso. Nem um partido de massas quis. Não gostava deles, não acreditava e julgava o fascismo pagão. Mas nisso que pareceria ter o selo da Igreja, também não seguiu as injunç~çoes do seu amigo Cerejeira. Aliás há uma carta deles onde se diz preto no branco. os nossos caminhos separam-se aqui. E nem uma universidade católica se conseguiu criar. E muito menos uma "Democracia Cristã" modelo italiano ou outro.
nota: esta intervenção é a latere mas não queria deixar passar em claro algumas afirmações do meu carissimo José.
Já que a esposa do Jaquim pede, eu que para além de compadre quero manter o estatuto de cavalheiro, também me sinto no dever de enviar uma “dicas”.
Aí vão; e tenham paciência para me ouvirem.
Tinha um amigo que me dizia que o desenvolvimento de um país derivava de três factores: vias de comunicação, recursos humanos e novas tecnologias.
Esqueceu-se de dizer que estes três factores deveriam funcionar ao mesmo tempo. Ou, como hoje se diz, interactivamente. Porque isso não aconteceu, as auto-estradas têm servido sobretudo para sair do interior e chegar depressa ao litoral. O resultado é a desertificação do interior, acentuada com o encerramento de escolas, hospitais, postos da GNR, etc.
O desenvolvimento dos recursos humanos depende dum boa política de ensino. Mas o ensino básico e secundário tem sido orientado por quem nunca deu aulas e importou acriticamente teorias aprendidas em doutoramentos e mestrados nas novas “ciências ocultas” (ciências da educação) inventadas pela necessidade de expansão de muitas universidades privadas americana. O resultado foi tornar o ensino numa actividade lúdica, onde o facilitismo passou a ser regra. Seguiu-se a desautorização dos professores e logo surgiu a violência nas escolas. No ensino superior, os que mais sabem (professores agregados e catedráticos) deixaram de dar aulas. O ensino superior privado e público ficou entregue a assistentes e prof. convidados. Tal como os supermercados, proliferaram as universidades e institutos (sobretudo de papel e lápis) por todo o lado, dando lucro a muita gente, mas, quanto á qualidade, a UnI é um exemplo bem sintomático.
Quanto á ciência e novas tecnologias há alguns nichos de excelência, mas muitos dos génios que por aí trabalham estão a “fugir” de Portugal. Eu conheço vários: um, é dos vinte melhores engenheiros informáticos do mundo, dá aulas na U.P, mas já me disse que ganha 5 vezes mais nos EU e vai para lá. Mas há outros: ainda há dias estive com uma jovem que ficou em Inglaterra e estou-me a lembrar do Velosa que ficou em Barcelona. Tudo por razões de falta de condições em Portugal e péssimos ordenados.
A ambição de um novo aeroporto na OTA ou de um TGV está de harmonia com o estilo novo-riquismo político, mas não se harmoniza com a urgente necessidade de pensar o que deverá ser Portugal nos próximos dez ou vinte anos. Esse novo-riquismo quer deixar a sua marca em grandes investimentos (elefantes brancos). Esta doença é antiga. Quem não se lembra do empreendimento do Cachão, em Mirandela?!... Naturalmente, os “homens” da construção civil ficam satisfeitos, mas depois regressa a crise com mais força, mais desencanto e mais sofrimento.
Para além da solução Portela mais Figo Maduro ter a vantagem dos custos, o transporte de grande velocidade tornou-se, com o terrorismo global, um risco e, com a subida do petróleo, este modelo de transporte vai ficando cada vez mais um privilégio de turistas endinheirados.
Há medida que vou deixando de contar os anos que arrasto comigo vou receando que, com os dirigentes políticos que temos tido, Portugal acabe por desembocar numa espécie de Cuba do tempo de Fulgêncio Batista.
Precisamos sobretudo e urgentemente de políticos capazes e não “famílias” do bloco central que só pensam num lugar á mesa do orçamento dos contribuintes.
Já repararam como se faz política, hoje?!... Vejam como fazem campanha os candidatos á autarquia de Lisboa!... Não trazem ideias geradoras de esperança, mas companhias notáveis e notável é quem tem dinheiro ou é muitas vezes visto nos media (e nem sempre isso significa ser bem visto!).
Para que haja políticos capazes é necessária uma profunda reforma do sistema político. E é isto que é inadiável. Sem esta reforma, a política continuará a ser uma espécie de rua de má fama por onde não quer passar quem tem categoria, gosta de pensar pela sua cabeça e tem sentido de honra.
Sem uma reforma dos partidos e do sistema político não aparecerá gente competente, que seja capaz de olhar por este País com olhos de Futuro.
Alonguei-me muito. Conto com a V/ tolerância para com o compadre esteves.
Que fique bem claro uma coisa: não sou, nunca fui e duvido que alguma vez seja adepto do salazarismo de Salazar. Mas sou adepto de uma série de coisas que havia nesse período e que podem muito bem ter ficado a dever algo a Salazar. Uma delas,é a seriedade monástica e o carácter somítico ( no bom sentido de poupar) da D. Maria ( que deveria ser uma intriguista de alto coturno, embora caldeada pelas confissões frequentes e pela devoção beatífica). Não serão só defeitos...
Dito isto, "O produto interno bruto terá vindo a crescer a ritmo mais favorável do que no ano passado ( em 1971 situou-se ao nível aproximado dos 7% depois de 8% em 1970).
"A formação bruta de capital fixo ( que em 1970 aumentava à alta cadência de 10,6% e que em 1971 teria acusado desaceleração notória) denuncia - a fiar nos escassos indicadores disponíveis- um movimento de recuperação, se bem que pouco nítido.
"O emprego cresceu".
"Observa-se uma retoma salutar e uma promissora firmeza de decisões ao nível das iniciativas dos sectores secundário e terciário."
"NO sector primário as produções srão, de um modo geral, superiores às do exercício precedente".
"Todos estes factos desenham um panorama conjuntural animador em termos de potencialidades efectivas de desenvolvimento da economia nacional em 1973."
A inflação era um problema, mas "tudo isto se conseguiu sem aumento da dívida pública ( que em 1964 era equivalente a 29% do PIB , percentagem que em fins do ano passado - 1972- descera para 21,4%).
A isto há a acrescentar o seguinte:
O esforço da Guerrra no Ultramar, significava, segundo a revista TIme de 5.11.1973 ( a que tem Nixon na capa a palavra Impeachment bem visível, embora só nove meses depois Nixon se demitisse), 35 a 40% do Budget nacional da época. Do Orçamento, saía quase metade para o esforço de guerra e mesmo assim Portugal crescia a 7, 8%!
A Time que intitulou o artigo "Sonhos desagradáveis", refeira-se às três Marias ( Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teressa Horta) num artigo não assinado ( mas da autoria de Martha Guerra da Cal).
Essa revista foi a que me elucidou pela primeira vez qual era o momntante do esforço de guerra português. De tal ordem que até sublinhei as frases. Tal como sublinhei que Portugal tinha nessa altura cerca de 1,600,000 trabalhadores emigrantes.
No entanto, na referida revista, um certo Balsemão, apresentado como editor do semanário Expresso, dizia que " We are at the bottom of any economic indicator you want to take". E ainda mais: "Our only competitor is Albania. Even the East European countries have surpassed us".
É verdade. Balsemão que cerca de um ano depois disso, tomou responsabilidades partidárias e depois governativas, nunca conseguiu melhorar os níveis albaneses da economia portuguesa de então...
Se tivesse vergonha naquela cara!
