Bem pensadas as coisas sou dono de muito pouco. Nem sequer de mim, às tantas. Tenho alguns livros, uma casa, uns quadros, a roupinha de todos os dias e pouco mais. Agora a família alargou com a chegada de um gato, adoptado directamente na “protectora dos animais”. É uma bola de pelo branco que ainda não percebeu que o rabo é mesmo dele e não qualquer coisa que morder. Poderia dizer que temos um gato mas isso então é entrar no delírio. Um gato é algo que permaneceu selvagem desde sempre. Transige em ser alimentado e alojado por humanos, permite que de quando em quando o acariciem, dorme em cima duma barriga que lhe pareça confortável e basta!
Vem tudo isto a propósito de umas declarações do Francisco José Viegas, cavalheiro eminentemente frequentável e conversável: “nós não somos donos da nossa língua. Ela é mais falada fora das nossas fronteiras do que em Portugal”.
Correndo o risco de me enganar parece-me que FJV nos nega o direito de possuir uma língua não porque ela seja como o gato mas porque os proprietários vivem fora e são mais numerosos do que nós. Alto e pára o baile!, caríssimo FJV. Pode ocorrer que não sejamos donos desta língua que falamos todos, ricos e pobres, portugueses e não portugueses, incluindo no lote um par de maduros que não tendo bebido a língua no leite materno, a adoptaram por gostar dela, das pataniscas de bacalhau, da açorda alentejana ou da morcela da Beira, ou do Herberto Hélder. Ou por qualquer outro motivo. Mas o facto de haver um porrradão de brasileiros, muitos angolanos ou moçambicanos cujo número nos submerge não nos retira a língua com todos os “direitos” patrimoniais morais ou o que quer que seja. Se existem. Nem os transfere para os outros. Se, como disse, eles existem. Era o que faltava.
Aliás, o caríssimo FJV, excelente escritor, diga-se de passagem, não pagou portagem para usar a língua, inventar alguma palavra, algum novo significado para uma antiga. A língua é de todos mas não é de ninguém. Sobretudo dos académicos portugueses e brasileiros que decidem por nós como se os tivéssemos votado. Tira esta letra, tira este hífen escreve f em vez de ph, fato é terno facto é fato, mas a que título, mãe de Jesus? Quem é que entregou a estas criaturas a polícia do dicionário? Acaso deveremos modificar os textos do senhor Eça de Queirós ou de qualquer outro, é bom de ver, só porque estas criaturas resolveram unificar uma língua que como um rio antigo e majestoso se espraia e desagua em delta, criando novas margens, novas praias, novos recantos onde um mergulho representa a felicidade, seja ela acompanhada por um caril, por uma feijoada à transmontana, por moamba ou por um belo vatapá?
Homero de vez em quando dormita, diz-se. Estou convicto que Viegas também. Não acredito que quisesse dizer o que parece querer ter dito. Às vezes uma citação mal feita estraga uma bela entrevista. Ainda por cima pesquei esta junto de um artigo sobre o Drumão madeirense, tardio converso independentista. Até ele tem direito a falar português. S ó não pode é usar um sujeito singular com um verbo na primeira pessoa do plural. Uma coisa é a língua, outra a gramática.
a gravura é roubada a Siné
Vem tudo isto a propósito de umas declarações do Francisco José Viegas, cavalheiro eminentemente frequentável e conversável: “nós não somos donos da nossa língua. Ela é mais falada fora das nossas fronteiras do que em Portugal”.
Correndo o risco de me enganar parece-me que FJV nos nega o direito de possuir uma língua não porque ela seja como o gato mas porque os proprietários vivem fora e são mais numerosos do que nós. Alto e pára o baile!, caríssimo FJV. Pode ocorrer que não sejamos donos desta língua que falamos todos, ricos e pobres, portugueses e não portugueses, incluindo no lote um par de maduros que não tendo bebido a língua no leite materno, a adoptaram por gostar dela, das pataniscas de bacalhau, da açorda alentejana ou da morcela da Beira, ou do Herberto Hélder. Ou por qualquer outro motivo. Mas o facto de haver um porrradão de brasileiros, muitos angolanos ou moçambicanos cujo número nos submerge não nos retira a língua com todos os “direitos” patrimoniais morais ou o que quer que seja. Se existem. Nem os transfere para os outros. Se, como disse, eles existem. Era o que faltava.
Aliás, o caríssimo FJV, excelente escritor, diga-se de passagem, não pagou portagem para usar a língua, inventar alguma palavra, algum novo significado para uma antiga. A língua é de todos mas não é de ninguém. Sobretudo dos académicos portugueses e brasileiros que decidem por nós como se os tivéssemos votado. Tira esta letra, tira este hífen escreve f em vez de ph, fato é terno facto é fato, mas a que título, mãe de Jesus? Quem é que entregou a estas criaturas a polícia do dicionário? Acaso deveremos modificar os textos do senhor Eça de Queirós ou de qualquer outro, é bom de ver, só porque estas criaturas resolveram unificar uma língua que como um rio antigo e majestoso se espraia e desagua em delta, criando novas margens, novas praias, novos recantos onde um mergulho representa a felicidade, seja ela acompanhada por um caril, por uma feijoada à transmontana, por moamba ou por um belo vatapá?
Homero de vez em quando dormita, diz-se. Estou convicto que Viegas também. Não acredito que quisesse dizer o que parece querer ter dito. Às vezes uma citação mal feita estraga uma bela entrevista. Ainda por cima pesquei esta junto de um artigo sobre o Drumão madeirense, tardio converso independentista. Até ele tem direito a falar português. S ó não pode é usar um sujeito singular com um verbo na primeira pessoa do plural. Uma coisa é a língua, outra a gramática.
a gravura é roubada a Siné
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