20 outubro 2007

JOE BERARDO – Um Investidor de Novo Tipo?

Joe Berardo tem aparecido muito nos meios de comunicação social, seja pela sua ligação ao mundo da arte, seja pela sua actividade empresarial, seja ainda pela participação no capital de empresas de grande projecção e forte potencial de valorização bolsista.

O que me parece ser de relevar, agora, é o contributo de Joe Berardo para aquilo que se pode chamar de maior transparência no funcionamento das empresas e do mercado.

Vejamos:

Berardo tem uma participação significativa no capital da PAPELARIA FERNANDES, sociedade gerida pela INAPA. Ora, segundo o D.E., de 15/10, Barardo qualifica a gestão da INAPA de “lay light robbery” (roubo à luz do dia), que terá gerado um prejuízo de 100 milhões de euros.

Para ser ressarcido do valor a que julga ter direito, Berardo interpôs uma acção judicial contra a INAPA, exigindo uma indemnização de 20 milhões de euros. Entretanto, apresenta queixa na CMVM, para que esta entidade investigue o que ele qualifica de “operações estranhas com sociedade off-shores” e “transacções inexplicadas no ramo imobiliário”.

Também na SOGRAPE Joe Berardo mostra-se um accionista incómodo e contra a corrente, com recurso a acções judiciais contra a administração (e vice-versa).

Temos ainda o mediático caso do BCP. Ainda recentemente, em declarações à RTP, Joe Berardo afirmava que estava à espera que a CMVM e o Banco de Portugal se pronunciassem sobre o perdão de dívidas a um filho do presidente do BCP e a outros accionistas para decidir se apresenta queixa na Procuradoria.

Neste caso, as palavras de Joe Berardo não atingem apenas o BCP, ele também aponta o dedo à CMVM e ao Banco de Portugal, que não terá ligado aos rumores e às várias histórias sobre a utilização de meios do banco para fins particulares (casamentos incluídos), (D.E., 10/10). A estes rumores junta-se os perdões de dívidas a vários accionistas – O Público de 16/10 coloca uma caixa com os “perdões polémicos”, na ordem das muitas, mas muitas dezenas de milhões de euros.

Todos estes factos mostram que Joe Berardo tem tido uma acção importante no levantamento desta manta. Em declarações ao DE, de 15/10, Berardo justificava assim o seu inconformismo:

Infelizmente, em Portugal, existe o hábito e a cultura de que certos accionistas que controlam as gestões pensam que podem retirar o dinheiro aos outros accionistas sem lhes serem pedidas responsabilidade e só para encherem panças”.

Como se vê, Berardo não só denuncia as situações, como aponta o dedo aos responsáveis. Mais, Berardo até deixa no ar a ideia que o Banco de Portugal não estará a fazer o seu papel neste domínio, o mesmo para a CMVM, anotando que espera os resultados da investigação para decidir se avança para a Procuradoria.

Ou seja, parece que Berardo, ao mesmo tempo que procura salvaguardar os seus interesses, procura que o mercado seja mais transparente e que as administrações não usem em proveito próprio o património societário.

Será que esta postura de Berardo fará escola ou tratar-se-á apenas de um epifenómeno?

Uma coisa parece evidente: Muitas das administrações de grandes sociedades não deverão ficar muito tranquilas quando derem conta que têm Berardo como accionista.

Aguardemos o que vão dizer a CMVM e o Banco de Portugal.

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