Este apanhado, foi o sumo da conferência de imprensa dada pelo ministro Cotta Dias, em 18 de Dezembro de 1972 no Palácio Foz, tgal como publicada pela revista Observador da época.
Para que se perceba um pouco melhor o texto:
As passagens com aspas, com referências a estatísticas, foram retiradas da revista Obervador e da conferência de imprensa do ministro COtta DIas, na data indicada.
Quanto ao autor da passagem anterior sobre a Pátria e o Ultramar e a coesão nacional é nada mais nada menos do que o conhecido economista A. SIlva Lopes!
Um dos que se gaba de nos ter safado da banca rota, em 1974-75...
COmo se pode ler, uma vira-casaca.E que ainda hoje é escutado nos meios e manda no Montepio. Sempre mandou em qualquer coisa, aliás.
Ou...não será. Caso esse em que meti a pata na poça, por mor da vontade que fosse.
Silva Lopes chama-se José e não lhe apanho qualquer A.
Enfim. Fica a correcção.
intervenção é a latere
Esqueci-me de responder à questão "a latere" do compadre José.
Não gosto de entrar em polémica sobre o fscismo, por muitas razões que não interessa para aqui.
Mas não posse deixar de dizer que existiu de facto fascismo em Portugal e caracterizo-o pelo seguinte: obediência a uma ideia de Pátria divinizada, identificação dos valores da Pátria com os valores do chefe do governo, exaltação do valor da mocidade e da família, culto da obediência cega aos superiores, princípio da superioridade do poder político sobre a vida social, enquadramento das massas no seguir um chefe, polícia política e repressão por delito de opinião.
Ninguém pode duvidar (sobretudo quem sofreu a prisão política) que estes ingredientes faziam parte do salazarismo.
Por alguma razão Salazar esteve ao lado de Hitler, fornecendo produtos alimentares, matérias-primas, equipamentos, ou seja, tudo o que precisava a Alemanha nazi para continuar a guerra, guerra gerada pela ideia esquizofrénica de um império de uma raça pura. Ideia de império que serviu também a Salazar para teimar numa guerra colonial injusta e sem sentido.
Meu caro Primo:
A discussão sobre o Fascismo pátrio, já em tempos aqui se fez, com intervenção garbosa do MCR que mais uma vez concorda que de facto, não houve fascismo tal quale.
Aliás, na altura citei Norberto Bobbio, um intelectual de esquerda que se deu ao trabalho de estudar estas coisas, sendo italiano e conhecedor dos verdadeiros fascistas,de Mussolini.
Também o historiador João Medina, apesar de marcadamente de esquerda ( isto é tudo de esquerda por essas bandas), tratou o assunto e distingiu Rolão Preto de Salazar.
O problema com a palavra em si mesma, é um problema real, porque "No princípio era o Verbo".
E que se apropriou do Verbo, nesse caso usurpou o conceito e adulterou a linguagem. Essa entidad chama-se Partido Comunista Português que nunca por nunca irá abandonar a definição que lhe dá vida e alento. Se assim não fosse, como é que poderiam dizer-se antifascistas?!
Tinham que mudar de linguagem como fizeram o PCI e o PCE. E isso, ser-lhes-ia fatal. NO entanto, tenho dito que é isso mesmo que têm de fazer: transformarem-se num partido social democrata como o PS o é e concorrerem com o mesmo no mesmo campo ideológico.
Até podiam mudar de nome como fizeram os italianos. Cá, poderia chamar-se zépovinhos. Partido dos zé-povinhos...
Concordo com o MCR acerca do “boom” angolano e da influência que terá tido no crescimento continental. Ainda que este esteja mais relacionado com o sector exportador (têxtil, pasta de papel, reparação naval, …) do turismo e com o forte e crescente peso das remessas dos emigrantes.
Quanto ao autor do texto, não também não me admiraria se fosse de Veiga Simão (então um jovem e promissor delfim de Marcelo) ou, porque não, Adriano Moreira. É um texto marcadamente ideológico, apologético, mas já premonitório… porque já espreitavam os perigos.
Quanto a Salazar, bom, no plano das finanças públicas está mais actual que nunca, Veja-se o que dizia em 1928 “Há quem ingenuamente pense que o equilíbrio orçamental é uma obra acabada, neste sentido de que, uma vez obtido, se pode substituir o Ministro das Finanças por um carimbo de autorizar. Infelizmente, o equilíbrio financeiro é uma obra sempre a recomeçar, porque a acção do tempo modifica, substitui, destrói as bases em que o trabalho deve assentar em cada ano”.
Há quantos anos e quantos ministros têm vindo a trabalhar para o equilíbrio orçamental? Com que sucesso?
É que para ser bem sucedido é necessário que “o orçamento que se apresenta não resultou de artificiosas combinações: é o que sinceramente se espera que seja, é o que, em face dos factos e dos números conhecidos, há o direito de esperar que sejam”. (Salazar, na apresentação do Orçamento de 1928/29).
Está-se mesmo a ver que é esta a preocupação norteadora dos últimos ministros das finanças. É que se fosse não haveria TGV e a OTA só se os privados a pagassem.
Caro José, das suas palavras ressalta um sentimento extremamente negativo relativamente à esquerda portuguesa em geral e ao PCP em particular. Já ouvi muitas vozes parecidas e o que gostaria de lhe dizer é que é impossível ter um raciocínio objectivo com tais sentimentos pelo meio. É muito difícil abstrairmo-nos do que sentimos para tecer análises sobre factos. Estes facilmente viram opiniões, a maioria das vezes afundadas nos nossos fantasmas. Somos todos assim. Apenas refiro isso agora porque não vejo grande distanciamento na sua análise. Quando algo corre mal e estão metidas pessoas pelo meio, há sempre culpas, mais conhecidas por responsabilidades, de muita gente. E, o mais certo, é que toda essa gente não seja do mesmo lado da barricada.
Assim é, meu olhar.
Mas, repare: todas as soluções políticas apresentadas pelo PCP ( este PCP), em matéria económica, não tem qualquer viabilidade nos tempos que correm e nunca deveriam ter tido.
Estou a falar de nacionalizações e colectivização da economia, centralização dos serviços do Estado no Partido; domínio de todos os sectores da administração, incluindo a amálgama dos poderes do Estado, numa inversão dos princípios da divisão de poderes que regem as democracias europeias.
Tudo isto que escrevi são realidades em projecto no programa do PCP. Tudo isso seria a normalidade democrática, no caso de o PCP ter assumido o poder político em Portugal em 1975.
Tudo isso significaria o mergulhop numa ditadura insuportável para o povo português que acabara de sair de uma outra, mais soft.
Acha que depois disto que escrevi e que são realidades práticas que só não se concretizaram porque o povo se opôs a tal, ainda devemos ter respeito pelo PCP que nunca se democratizou e anda há trinta anos a viver dos restos do seu programa que subsistem na Constituição?
A defesa dos trabalhadores não
é feita também pela UGT de modo convinvente e consequente?
Para que precisamos nós de um PCP assim? Antidemocrático como qualquer partido de extrema direita e sectário como só um partido estalinista o consegue ser?
Para a diversidade cultural?
Ainda o tema do “fascismo”
Do que li de Norberto Bobbio e do historiador João Medina (que não serão propriamente referências para a esquerda) ficou-me a ideia que defendiam a existência de vários fascismos e que o de Salazar não era idêntico ao Italiano. Mas, não ser idêntico não significa que não tenham uma configuração semelhante.
