A Mão à palmatória
A escrita sem risco não vale a pena. Mesmo num simples blog, a comentar o desfile das horas e a futurar o dia seguinte. Ou os dias seguintes. Ontem* falei das eleições no PPD (isto é uma mania minha: nunca vislumbrei suficientes toques social-democratas naquele curioso partido, nascido mais da vontade de Sá Carneiro do que algum eventual e profundo desenho colectivo). O PPD foi desde sempre um partido órfão – já o era em vida de Sá Carneiro – quando os seus adversários o tentaram defenestrar – e as mortes trágicas do fundador e pouco depois de Mota Pinto, fornecem suficientes argumentos para sustentar esta tese. Mesmo Cavaco, que continua vivo, é já uma espécie de finado para a militância. Não creio que alguém sonhe com um seu regresso, provavelmente nem o quereriam. A partir da saída de Cavaco (e já lá vão mais de dez anos...) o partido foi sendo governado por uns cavalheiros sem empatia com os militantes ou com o eleitorado. Dir-me-ão que ainda ganhou umas eleições, o que, sendo verdade, é só meia: o PS (e alguma vez também iremos ver o que significa aquele S que trazem à cintura, como os antigos lusitos da MP, e não estou a fantasiar, mas tão só a relembrar o peso “excessivo” que o S hoje deve ter para os militantes. A menos que seja também ele uma letra para todo o serviço, ora aí está, para “serviço”, “socialismo”, “Sócrates”, “sapador” ou outra coisa qualquer) perdeu-as mais por falta de alma e indisciplina interna do que eles as ganharam. De resto, parra muito militante não convinha que Ferro as ganhasse. Mas deixemos isso para outra ocasião...
É que as eleições também se perdem por cansaço dos eleitores que não descortinam porque é que um partido é melhor do que outro, em que se diferencia de outro, que valores ainda propõe. Isto mesmo foi, aliás dito, e bem por JSC por aí mas pelos vistos o Verão e o cheiro das férias não suscitaram grande vontade de comentar.
Portanto o PPD. Em véspera de eleições internas. Até ontem, aquilo parecia a espada do D. Afonso Henriques: coisa comprida e chata, sem emoção. Marques Mendes, sozinho no meio da praça, diante de um público gelado, nem força parecia ter para citar o touro, quanto mais para obter uns “olés”. Tanto fez e disse que Menezes lá se comoveu. Vai à luta. Não se percebe bem porque é que desistiu das suas reivindicações de mais democracia interna. Até ao momento, tudo continua na mesma. A menos que... Menezes vá só tentear. Se perder, a culpa está já publicitada. Se ganhar, ganha por absoluto mérito próprio, como um renovado Quixote da nova social-democracia. Pode mesmo desistir à boca das urnas... mais uma vez pelos mesmos estafados argumentos que ontem o impediam de concorrer. O Verão vai ser quente.
De todo o modo, dou a mão à palmatória: Meneses afinal diz que vai. Enganei-me, portanto. “Shame on me!” Ouvi-lhe com um olho aberto e outro fechado, no quentinho da cama, às sete da matina, as razões de candidatura. Acho que falou em povo, desempregados, bases, eleitos locais e mais um par de narizes de cera do mesmo género. Acreditará mesmo no que disse ou é só para entreter o pagode?
Leio no conspícuo “Público” que as criancinhas presentes na sessão pública de apresentação do “Plano Tecnológico” tinham sido recrutadas por uma agência de casting e eram pagas a €30 por caveira. Pasmei! Enfim, fiquei um tanto ou quanto espantado. Então já não se arranjam uns miúdos de borla? Tem de ser pagos? Pagos por quem? Pelo orçamento de Estado, está bem de ver. Por nós todos, ao fim e ao cabo. Isto não vos parece, além de ridículo, um abuso? Então uma ministerial criatura vem anunciar mais um bodo aos pobres e precisa de uma plateia afinadinha? Não basta mandar um recado aos jornais? Como é que esta gente acredita no que faz quando encena o inencenável? Ou seja, o respeitável público! Espero, já agora, que o Plano seja igualmente um verbo de encher, mais um. Assim pelo menos lograr-se-ia alguma coerência.
Continuando com as criancinhas: um neurologista, Alexandre Castro Caldas, vem em artigo de opinião, dizer esta coisa pasmosamente simples: a ideia peregrina de fornecer à infância escolar umas maquinetas de calcular para não terem de se maçar a fazer contas é uma aberração. Que faz bem à miudagem usar um pouco o cálculo mental, a memória etc... Isto claro no mesmo país onde alguém, dos esconsos do ministério da Educação, veio a terreiro defender as maquinetas. A Sociedade dos Professores de Matemática também já terá vindo dizer o mesmo. Desconhecem-se as reacções do “bunker” da Educação. Provavelmente, assobiarão para o lado e encomendam à mesma as máquinas. Fora os fabricantes das mesmas, todos perderemos, crianças, público, país, futuro. Aqui para nós, que ninguém nos ouve: a senhora Ministra alguma vez deu aulas? De quê?
