21 julho 2007

O nosso défice

A Direcção Geral do Orçamento acaba de publicar o relatório que dá conta da execução orçamental durante o primeiro semestre deste ano. Onde se conclui que o objectivo de 3,3% para o défice orçamental está a ser conseguido.

Da leitura dos números verifica-se que a arrecadação da Receita Fiscal cresceu 8,6% no primeiro semestre, enquanto que a Despesa evoluiu 3,9% no mesmo período.

Assim, o comportamento das finanças públicas, no primeiro semestre, foi no sentido do equilíbrio das contas públicas.

Apesar desta tendência favorável, para alguns analistas e mesmo ex-ministros das finanças o facto da despesa pública continuar a crescer mostra que o processo de consolidação orçamental ainda não é sólido e que o Governo continua a ter dificuldade para reduzir os gastos públicos.

Até este ponto é fácil estar de acordo. O problema é quando os mesmos analistas e mesmo ex-ministros das finanças apontam como principal constrangimento à diminuição dos gastos públicos as “remunerações dos funcionários” e os “encargos sociais”, concluindo que se o Governo quiser dar sustentabilidade ao processo de equilíbrio orçamental tem de ter a coragem para reduzir drasticamente a despesa nos salários e nos encargos sociais.

Perante tanta insistência nesta tese, o que me ocorre perguntar é esses especialistas em finanças publicas acreditam mesmo que são essas duas variáveis as principais responsáveis pelo défice.

E as outras afectações de recursos, nomeadamente as parcerias público-privadas, os estudos e consultadorias, as indemnizações compensatórias a empresas públicas, etc., não pesam nos “gastos públicos”? Ou será que pela sua natureza económica e entidades a que se destinam não são integram o conceito de “gastos públicos”?

O Governo acaba de tomar uma medida de âmbito social – apoio à maternidade – que vai custar cerca de 100 milhões de euros, só nos últimos quatro meses do ano. A seguir o raciocínio dos mesmos especialistas, esta medida está errada porque vai aumentar os “encargos sociais”, logo afectar a consolidação orçamental..

O que é que pensarão dos mais de 100 milhões de euros já gastos em estudos para a OTA e TGV? Qual destes valores é que pesa mais nos gastos públicos? E qual é que tem maior impacto na redistribuição da riqueza?

2 comentários:

M.C.R. disse...

Meu caro JSC
V. acerta na mouche mesmo de olhos fechados. As parcerias, e a rapaziada contratada a esmo e pinguemente para assessorar o inassessorável, não é custo porque é um favor a amigos. amigalhaços & outras máfias...
aqui só se quantifica o salaário dos funcionários que aliás são dos poucos que não tem possibilidade de fugir aos impostos. quanto a encargos sociais duvido que o governo alguma vez tenha descontado um tostão pelos seus funcionários públicos. Pelos outros, claro, coitados, são precários...

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Nem mais, JSC. Esses ditos analistas falam sempre do alto do pedestal, esquecendo muitas vezes que o país é feito de pessoas e que são essas pessoas a razão de ser da governação.