um grande senhor do Direito,
um cidadão
e um homem culto
Este é o retrato de Figueiredo Dias, perdão, Professor Doutor Jorge Figueiredo Dias, um dos professores que foi obrigado a aturar-me e, milagre das rosas nova versão, me deu uma boa nota.
Jorge Figueiredo Dias distinguiu-se mesmo antes de ser catedrático como um daqueles mestres de Direito que não se limitava às frias paredes dos “Gerais” mas que intervinha onde quer que uma voz clara e corajosa fosse necessária. E sabe Deus, sabemos nós todos, os desses anos de chumbo, quanto ela foi precisa. E como ele nunca a regateou. É evidente que não foi o único professor daquela antiquíssima faculdade, entrincheirada na parte mais antiga e venerável do velho Paço das Escolas, que soube estar com o seu tempo, com a cultura, com a liberdade. E com os anseios dos seus alunos... Todavia hoje não venho falar desse pequeno mas admirável grupo de professores mas apenas deste homem, franzino, vivíssimo, entusiástico que fazia as aulas parecerem relativamente curtas e os exames uma honrada troca de argumentos. Não se pense que facilitava, nada disso. Naqueles anos sessenta e naquela escola, a simples ideia de facilitar fosse o que fosse era inconcebível para professores e estudantes. Simplesmente, Figueiredo Dias perguntava o que tinha ensinado, não armava ratoeiras, não tratava o candidato com sobranceria mas antes, até, com uma cortesia invulgar e tentava, sobretudo, procurar perceber o que o aluno sabia. Via-se que tinha perfeita consciência do facto de, dada a fama da faculdade, até os bons alunos irem para uma oral nervosos.
E depois era encontrado em cafés, em espectáculos de teatro, no cineclube, numa tertúlia bem humorada. E isso, nesse tempo de negrume e ainda visitado pelos fantasmas dos velhos lentes que se isolavam nas suas torres de cristal, era uma novidade, ou ainda era uma novidade.
(Não) deu agora a sua última aula. Aula a que por ignorância absoluta faltei. Coisa de que me penalizo: eu, que fiz o possível e o impossível por me escapulir dessa provação de assistir a aulas, lamento agora ter falhado esta. Pronto, vai ter de ser daqui que mando um abraço, desses antigos, de partir costelas, para lhe dizer que quase quarenta anos passados o recordo com admiração e amizade. E que sinto uma grande honra em ter sido seu aluno. Nas poucas vezes em que nos cruzámos já tive oportunidade de lho dizer mas coisas destas podem, julgo eu, repetir-se constantemente.
Doutor* Figueiredo Dias foi uma honra tê-lo tido como professor!
Um abraço
Marcelo Correia Ribeiro
* no meu tempo, os nossos professores gostavam de ser tratados assim: doutor. Por extenso naturalmente, mas em conversa isso não se notava.
Jorge Figueiredo Dias distinguiu-se mesmo antes de ser catedrático como um daqueles mestres de Direito que não se limitava às frias paredes dos “Gerais” mas que intervinha onde quer que uma voz clara e corajosa fosse necessária. E sabe Deus, sabemos nós todos, os desses anos de chumbo, quanto ela foi precisa. E como ele nunca a regateou. É evidente que não foi o único professor daquela antiquíssima faculdade, entrincheirada na parte mais antiga e venerável do velho Paço das Escolas, que soube estar com o seu tempo, com a cultura, com a liberdade. E com os anseios dos seus alunos... Todavia hoje não venho falar desse pequeno mas admirável grupo de professores mas apenas deste homem, franzino, vivíssimo, entusiástico que fazia as aulas parecerem relativamente curtas e os exames uma honrada troca de argumentos. Não se pense que facilitava, nada disso. Naqueles anos sessenta e naquela escola, a simples ideia de facilitar fosse o que fosse era inconcebível para professores e estudantes. Simplesmente, Figueiredo Dias perguntava o que tinha ensinado, não armava ratoeiras, não tratava o candidato com sobranceria mas antes, até, com uma cortesia invulgar e tentava, sobretudo, procurar perceber o que o aluno sabia. Via-se que tinha perfeita consciência do facto de, dada a fama da faculdade, até os bons alunos irem para uma oral nervosos.
E depois era encontrado em cafés, em espectáculos de teatro, no cineclube, numa tertúlia bem humorada. E isso, nesse tempo de negrume e ainda visitado pelos fantasmas dos velhos lentes que se isolavam nas suas torres de cristal, era uma novidade, ou ainda era uma novidade.
(Não) deu agora a sua última aula. Aula a que por ignorância absoluta faltei. Coisa de que me penalizo: eu, que fiz o possível e o impossível por me escapulir dessa provação de assistir a aulas, lamento agora ter falhado esta. Pronto, vai ter de ser daqui que mando um abraço, desses antigos, de partir costelas, para lhe dizer que quase quarenta anos passados o recordo com admiração e amizade. E que sinto uma grande honra em ter sido seu aluno. Nas poucas vezes em que nos cruzámos já tive oportunidade de lho dizer mas coisas destas podem, julgo eu, repetir-se constantemente.
Doutor* Figueiredo Dias foi uma honra tê-lo tido como professor!
Um abraço
Marcelo Correia Ribeiro
* no meu tempo, os nossos professores gostavam de ser tratados assim: doutor. Por extenso naturalmente, mas em conversa isso não se notava.
1 comentário:
Também encontrei o Prof. Figueiredo Dias, anos depois, e também dele fiquei com a imagem que tão bem descreve, Marcelo.
Enviar um comentário