Penso que houve na ideologia do Estado Novo todos os elementos essenciais que caracterizam o fascismo. Na altura em que esta questão foi discutida aqui, com MCR, a minha posição foi a que defendo hoje. Aliás, lembro-me que citei, nessa altura, um ou outro historiador que defendia precisamente o que eu defendi e defendo. Mas podia citar muitos outros que, hoje, continuam a defender que existiu fascismo em Portugal.
Há pouco não referi uma questão que a maioria dos historiadores concordam: a ideia de pátria para o fascismo não é a ideia de terra, onde nascemos e convivemos, mas a de raça com uma missão. E este conceito é claro no dever de defender a pátria atacada, segundo Salazar, nas suas colónias.
Naturalmente, o conceito “fascismo” é, como sabe, um conceito ideológico. E, sendo assim, não há uma definição científica, acabada, pura, nem depende apenas da autoridade de alguns historiadores, mas depende do ponto de vista de quem o analisa.
O meu ponto de vista é claro: Salazar transformou a sua ideologia numa religião, divinizou a ideia de pátria e fez do corporativismo a única forma de estabelecer a mediação nas relações entre trabalhadores e patrões. Pelo menos a isto já chamo fascismo.
Estou com um olho no “prós & contra” e outro neste tema. Está-me a interessar o debate.
Até amanhã.
Ainda por cima estou plenamente convencido que o PCP dominou e domina a linguagem política que permite a discussão sobre o "fascismo", sem qualquer nuance que outros, noutros lados ( França, Itália e Espanha, por ex.) fazem. As noções de esquerda e direita, não têm qualquer sentido se não incluirem o PCP, como símbolo da esquerda. Aliás, a esquerda, para mim, é o PCP e nada mais. Os outros que se reivindicam são meramente socia-democratas.
Logo, a linguagem que temos vindo a usar, ao longo dos trinta anos, está profundamente adultarada na semântica original e o discurso do PCP, que abrangia dantes as menções à "burguesia" e ao "Povo" com significados precisos, mudou ligeiramente, porque o PCP abandonou o radicalismo a propósito da burguesia, ficando essa margem linguística para a extrema esquerda, mas nunca a abandocou de todo. COmprei há pouco a revista Militante.
O imaginário continua todo lá: imperialismo, fascismo, luta de classes, direita, abrangendo desde o PSD até ao CDS como dantes, marxismo-leninismo, justiça de classe, reaccionários, etc etc.
Toda, mas mesmo toda a linguagem comunista se encontra lá concentrada como se não tivéssemos saído de 1975.
É disto que precisamos?!
Primo de Amarante:
Estaria disposto a aceitar a palavra "fascismo", como designadora do Estado Novo salazarista se ela não tivesse o significado pervertido que o PCP lhe deu.
Para o PCP, o fascismo de Salazar é igualzinho ao de Caetano, porque os fundamentos do "antifascismo", eram os mesmos e os comunistas combatiam contra esse "fascismo" que os metia nas cadeias.
COmo alguém já disse e muito bem ( Rui Ramos, histpriador) o que se passou com o >Estado Novo e o Partido Comunista foi uma guerra civil declarada. O PCP era um partido ilegal ( como o PS e outros o eram, mas existiam movimentos que os incluiam - CDE, CEUDEs etc) e a ideologia comunista era abertamente combatida pelo Estado Novo.
Devemos agora reconhecer que o Estado Novo, nesse aspecto tinha inteira razão.Só o não reocnhece quem não quer pensar duas vezes nas propostas reais do socialismo à la Cunhal.
Na Polónia, agora e noutros países de leste, a perseguição que se faz aos comunistas deveria dar que pensar aos que apoiaram e apoiam o PCP de cá.
Quando digo que o Estado Novo tinha razão na perseguição ao comunismo, não quero significar que deveriam ser perseguidos criminalmente e metidos nas prisões.
Digo que deveriam ter sido perseguidos ideologicamente como foram, mas em democracia, como na América de algum modo fizeram, mesmo que não defenda o MCarthysmo.
Acho que nesse aspecto a Europa democrática deu o exemplo e por isso é que os partidos comunistas desapareceram em toda a Europa. O PCF acaba de se evaporar.
E muito bem.
Dito isto, sei muito bem que muitos militantes comunistas ( conheço alguns assim), são pessoas do melhor carácter que pode haver e do melhor que o ser humano pode apresentar como exemplo.
É por isso que fico perplexo, muitas vezes, com a dificuldade em tais pessoas verem o que parece óbvio aos demais.
Não conseguem vislumbrar a sombra sequer do jugo ditatorial no programa que defendem.
E isso sempre me pareceu incrível.
Quanto a caracterizar o regime do estado novo com fascista. Identifico-me, por completo, com a posição expendida pelo Primo de Amarante. É óbvio que houve fascismo porque todos os ingredientes ideológicos do fascismo podem ser reconhecidos no ideário do Estado Novo.
Quanto ao PCP. Tal como o José diz que tem dificuldade em entender alguns comunistas bons que conhece eu também confesso que tenho dificuldade em o entender.
Por um lado, diz que, e cito, “Tudo isso seria a normalidade democrática, no caso de o PCP ter assumido o poder político em Portugal em 1975”. Mas não foi e já lá vão 32 anos.
Então, se não assumiu o poder, e já lá vão 32 anos, para que travar um combate como se o PCP tivesse efectivamente exercido esse poder? Será que tem receio que o PCP venha a assumir o poder? E mesmo que isso venha a acontecer, acha que terá condições para perturbar a “normalidade democrática”? Mas, por outro lado, não é contra esta (a actual) “normalidade democrática” que o José tanto se tem batido? Afinal de contas qual é a “normalidade democrática” que defende?
Outra conclusão do José é o que se o PCP tomasse o poder em 1975 “significaria o mergulhop numa ditadura (…) que só não se concretizaram porque o povo se opôs a tal”.
Mas se foi assim, então, para quê continuar, 32 anos depois, a pensar como se o PCP tivesse imposto a tal ditadura que nunca impôs (e que jamais saberemos se seria mesmo uma ditadura, quer pelas posições de muitos membros do PCP à época, quer pelas condições geo-políticas do país).
Concordo com o José quando diz que “as noções de esquerda e direita, não têm qualquer sentido se não incluirem o PCP”. Contudo, já me parece um claro exagero considerar que a esquerda é o PCP e nada mais. Mas também aqui se pode detectar uma contradição com o que disse anteriormente. Se para o José a esquerda se resume ao PCP e se o PCP nunca exerceu o poder, como reconhece, então, como pode atribuir todos os males do país à esquerda?
Por fim, o Militante. Trata-se de uma revista de cariz profundamente ideológico. É natural que veicule o ideário do PCP. Não vejo qualquer problema nisso. Lamentável é que não haja debate ideológico por parte das outras forças políticas que apenas se ocupam da gestão de casos.
Caro amigo José.
Perdoe-me a franqueza: eu nunca pertenci ao PCP, mas foi a luta dos militantes do PCP que me ajudaram a ser mais solidário, mais preocupado com os problemas da injustiça social. «Li tudo o que consegui ler sobre os teóricos do comunismo e penso que desde Marx deram um contributo fundamental (no plano das ideias) para fazer avançar o mundo no sentido de o tornar mais humano.
Além disso, temos os mártires por esse ideal, que nunca se aproveitaram do Estado estalinista, do totalitarismo comunista, e que só pensaram na construção de um mundo mais fraterno. E esses não podemos deixar de admirar e de ter para com eles uma divida. É que todos nós beneficiamos desse património de luta.
Mas também me impressionou a minha ida a Praga no tempo do comunismo, o “arquipélago do Gulag” e, sobretudo, aquele pequenino opúsculo de Alexandre Soljenitsine “venho dizer-vos a verdade”.