Deus guarde o Governo e ilumine os simples mortais blasfemos que não percebem o alcance destas medidas.
* O cheiro a férias entontece-me. Estava convencido que tinha posto ontem o DP anterior a este. Não o fiz. Foi há minutos e só para não perder actualidade. Os leitores, coitados, apanham assim com dose dupla. Felizmente vêm aí as férias.
** na ilustração de hoje: uma velha calculadora. Tenho a vaga ideia que se chamaria pascalina.
É que as eleições também se perdem por cansaço dos eleitores que não descortinam porque é que um partido é melhor do que outro, em que se diferencia de outro, que valores ainda propõe. Isto mesmo foi, aliás dito, e bem por JSC por aí mas pelos vistos o Verão e o cheiro das férias não suscitaram grande vontade de comentar.
Portanto o PPD. Em véspera de eleições internas. Até ontem, aquilo parecia a espada do D. Afonso Henriques: coisa comprida e chata, sem emoção. Marques Mendes, sozinho no meio da praça, diante de um público gelado, nem força parecia ter para citar o touro, quanto mais para obter uns “olés”. Tanto fez e disse que Menezes lá se comoveu. Vai à luta. Não se percebe bem porque é que desistiu das suas reivindicações de mais democracia interna. Até ao momento, tudo continua na mesma. A menos que... Menezes vá só tentear. Se perder, a culpa está já publicitada. Se ganhar, ganha por absoluto mérito próprio, como um renovado Quixote da nova social-democracia. Pode mesmo desistir à boca das urnas... mais uma vez pelos mesmos estafados argumentos que ontem o impediam de concorrer. O Verão vai ser quente.
De todo o modo, dou a mão à palmatória: Meneses afinal diz que vai. Enganei-me, portanto. “Shame on me!” Ouvi-lhe com um olho aberto e outro fechado, no quentinho da cama, às sete da matina, as razões de candidatura. Acho que falou em povo, desempregados, bases, eleitos locais e mais um par de narizes de cera do mesmo género. Acreditará mesmo no que disse ou é só para entreter o pagode?
Leio no conspícuo “Público” que as criancinhas presentes na sessão pública de apresentação do “Plano Tecnológico” tinham sido recrutadas por uma agência de casting e eram pagas a €30 por caveira. Pasmei! Enfim, fiquei um tanto ou quanto espantado. Então já não se arranjam uns miúdos de borla? Tem de ser pagos? Pagos por quem? Pelo orçamento de Estado, está bem de ver. Por nós todos, ao fim e ao cabo. Isto não vos parece, além de ridículo, um abuso? Então uma ministerial criatura vem anunciar mais um bodo aos pobres e precisa de uma plateia afinadinha? Não basta mandar um recado aos jornais? Como é que esta gente acredita no que faz quando encena o inencenável? Ou seja, o respeitável público! Espero, já agora, que o Plano seja igualmente um verbo de encher, mais um. Assim pelo menos lograr-se-ia alguma coerência.
Continuando com as criancinhas: um neurologista, Alexandre Castro Caldas, vem em artigo de opinião, dizer esta coisa pasmosamente simples: a ideia peregrina de fornecer à infância escolar umas maquinetas de calcular para não terem de se maçar a fazer contas é uma aberração. Que faz bem à miudagem usar um pouco o cálculo mental, a memória etc... Isto claro no mesmo país onde alguém, dos esconsos do ministério da Educação, veio a terreiro defender as maquinetas. A Sociedade dos Professores de Matemática também já terá vindo dizer o mesmo. Desconhecem-se as reacções do “bunker” da Educação. Provavelmente, assobiarão para o lado e encomendam à mesma as máquinas. Fora os fabricantes das mesmas, todos perderemos, crianças, público, país, futuro. Aqui para nós, que ninguém nos ouve: a senhora Ministra alguma vez deu aulas? De quê?
Deus guarde o Governo e ilumine os simples mortais blasfemos que não percebem o alcance destas medidas.
* O cheiro a férias entontece-me. Estava convencido que tinha posto ontem o DP anterior a este. Não o fiz. Foi há minutos e só para não perder actualidade. Os leitores, coitados, apanham assim com dose dupla. Felizmente vêm aí as férias.
** na ilustração de hoje: uma velha calculadora. Tenho a vaga ideia que se chamaria pascalina.
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