29 agosto 2007

Diário Político 64


De Espanha ventos incómodos...

“el terror vasco, si, ha dejado de ser revolucionário para quedarse en estético y su labor artesanal consiste, como decimos, en evitar que nada cresca, que nada se relacione, que nada pacte, que nada viva ni cante fuera de las tapias del cementério. Mejor que hacer la revolución es impedir que los otros hagan la democracia”

Estas linhas foram escritas em El Mundo a 25 de Março de 2002, por Francisco Umbral que hoje vai a enterrar. Mais um numa sucessão de mortos que, como os fogos violentos de Verão, eclode por todo o lado (o Alberto de Lacerda, o Eduardo Prado Coelho e don Paco Umbral, estrela do Café Gijon, e da noite febril de Madrid). Vai fazer falta, este escritor múltiplo, este comentador político desbragado e poético que nunca renegou a sua matriz de esquerda ibérica, vermelha e negra, independente, sem bombas mas com “plumazos” que deixavam derreados os seus “contrincantes”. A história dos últimos sessenta, setenta anos de Espanha pode ler-se em meia dúzia dos seus livros onde as memórias e os arrebatamentos davam uma cor funda à sua particular tela.
Morre Umbral e “renasce” a ETA. Enfim, renascer é talvez exagerado que o bicho nunca tinha realmente morrido. Apesar do crescente repúdio à sua acção, de cada vez serem mais e melhor conhecidos os meios de pressão com que oprime a sociedade basca que vive entre o receio da denúncia (as “pintadas” à porta de casa...) e o medo bem real do tiro na nuca. Que o diga Savater para não ir mais longe.
E a ETA reaparece como e porquê? Resposta fácil: uma bomba aqui, um carro abandonado precipitadamente ali, uma família raptada durante um inteiro fim de semana, uma carrinha que explode no meio de um campo. Razões para isto? A “intolerância” de Zapatero!
Todavia, não é da política interna de Espanha que quero falar, mas apenas do monte de falácias com que, no nosso país, se relativiza o facto de só neste mês (e porque foram detectados) se alugaram carros que transportavam explosivos. E alugavam-se com documentos falsos portugueses, ao que parece, recorrendo ao estratagema de encomendar a viatura num sítio e recolhê-la a uns centos de quilómetros depois. Isto, para qualquer paisano, significa que esta gente se mexe à vontade por cá. Como “um peixe na água” como se dizia nos bons velhos tempos de leituras teóricas maoízantes.
Algum leitor mais renitente em acreditar que isto é o moinho da Joana, retorquirá que ainda ontem um senhor general à paisana (agora parece que os generais não usam farda para não serem confundidos com o desaparecido engenheiro Ângelo Correia ou o pitoresco Alvaro Vasconcelos, dois profundos teóricos da “defesa nacional) dizia com a aquela displicência de quem sabe que não havia constância de bases da ETA no jardim à beira mar plantado.
Por acaso, ainda me recordo, de há uns anos ter sido preso um cavalheiro basco que se fazia acompanhar de vário material explosivo. Cá, claro. A Espanha pediu a extradição desse acidental turista, oferecendo vasta cópia de argumentos e um curriculum vitae do inocente perseguido digno de causar inveja. Alguns senhores juízes entenderam que não era caso disso e o homem foi ficando e provavelmente ainda andará por aí. A menos que tenha sido chamado para junto do Senhor ou para cumprir outras tarefas que exigindo discrição o afastaram do convívio dos seus lusos admiradores.
É que por cá, numa certa, pequena mas tão determinada quanto imbecil, franja esquerdista há um piedoso sentimento de ternura por esses rapazes do tiro na nuca, da bomba lapa, do amonal amoral. Existiu sempre no risonho país lusitano, a ideia que os inimigos de “Castela” são nossos amigos. A ETA e aquele furúnculo chamado Exército do Povo Galego, tiveram por cá amigos, apoiantes quiçá cúmplices. O fascismo dá-se bem nestas pequenas e disparatadas bandas que à falta de milho transgénico sempre arranjam tempo para uma solidariedade internacionalista.
Mas persistamos nesta vaga e estival indagação: sendo verdade que em França as coisas vão mal para as bases recuadas da ETA, conhecido que é o facto de Andorra não oferecer condições mínimas para o estabelecimento de esconderijos de gente e de armas, onde é que, com economia de meios, possibilidades de passar despercebido, se poderá instalar um núcleo “guerrilheiro” que a todo o momento possa ser activado? Na Bolívia? No Irão? No Pólo Norte, agora tão cobiçado? Ou num pais vizinho com quase mil quilómetros de fronteira vaga e terrestre, sem polícia que se veja, de escasso controle sobre emigrantes ucranianos, turistas brasileiras jovens ou mendigos romenos que se movimentam à vontade?
Francamente senhor general!
Admito, só para poder conversar, que os indícios (duas viaturas portuguesas alugadas em Portugal) não dão uma garantia a 100% mas também me parece displicência a mais não considerar preocupante a ocorrência e sobretudo a simultaneidade. Em menos de um mês, este mês de Agosto, silly season para alguns, dois carros parece bastante. Tanto mais que se poderá sempre pensar que não passam da ponta de um iceberg (cá estamos outra vez no pólo..., que maçada!) e que eventualmente outros andarão nas nossas estradas com a sua carga letal de “recuerdos”, tripulados por rapazolas educados na kale borroka e desejosos de mostrar a virilidade numa corrida sem touros, sempre perigosos, mas com alvos inermes como foram quase todas as últimas vítimas mortais desta lepra moral e política que se chama ETA.
Até ao próximo rebentamento.

De Vexas respeitosamente,
d’Oliveira

na gravura: "bomba de três canos (queira isso dizer o que quer que seja) pilhada, claro, na internet, na wikipédia para ser mais exacto, com o consentimento do seu autor cujo nome, se bem me lembro é qualquer coisa Menezes. O seu a seu dono, que diabo!

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