Porém, lembro-me de um pensamento de Descartes que é mais ou menos o seguinte: “o bom senso é o ponto mais afastado dos extremos”. Sem ter em conta os contributos dos extremos ninguém poderá encontrar esse ponto de equilíbrio.
O meu amigo é de um anticomunismo cego e recusa os contributos ideológicos do comunismo (digo ideológicos!)na luta por um mundo mais justo (e continua a dar em todos os planos: social, económico e político) e, sendo assim, por mais voltas que dê perde a razão: torna-se parcial, fica só de um lado!
Quando ao fascismo, não o podemos esquecer. Só a fria lembrança do Terrafal e as prisões arbitrárias da PIDE, bastam para provar que é um poderoso mal a repudiar. Não podemos (no meu entender!) cair num certo comunismo intelectual que faz uma revisão da história muito parcial e injusta: condena o totalitarismo de estado de esquerda e absolve o de direita.
Há já quem desvalorize, inclusivamente, o holocausto nazi!!!
O João Bernardo publicou, na Edt. Afrontamento uma reflexão histórica-filosófica em três grandes volumes: “Poderes e Dinheiro” e uma outra, também volumosa, sobre “Labirinto do Fascismo”.
Como o meu amigo sabe, a reflexão sobre o fascismo é política. A historiografia contemporânea prende-se mais com os factos e desvia-se da reflexão política dos mesmos, deixando isto para a filosofia da história.
Um abraço
Reparo que há alguns problemas de vírgulas no meu texto.
E onde digo "comunismo intelectual" queria dizer "comodismo intelectual”.
É o comodismo do pensamento confortável que segue o paradigma que domina hoje o pensamento na poltrona.
Peço desculpa
Quanto a caracterizar o regime do estado novo com fascista. Identifico-me, por completo, com a posição expendida pelo Primo de Amarante. É óbvio que houve fascismo porque todos os ingredientes ideológicos do fascismo podem ser reconhecidos no ideário do Estado Novo.
Quanto ao PCP. Tal como o José diz que tem dificuldade em entender alguns comunistas bons que conhece eu também confesso que tenho dificuldade em o entender.
Por um lado, diz que, e cito, “Tudo isso seria a normalidade democrática, no caso de o PCP ter assumido o poder político em Portugal em 1975”. Mas não foi e já lá vão 32 anos.
Então, se não assumiu o poder, e já lá vão 32 anos, para que travar um combate como se o PCP tivesse efectivamente exercido esse poder? Será que tem receio que o PCP venha a assumir o poder? E mesmo que isso venha a acontecer, acha que terá condições para perturbar a “normalidade democrática”? Mas, por outro lado, não é contra esta (a actual) “normalidade democrática” que o José tanto se tem batido? Afinal de contas qual é a “normalidade democrática” que defende?
Outra conclusão do José é o que se o PCP tomasse o poder em 1975 “significaria o mergulhop numa ditadura (…) que só não se concretizaram porque o povo se opôs a tal”.
Mas se foi assim, então, para quê continuar, 32 anos depois, a pensar como se o PCP tivesse imposto a tal ditadura que nunca impôs (e que jamais saberemos se seria mesmo uma ditadura, quer pelas posições de muitos membros do PCP à época, quer pelas condições geo-políticas do país).
Concordo com o José quando diz que “as noções de esquerda e direita, não têm qualquer sentido se não incluirem o PCP”. Contudo, já me parece um claro exagero considerar que a esquerda é o PCP e nada mais. Mas também aqui se pode detectar uma contradição com o que disse anteriormente. Se para o José a esquerda se resume ao PCP e se o PCP nunca exerceu o poder, como reconhece, então, como pode atribuir todos os males do país à esquerda?
Por fim, o Militante. Trata-se de uma revista de cariz profundamente ideológico. É natural que veicule o ideário do PCP. Não vejo qualquer problema nisso. Lamentável é que não haja debate ideológico por parte das outras forças políticas que apenas se ocupam da gestão de casos.
Meu caro JSC:
Passo a questão da classificação teórica do regime de Salazar/Caetano como fascista. A minha opinião é diferente da vossa e em meu apoio, por exemplo, trago o personalismo cristão que nunca foi fascista. Também reafirmo que a taxinomia interessa sobretudo ao partido comunista que não larga mão do conceito sob pena de perder a sua identidade. Quem passou mais de 60 anos a vituperar o fascismo aqui e acolá e ainda ali, reivindicando-se do antifascismo militante, não pode assim do pé para a mão, alienar ( conceito marxista) o termo e começar a escrever ditadura ( também há a do proletariado…) ou totalitarismo ( et pour cause).
Para findar esta parte direi que o regime de Salazar/ Caetano não era e nunca foi fascista. Foi antes um regime corporativista, inspirado pelos ensinamentos da Igreja Católica das encíclicas Rerum Novarum e Quadragésimo Anno e do Código Social de Malines. A Censura? É verdade. A prisão política? Também é. E no Comunismo não existiu igualmente disso, com muito maior rigor e crueldade? Isso faz do Comunismo um Fascismo?
Assim, vou direito às contradições que a meu ver não existem.
O PCP não assumiu o poder político senão durante uns meses fugazes em 1975, em que se tentou transformar Portugal num país a caminho de uma sociedade sem classes.
Apesar de nunca ter tomado o poder político de modo total e como era propósito do PCP, algures nos primeiros meses de 1975, a verdade é que o poder político, seguiria um outro poder: o ideológico. Este, o PCP tomou-o. E de modo determinante, durante os anos que se seguiram.
Em 1974, o poder caetanista acabou. Com ele acabaram os órgãos de informação de massa ligados a esse poder que nada tinha a ver com o comunismo. Mas já tinha a ver com a social democracia.
Ora a social democracia, era algo que o PCP nunca admitiria em Portugal, caso tomasse o poder político. Como também não admitirua a chamada democracia parlamentar “burguesa”. Cunhal chegou a dizer que Portugal nunca seria uma democracia burguesa. É verdade…então, porque é que continuo a afirmar que o PCP teve uma influencia de tal ordem que ainda hoje se sente e é preciso ser combatida, em nome das ideias anti-totalitaristas?
O PCP, durante dois anos- 74-76, logrou a ocupação e colocação de militantes, simpatizantes e compagnons de route, em todos os postos chaves do poder: No legislativo, com uma massa de deputados maioritariamente de “esquerda” que aprovaram em 1976 uma constituição nitidamente marxista e que só nos anos noventa foi mudada. Pode dizer-se que pouca influência teve, porque na prática ninguém ligou ao artigo 1º que falava em Portugal a caminho de uma sociedade sem classes, rumo ao socialismo. Mas isso não é verdade. O princípio sagrado das nacionalizações irreversíveis, numa expressão nítida do centralismo e do colectivismo, foi aceita por quase todos os partidos políticos, porque lhes interessou durante muito tempo: foi o alfobre de muita colocação partidária; de muita corrupção e de muita má gestão, com empregos garantidos para muitos militantes de todos os partidos. O Estado, aqui, ficou a dever tudo a quem? Ao PCP e às ideias de esquerda, que agora todos reconhecem estar erradas. Quanto tempo foi preciso para chegar a esta conclusão? 20 anos no mínimo! Culpa de quem? Do PCP e do PS. Da esquerda que temos. Ou melhor, tínhamos, antes de o PS meter o socialismo na gaveta.
As ideias têm muito peso e perduram durante anos e anos. É por isso que após 32 anos continuam certas ideias de esquerda a fazer caminho.
