08 outubro 2007

O ESTADO DE CORRUPÇÃO

De tempos a tempos o tema corrupção escorrega para os órgãos de comunicação social. O pretexto, agora, foi umas declarações do ex- ministro Cravinho. A propósito dessas declarações muito se tem escrito e dito. Por exemplo, Vasco Pulido Valente escreveu ontem um interessante artigo de opinião, no Público, sob o título de “A Corrupção do Estado”, concluindo que o problema é bem mais grave do que o que Cravinho enuncia, uma vez que já não é uma questão de leis ou de aplicação da lei, antes uma questão de regime.

A corrupção, que durante muito tempo foi colada aos autarcas e aos funcionários locais, é cada vez mais um fenómeno de Estado, do governo central e das entidades que este controla. Não será excessivo dizer que a conquista do poder político não é motivada pelo desempenho de funções públicas para promover o bem colectivo, antes pela conquista do poder para controlar os dinheiros públicos e fazer a partilha dos negócios que o exercício de funções publicas potencia.

Nem vale a pena trazer os exemplos recentes do conúbio entre empresas e partidos políticos. Ou listar o rol de arguidos por indícios de corrupção (alguns até serão inocentes…). A grande questão é que apesar de se sentir o cheiro do dinheiro por todo o lado, não parece que isso cause grande repugnância no povo partidário e eleitor. São muitos os exemplos a mostrar que hoje não se penaliza, política e socialmente, quem usa a gestão do interesse público para gerir interesses próprios ou de grupos particulares.

O facto da população em geral e mesmo de forças sociais que deveriam pugnar pela moral e pela ética aceitarem que governos e governantes actuem desta maneira mostra que já não será com discursos, falinhas mansas ou com uma intervenção mais musculada que a situação melhorará.

O que pode contribuir para inverter esta tendência será a constituição de um forte movimento cívico, que agregue vários sectores da sociedade, incluindo as diferentes religiões, completamente fora do controlo de qualquer partido político, que alevante as consciências e se transforme numa força regeneradora dos valores da cidadania.

1 comentário:

O meu olhar disse...

Não concordo com o Vasco Pulido Valente quando fala que é necessário uma mudança de regime. Já agora, que mudança? Para que regime?

Concordo que o que é necessário é elevar a capacidade das pessoas para pensarem e intervirem em movimentos cívicos que ajude a vir ao de cima a grande corrupção.

Claro que se a justiça funcionasse também ajudava. Claro que se as nossas leis não fossem tratados armadilhados, também ajudava. Claro que se a fiscalização e o controlo funcionassem e tivessem consequências, também ajudava.