A pior delas todas e é por isso que continua a ser válida a luta ideológica passados estes anos todos, é esta:
A ideologia marxista, tal como defendida pelo PCP ainda hoje ( ler O Militante, assegura-nos sem margem para qualquer dúvida que assim é), é uma ideologia errada. A prova dos erros está à vista em todos os países de leste. Alguns deles, têm tanta noção destes erros e dos perigos que a mesma ainda representa que decidiram proibir e perseguir politicamente os partidos comunistas, como por cá se fazem aos de extrema direita. Lá sabem por que o fazem, mas é fácil de perceber: sentiram na pele o horror. Sim, o horror que muita gente por cá nem sequer admite discutir, porque há um bloqueio mental, em muita gente que tendo sido comunista ou adepta de ideias de esquerda, subsidiárias do PCP, que os impede de analisar friamente aquilo em que supostamente acreditam ou defendem.
O que significa o comunismo, tal como o pretende o PCP, ainda hoje?
Significa acreditar numa filosofia da História, sendo esta o resultado determinado dos processos de produção de bens que são escassos. Criu uma sociologia que parte da ideia que o Homem é essencialmente um produtor e o valor de trova das mercadorias se mede pela quantidade de trabalho humano nelas incorporado e por isso, conclui que a sociedade está dividida em duas classes: a dos que produzem e a dos que não produzindo detêm os instrumentos de produção. Consideram assim que entre essas duas classes- o povo e a burguesia- há necessariamente luta. É esta luta que está no centro da dialética histórica e que conduz…à Revolução! Esta grande Revolução destina-se a um objectivo nobre: alcançar a sociedade sem classes. Como o Estado é fruto da divisão das classes, deixaria então de haver Estado e como tal desiderato demora o seu tempo, então, primeiro que tudo é preciso compreender a fase transitória na qual o poder ficaria nas mãos do proletariado até à destruição total da burguesia. Para tal, a ditadura é uma necessidade justificadíssima.
Durante esta ditadura, a luta é um estádio supremo e feito de horrores de perseguições aos dissidentes desta Verdade absoluta, mantida em vigor pela democracia popular, a verdadeira democracia.
Quando o PCP fala em democracia e em conquistas democráticas dos trabalhadores, refere-se exclusivamente a tudo o que enforme este entendimento ideológico.
Durante esta ditadura, o Estado detèm todos os instrumentos de produção, originando um capitalismo de Estado e uma superestrutura dirigente, o Soviete supremo que tudo controla e verifica, incluindo os instrumentos de repressão, censura e controlo de mentalidades para a construção do Homem Novo que verá os amanhás a cantar.
Tudo isto que acabei de escrever é a realidade ideológica do nosso PCP actual e de sempre.
Desculpar, contemporizar, entender, contextualizar este horror, é um … atentado ao senso comum que prevalece na sociedade actual ocidental.
É por isso que entendo que o PCP não tem qualquer razão de existir enquanto partido sério e concorrente a um governo na democracia parlamentar e ocidental que temos.
Para mim, o PCP tem tanto sentido de existir, como qualquer partido de extrema direita.
Em nome da tolerância democrática devem admitir-se na expressão das suas ideias. Mas atenção! Que exprimam mesmo as ideias e nãso a dissimulem, com vista a comquistar as boas graças dos eleitores que facilmente são levados pelo canto de sereia de defesa dos interesses dos trabalhadores patati patata.
Há países europeus ( quase todos) em que este discurso que aqui faço já é compreendido e aceite.
Por cá, por força de uma misteriosa lavagem cerebral, o PCP ainda tem uma respeitabilidade que não merece de todo em todo e ninguém o denuncia para além dos chavões habituais de o apodarem de “estalinista “ e outros mimos com que eles podem muito bem, porque denunciaram Estaline em 56, mas não o apearam do imaginário…
Desculpar e aceitar o comunismo, em nome das ideias de esquerda que se não fossem eles nunca seriam conquistadas é um sofisma: parte do pressuposto que só o partido comunista é o que defende os direitos dos trabalhadores.
Isso não é verdade, nas democracias que temos nem a defesa dos trabalhadores deve partir desse pressuposto ideológico.
Há um "acquis" civilizacional que não é exclusivo dos partidos comunistas.
Nem sequer a social democracia deve entender-se como um subproduto socialista, mas sim uma modo de organizar a produção e organização social de acordo com um Humanismo, por exemplo.
Falei na Igreja e nas suas encíclicas. A Igreja ao longo dos seus dois mil anos, é mais antiga que o ideiário da Igualdade e fraternidade da Revolução do séc XVIII.
Antes disso, a Caridade cristâ, conseguia milagres para com os pobres e a sociedade esteve organizada de modo diverso daquele que Marx e Engels descrevem.
Atribuir toda a ideia de solidariedade e atenção aos pobres e mais desfavorecidos, não é exclusivo da esquerda. Nunca foi, não é e nunca será.
Meu caro Primo de Amarante:
Umberto Eco, que admiro, publicou em tempos um pequeno ensaio sobre aquilo que configura como o proto-fascismo, referido a comportamentos sociais e políticos que já pouco têm a ver directamente com o fascio italiano dos anos vinte e trinta.
Mas como sabemos, Eco é um expert em semiologia e em tirar coelhos de cartolas semânticas.
O fascismo-ur, o proto-fascismo, é já, por isso mesmo uma expressão semiótica, na qual poderíamos muito bem incluir o...comunismo.
Aliás, as diferenças, são apenas nos princípios de orientação ideológica. Os métodos, modos de organização e até parafernália ( juventudes comunistas, fardas, gestos, música etc etc) é tudo muito semelhante.
No meu comentário anterior apenas procurei relevar as contradições que me pareciam (e parecem) existir no modo como analisa o papel do PCP.
1.ª) Diz que o PCP nunca teve o poder, para logo o responsabilizar pelos males que poderiam advir se tivesse exercido esse poder;
2.ª) Diz que o PCP é a esquerda (e que nunca teve o poder). Mas imputa tudo o que de mal tem acontecido à esquerda;
3.ª Diz que se o PCP tivesse tomado o poder teria perturbado a normalidade democrática. Mas todo o seu discurso vai no sentido de criticar a normalidade democrática em que vivemos.
Com as achegas anteriores que o José nos deixou não me parecem que tenham esclarecido estes pontos. Pelo menos para mim.
Parece-me exagerada essa ideia de que o PCP continuou a nomear e a dispor de pessoas em lugares chave. Todos sabemos que as empresas públicas, institutos públicos e entidades afins têm sido o destino de clientelas partidárias. Mas dos partidos que detêm o poder. Ora, como concluiu, o PCP nunca teve de facto o poder e o poder que conseguiu partilhar estilhaçou-se ainda em 1975. Portanto…
Para findar, por agora, acredita mesmo que Salazar se inspirava nos ensinamentos da igreja da encíclica Rerum Novarum? Mas não era exactamente esta encíclica que apontava o caminho do socialismo mitigado? Por este andar ainda vamos concluir que Salazar foi um proto-socialista.
"1.ª) Diz que o PCP nunca teve o poder, para logo o responsabilizar pelos males que poderiam advir se tivesse exercido esse poder;
2.ª) Diz que o PCP é a esquerda (e que nunca teve o poder). Mas imputa tudo o que de mal tem acontecido à esquerda;
3.ª Diz que se o PCP tivesse tomado o poder teria perturbado a normalidade democrática. Mas todo o seu discurso vai no sentido de criticar a normalidade democrática em que vivemos."
Vejamos:
Disse que o PCP nunca teve todo o poder político que almejou. Teve algum poder político durante alguns mesmes, em que procurou por em prática algumas das ideias. Uma delas, era a censura de imprensa, como muito bem exemplificou Saramago no Diário de Notícias e o próprio Vasco Gonçalves ameaçou na tv ao apodar de reaccionários e contra-revolucionários, os jornais República ( de Raul Rego) Expresso e Jornal Novo ( de Artur Portela Filho).
Teve ainda a oportunidade de se opor a greves convocadas por sindicatos outros que não a CGTP. A propósito disto, tentou a unicidade sindical, no que foi contrariado pelo PS. E ainda tentou, conseguindo em parte, tomar conta da direcção do Sindicato do MP. Dos juízes, não conseguiu.
Mas esse poder político mitigado era apenas uma parte do poder de que falo. A maior fatia, é a referente ao poder ideológico que conseguiu impor na maioria dos órgãos de comunicação, da tv aos jornais passando pela rádio.
Este poder ideológico não é apenas do PCP, mas sim de todas as forças de esquerda clássica à qual o PS aderia então, antes de colocar o socialismo na gaveta, tal como Miterrand em França, colocou uma pedra nas veleidades nacionalizadoras, ao ver o capital a fugir e a França a ficar para trás no desenvolvimento. Por cá, isso não chegou a acontecer porque as nacionalizações do 11 de Março de 1975 foram aplaudidas por todos os revolucionários e compangons de route. Mário Soares e o PS, apesar de ter lutado contra o PCP que pretendia impor um regime comunista, aplaudiu as nacionalizações, concretização prática do caminho para o socialismo e só 15 anos depois concedeu em mudar a constituição.
É por essa razão que digo que o PCP teve mais influência do que parece, no nosso país, mesmo que nunca tenha obtido o poder político total.
Quando digo que o PCP para mim, é a verdadeira esquerda, digo-o porque sinto que assim é, agora.
O PS é um partido social democrata, como o PSD e o próprio CDS no programa primitivo, apesar de ter sido o único partido que em 1976 votou contra a Constituição, admitia um certo pendor socializante também.
O PCP é a verdadeira esquerda que temos, porque o seu programa é efectivamente revolucionário em relação ao capitalismo que todos os outros defendem em maior ou menor grau.
Logo, a esquerda do PS, é assim a modos que e que não se distingue da direita do PSD ou do CDS. Como aliás se tem demonstrado e os próprios comunistas não se cansam de proclamar com toda a razão, aliás.
Eu não critico a normalidade democrática em que vivemos, no campo dos princípios. Temos uma democracia parlamentar tipo ocidental, tal como a querem todos os partidos, excepto o PCP e talvez o BE ( embora este partido seja uma incógnita, no seu trotskismo envergonhado). O que critico é o regime político que temos relativamente às escolhas das pessoas que fazem parte dos partidos e dos órgãos de poder. O sistema de escolha democrático agora, simplesmente não funciona como deveria, com alternância real e com gente escolhida pelo valor real.
Em suma, quando imputo o mal de que padecemos, à esquerda, quero com isso significar que a essência da esquerda, que veio da ideologia comunista, permeou toda a sociedade, através do discurso político dominante e muitas ideias que se ouvem e lêem são efectivamente tributárias da esquerda comunista.
Uma delas é precisamente a de se qualificar o regime de Salazar/ Caetano como fascista. Outra, diz respeito à organização económica centralizada no Estado e tributária do colectivismo das nacionalizações.
Outra ainda é a linguagem corrente marxista que permeia muita da nossa sociologia.
É na ideologia disseminada que a esquerda ainda predomina.
Quanto à Rerum Novarum:
Acredito que sim. O corporativismo vem daí. E foi o próprio Marcelo Caetano, herdeiro do salazarismo quem o afirmou por escrito.E sim, tem a ver com ideias socializantes, o que demonstra que afinal o socialismo foi beber à encíclica que já vem do séx XIX...
ahahahahah!
A tempo:
quando digo que o regime saído do 28 de Maio é distinto de um modelo fascista não quero dizer que não se ornamente de vários elememtos fascistas e/ou fascizantes.
comecemos: durante um par de anos (de 26 a 33) viveu-se em regime de ditadura (a Ditadura Nacional) onde curiosamente e apesar do nome houve ainda possibilidades de confrontos civis, sociais e militares de vulto. As diferentes revoltas militares com especial relevo para a de 27 (a mais sangrenta), as tentativas de conciliação (algumas vezes conseguidas) com republicanos, a tentativa de deriva fascizante dos camisas azuis, sufocada no ovo com consequencias várias (incluindo alianças de Rolão Preto com reviralhistas) e finalmente as sucessivas depurações no exército (e as sucessivas intentonas militares) tornaram este período brutal numa antecamara pálida do regime duro aparecido depois da constituição de 33.
É nesta altura que salazar com enorme habilidade constroi um regime "aparentemente" aparentado com o de Mussolini mas despido na prática de qualquer real e concreta semelhança.
1. Não há partido único, a menos que alguém queira ver na triste União Nacional um NSDAP ou um Fascio.
2. A União é apenas um grupo de criaturas comandadas sem chefes intermédios, sem ideologia ( a pouca que restaria fosse monárquica, integralista ou nacional sindicalista estava domestica e domada e á mercê de um chefe recolhido, eremita, distante, avesso a cultos de personalidade e a banhos de multidão)
3. O enquadramento da juventude andou daqui para ali, sem rei nem roque, foi esmorecendo antes de nascer (p.ex. a MP feminina mesmo com a senhora Guardiola foi de pouca implantação entre as raparigas) e nunca abrangeu mais do que parte da juventude estudantil dos liceus e escolas comerciais. Parte! só parte!
4 a Legião Portuguesa nunca conseguiu sequer ser uma milícia do partido (que não havia) do regime, que nunca lhe permitiu grandes voos e foi sempre discretamente enquadrada por militares fieis, oriundos do Exército e claramente opostos a que a Legião fosse mais do que realmente foi: um ajuntamento de criaturas pouco politizadas mais capaz de varrer feiras a varapau do que ser um aparelho politico-militar de elite.
5 O enquadramento dos trabalhadores fez-se nos sindicatos nacionais onde a inscrição não era obrigatória nem especialmente desejada e desprovidos de real peso na tomada de decisões. O enquadramento dos camponeses - a maioria da força de trabalho- nunca teve expressão real apesar das casas do povo talvez porque houvesse regionalmente grandes discrepancias (pequenissimos proprietários por vezes recorrendo ao assalariado no norte e centro e proletários agricolas no alentejo despovoado). Já os pescadores foram de facto forçados a inscrever-se nas Casas de Pescadores mas mesmo estas pouco mais eram do que as tradicionais "cofradias"espanholas, isto é não tinham finalidades políticas de arregimentação.
As restantes organizações de massas e de enquadramento dos tempos de ócio (FNAT) governavam-se pelo mesmo exacto critério: lassas, pouco politizadas, meramente instrumentais.
Mesmo quando se copia a Itália (Estatuto do Trabalho Nacional) dá-se-lhe a volta portuguesa, branda e despolitizada.
É tudo isto que me faz dizer que o regime político de Salazar não é de facto um real fascismo, sem que isso desculpe a brutalidade da polícia (PVDE. PIDE, DGS) o corte de direitos políticos, sociais e intelectuais, a oclusão das universidades, a menorização da vida politica municipal, a exclusão da maioria quanto ao direito de voto etc...etc..
Não há um único autor sério hoje que ponha estes dados em causa.
Não foi de resto apenas aqui que o fascismo se perverteu num regime autoritário e caceteiro des-ideologizado. O mesmo sucedeu com a Hungria de Horthy, com a Grécia de Metaxas, com a Polónia de Pilsduky com a Roménia...
Dirão: isso ocorreu porque não foi necessário um verdadeiro fascismo. É possível mas até Salazar condenava o paganismo dos fascismos italiano e alemão. Não que fosse devotadamente católico. Apenas porque isso implicaria uma outra divisão do poder, a existencia de uma classe possidente forte, de um partido forte tudo coisas que ele mesmo considerou desnecessárias quando não perigosas.
foi tudo muito brandamente (enfim!!!) português muito mesquinho, muito "pobrezinhos mas honrados".
Por isso a economia não deu os tais saltos, a situação das grandes massas não melhorou durante anos. No alentejo em finais de 50 e primeiros sessenta havia ainda épocas de fome, fome verdadeira José, conforme consta dos próprios relatórios da pide e da GNR que reprimia em primeiro lugar. foi a fome que fez com que grupos de camponeses andassem aos restos da cortiça, foi a fome que fez com que o rancho da Catarina Eufémia fosse tentar convencer um rancho que furava a greve, a não trabalhar... E não estou a fazer a apologia de ninguém, note-se.
de resto os anos quarenta e cinquenta (eu vivi-os mesmo se filho de médico) foram anos de muita dificuldade, muita meia sardinha repartida, elevados indices de tubercolose e claros sinais de escassa nutrição.
Já aqui disse mas repito que boa parte do essor económico e financeiro dos anos sessenta se deve a uma brutal emigrção, às subvenções da EFTa, ao excepcional aumento do turismo, à utilização do salário de guerra e á propria depreciação da moeda. As altas taxas de crescimento em setenta não indicam de per si uma economia forte, sequer saudavel mas este outro aspecto da desvalorização da moeda. E isso também é dito em relatórios de bancos...
à margem e para finalizar: mesmo quem não esteve preso sofreu forte e feio o "regime" fosse ele realmente fascista ou não. na parte que me toca, estive preso quatro vezes mas mesmo assim mantenho o que disse: o salazarismo foi uma violência, um desrespeito dos direitos humanos, políticos e sociais mas não foi um fascismo. se calhar ainda bem. Pelo menos não se deportaram judeus, ciganos nem se internaram no Tarrafal os homossexuais.
E ainda: o PCP não pode ser o único responsável (sequer o principal) dos males da pátria. Teve nisso a gloriosa colaboração de salazaristas convictos, de boa parte do capital nacional, de socialistas, pepedistas e outros vagos políticos. a responsabilidade é bem mais geral do que se pensa e, por várias vezes, até o pcp foi travão de algumas loucuras. Isto não desculpa o seu carácter anti-democrático mas convém não dar ao pcp mais força do que aquela que realmente teve, ou tem, senão nunca mais lá vamos.
um abraço
Caro José:
Estive, há pouco, com o documento conhecido pela "Carta do Bispo do Porto" (ofereci-o ao centro de documentação 25 de Abril da Delegação Norte e estive lá, hoje, de tarde) e tenho um volume enorme sobre as encíclicas dos últimos padres.
Sabe que essa carta, entre outras questões, criticava o corporativismo de Estado, por não ser um verdadeiro direito de associação, e defendia, em nome da doutrina social da Igreja, o sindicalismo livre?!...
E mais: D. António considerava um crime, p.ex, a proibição absoluta da greve. E dizia que os comunistas, ao aceitarem a greve, estavam com a Igreja, enquanto o Estado Novo, que tantas vezes se cobria com a doutrina da Igreja, realmente não aceitava um direito dos trabalhadores, reconhecido pela Igreja.
Outra questão era a participação dos católicos na política. D. António dizia que o regime ao não reconhecer aos católicos o direito à participação política tratava-os como pessoas diminuídas.
Olhe, saiu, recentemente, um romance histórico sobre D. António que vale a pena ler:”As pregas do véu de ombros”. A capa é de José Rodrigues e o autor é um professor de Teologia da U.C. Padre Jorge Cunha. Teve a colaboração de um secretário de D. António, Prof. Arnaldo de Pinho que V/ deve conhecer, pois esteve naquele encontro do Incursões no restaurante da UC.
Desculpar-me-á que lhe diga o seguinte: o meu amigo ao dizer que o regime corporativista foi inspirado pelos ensinamentos da Igreja Católica, das encíclicas Rerum Novarum e Quadragésimo Anno e do Código Social de Malines ou leu apressadamente estes documentos ou desconhece a critica ao corporativismo feita por Sedas Nunes, João Bénard da Costa (Nós os Vencidos do Catolicismo), João Barreto e muitos outros. Já não falo das posições da Juventude Operária Católica, da liga Operária Católica, da JUC, do que se passou na Capela do Rato, do Direito á Informação e de inúmeras revistas, como o “Tempo e o Modo”, a “Voz Portucalense”, etc..
Olhe eu andei por estes lados e penso conhecer essa doutrina bem para lhe poder afirmar que está enganado redondamente.
O corporativismo português surgiu no combate às ideias marxistas, como o anarco-sindicalismo, que se desenvolveram durante a 1ª República. Propôs-se a eliminar a luta de classes mediante um modelo de colaboração entre elas, proibindo a greve e o sindicato livre.
Este corporativismo de estado teve duas fases: Com Marcelo é influenciado pela onda liberal dos deputados Sá Carneiro, José da Silva, Balsemão e mais um ou outro que já não me lembro. Mas nunca deixou a ideia que provinham da Carta del Lavoro" de Mussoline.
Nada tem a ver com a doutrina social da Igreja.
Presumo que o meu amigo é católico! Eu sou, hoje agnóstico, mas, de qualquer forma, aconselhava-o a rever essa teoria, pois, existindo Deus, pode ser castigado com o Inferno. E não há recurso!
Quem o avisa, amigo é!
Um abraço
Obrigado, caro Primo. V. é uma pessoa de bem, como já deu provas sobejas nas palavras que escreve.
Mas...sobre o corporativismo e sobre a doutrina social da Igreja, há muito para dizer e eu não estou suficientemente preparado para argumentar com a sua sabedoria.
O meu modesto conhecimento vem das leituras de...Marcelo Caetano, veja lá!
A reivindicação do corporativismo português ser filho dilecto desses documentos da Igreja, vem no livro "Quinto ano o governo de Marcelo Caetano", de 1973.
Mas nos anos 50, Marcelo Caetano tinha escrito Páginas Inoportunas, em que dizia que "o corporativismo é um princípio doutrinário que se traduz numa fórmula orgânica". E adiantava:
" O princípio está na colaboração das actividades livres, exprimindo interesses diferenciados, para realização do bem comum a que todas se devem subordinar."
A fórmula orgância é a das corporações- grandes associações nacionais que integram os organismos representativos das várias actividades e profissões colaborantes em certa função social, tornando efectiva a cooperação pacífica de todos os interesses envolvidos no desempenho dessa função, sob a égide do interesse nacional.
O princípio corporativo pressupõe a colaboração de actividades livres, isto é, de actividades nascidas da iniciativa privada e que se desenvolvem sob a sua própria responsabilidade, embora dentro da disciplina do bem comum.
Portanto, para evitar que a organização e a disciplina se convertam em estatismo e em dirigismo( produtos ou subprodutos do sistema socialista) era indispensável começar por dar realização à fórmula orgânica, instituindo as corporações."
NO entanto, afirma Marcelo Caetano logo a seguir: "Ora a verdade é que no fim de 17 anos de regime corporativo não temos corporações. Portugal é um Estado corporativo em intenção: não de facto."
Mais à frente, explica toda a filosofia do regime do Estado Novo, em poucas palavras:
" As liberdades essenciais, aquilo a que podemos chamar liberdade civil,são as de deslocação, de escolha de trabalho e de profissão, de constituir e governar a família e educar os filhos, de professar uma religião e de fruir e dispor da propriedade, visto que onde não há um mínimo de autoridade económica- a do proprietário- é sempre precária a liberdade. Para garantia destas liberdades essenciais inventaram-se outras, que se podem chamar instrumentais: a liberdade de reunião, de associação, de expressão, de escolha de representantes políticos, etc.
As primeiras liberdades devemos tê-las por irrenunciáveis; ao contrário, as segundas só têm valor na medida em que efectivamente sirvam para nos manter as primeiras."
Apesar desse livrinho conter algumas das ideias de Marcelo Caetano, há um outro que se chama COnversas com Marcello ( ganhou um L misterioso)da autoria de António Alçada Batista, em que Marcelo conversa sobre tudo. Até sobre os tribunais plenários...
Marcelo Caetano, nesse livro dizia porém que
A frase da coda ficou aí, sem seguimento.
Caro amigo
A questão é simples: Marcelo Caetano permitiu a organização livre dos trabalhadores?!... O seu governo permitia a greve?!... Os cidadãos poderiam manifestar-se livremente na rua?!...
Olhe, pouco antes do 25 de Abril apanhei muita porrada da polícia numa manifestação, onde também era apelado a greve?!..
O conceito de liberdade nas conversas televisivas de Marcelo Caetano não tinha o mesmo significado que lhe dava os que lutavam na rua, exercendo o direito a contestarem a sua política. Por isso, Marcelo mandava a polícia dar-lhes porrada e prendê-los. Sabe, pela ordem de serviço da DGS/PIDE, que ficou depois da tomada da sua sede, aqui na Rua do Heroísmo, eu era um dos que constava numa grande lista de pessoas a serem presas no dia 28 de Abril, pouco antes do 1º de Maio.
Como não ignora, há “palavras-armadilha”. São as palavras que “caçam” uma interpretação favorável, sem desocultarem a intenção e significado que lhes é dado. E todos os ditadores precisaram dessas palavras. Para eles, todos são livres, mas têm de obedecer ao que impõem!
Já vi que não o convenço. Também, para mim, este debate só tem um estímulo, superior, aliás: ajudá-lo a conquistar o Céu!
Sou um agnóstico preocupado e, por isso, com boas intenções.
Agora vou ler. Amanhã vou fazer uns exames ao “esqueleto”. Tenho de ir cedo para a cama. É o que obriga a velhice!
Um abraço
Boas leituras e melhor descanso, caro Primo.
Mas olhe que a leiturazinha do livrito do Alçada Batista, só lhe iria fazer bem, nesta altura, porque responde às suas questões:
Marcelo Caetano proibira os sindicatos livres por causa...do PCP.
Exactamente. COmo disse atrás, o Estado Novo armou uma guerra civil com o PCP e o esquerdismo em geral.
Perdeu a guerra, mas olhe que ficou aqui um combatente dessa luta que guerrilha agora por aqui e por ali, porque está convencido de quem tem alguma razão.
E o tempo dirá mesmo quem tinha razão...
O livrito recolhe as opiniões solidificadas e graníticas de Marcelo que nestas matérias não tinha dúvidas e expunha as suas razões. Talvez não fosse mau de todo conhecê-las...
Boa noite.
Caro José:
Muito Bom Dia!
Tenho alguns livros de Alçada Baptista. Foi ( e ainda é) um escritor da afectividade que obrigatoriamente todos os da minha geração gostavam de ler.
Mas, Alçada Baptista marcou sobretudo a minha geração pela luta que travou na revista o "Tempo e o Modo”. Aqui era o defensor da liberdade que promoveu a divulgação e o debate de ideias, tendo como orientação o pensamento católico progressista.
Era amigo pessoal de Jorge de Sena e de Marcelo Caetano. Pensava que Marcelo faria evoluir o regime fascista na direcção da democracia, enquanto Sena não acreditava.
O que, nas “Conversas com Marcelo”, Alçada Baptista transcreve das palavras de Marcelo não era o que ele (A.B.) pensava. Aliás, no “Tempo e o Modo” (uma revista dos católicos progressistas de que ele era um dos fundadores, feita á semelhança da “Seara Nova”) encontra alguns artigos que expressam a solidariedade para com comunistas presos.Defendia que o combate político é um combate ideológico e não um encarceramento.
Não estava no seu feitio de Homem aberto e tolerante entrar na esquizofrenia fascista da perseguição aos comunistas, do markatismo. Ele próprio subscreveu muitos abaixo assinados que apareceram no “Direito à Informação”( lembra-se do documento dos 1001?!...), um boletim clandestino de católicos, que trazia o nome das pessoas presas, entre eles comunistas, católicos e até protestantes. Eu lembro-me de gente que pertencia à Igreja anglicana que foi presa.
Não podemos esquecer a ligação de Alçada Baptista a muitos católicos que integravam o MDP. Lembra-se do padre Feliciano Alves?!...
Eu não percebo o interesse que possa existir no retomar a luta de Marcelo contra o comunismo. Pela razão óbvia: os tempos mudaram e é, hoje, uma conquista da civilização o diálogo entre ideologias, culturas e crenças. E, depois, isto de ser “anti” comunista ou outra coisa qualquer mete-me impressão.
Não seria melhor ser “pró” aquilo que se acredita sem excluir o direito a haver quem acredite em coisas diferentes?!... O respeito pelas diferenças não é um valor?!... Coloca-se no lixo os “direitos de consciência” pelo que lutaram tanta gente generosa?!...
Esse seu combate faz-me lembrar o princípio da Idade Média: “é preciso combater o erro em nome da verdade”. Mas sabe no que isso deu?!... Foi combater a verdade (que hoje todos nós aceitamos) em nome do erro (que hoje todos nós repudiamos).
Eu vou mais por aquele princípio cristão: “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. Ou como diria Kant.” O que quero que os outros respeitem em mim, em igualdade de circunstâncias, respeito nos outros”.
No tempo da cibernética, da descoberta da teoria da relatividade, do buraco negro do ozono, do princípio da Incerteza de Heisemberg, do novo modelo da lógica de Lobatchevsky e do aparecimento da globalização e da interculturalidade, levantar machados de guerra não fazem sentido, quer sob o ponto de vista estético, intelectual ou moral!... Seria uma pré-disposição que levantaria muitas questões…
Lembra-se da metáfora do “véu da ignorância” da “Teoria da Justiça” de John Rawls (pensador liberal e “ jamais” comunista!)?!... A sua primeira conclusão é interessante: transcrevo-a—“cada pessoa deve ter um direito igual ao mais extenso sistema de liberdades básicas que seja compatível com um sistema de liberdades idêntico para todas as outras”.
Poderíamos designar este princípio pelo princípio do “pró respeito pelas diferenças” e, assim, estar disponível para encontrar denominadores comuns, em vez de promover exclusões.
Um abraço e até sempre.
Caro Primo de Amarante:
Sabe...eu concordo com o que escreve, porque nem sou assim tão anti, como deduz do que escrevo.
Agora não tenho tempo, mas logo retomo a conversa, porque ando a ler coisas sobre os Cátaros...os puros, numa versão; ou os gatos, noutra mais prosaica.
Caro José:
Chama-se a isto, um final feliz.
Um abraço e até ao próximo debate sobre outro tema.
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