Ou seja: alguns dos livros que o leitor, este leitor, comprou, leu e recomenda. Outros há, mas ou não li, não gostei, não vi ou inclusivamente esqueci. Na medida do possível referem-se livros aparecidos em 2007 pelo que da inicial lista saltaram os editados anteriormente.
E comecemos pela poesia. A poesia é quase o navio almirante das letras pátrias. Das letras até para ser mais preciso. No caso português ocorre que, por razões de todo em todo desconhecidas, temos, sem quaisquer dúvidas ou nacionalismos serôdios, uma plêiade de poetas de primeira água. Infelizmente para os mais apegados ao chão pátrio, não há olimpíadas de poesia pelo que lá se vai uma medalha de oiro quase certa. Paciência e fiquemos com a leitura dos poetas.
Echevarria, Fernando: um cavalheiro façanhudo com bigodes que já se não usam. E um talento, um senhor talento! Saiu a “Obra Inacabada” (afrontamento) um belo tomo que reúne toda a poesia anterior. Imprescindível em qualquer biblioteca.
Baptista, José Agostinho: um percurso silencioso que urge descobrir. Comecem pelo último: “Quatro luas” (Assírio e Alvim) que ainda não desapareceu das estantes das livrarias.
Mendonça, José Tolentino: “A noite abre meus olhos” (Assírio e Alvim) outra recolha da obra anterior. Com a vantagem de se perceber agora, muito bem, a alta qualidade deste poeta.
Nunes, Rui: “Ofício de Vésperas”. De um prosador de culto, “difícil” (!!??), um livro de poemas que já se adivinhavam. Quem esperou, ganhou.
Braga, Jorge de Sousa: “O poeta nu” (Assírio e Alvim) outra recolha da obra anterior publicada. JSB é uma voz bem original e mesmo quando usa a sátira há nele um sopro lírico que merece uma leitura atenta. E gozosa.
E das estranjas? Pois comecemos pelo nº especial de Telerama (Fr) sobre René Char que é um mimo. E bonito. Mais bonito ainda, maior, mais ilustrado e com uma larga cópia de poemas, o número 241 da Litoral (Esp) sobre José Manuel Caballero Bonald, um poeta da geração de cinquenta que não cessa de me maravilhar.
Ovídio (“Amores”, cotovia) voltou ao convívio dos portugueses. Bom tempo para os clássicos? É provável tanto mais que do longínquo e frio norte nos chegou uma outra pérola, “Kalevala”, (Ministério das letras) traduzido com amor, com paixão, por Orlando Moreira.
Do Japão, outro grande clássico: “O gosto solitário do orvalho” de Bashô. Ninguém consegue falar de haiku sem o referir.
Continuando no Japão, passagem á volúpia e à inveja: As edições Dianne de Selliers acabam de apresentar uma integral do “Genji Monogatari” em três volumes dentro de uma caixa, com 500 reproduções de gravuras japonesas dos séculos XII a XVII. Custa a módica soma de 480€ pelo que aqui se abre uma subscrição para oferecer ao cronista esta prendinha...
No romance, helás, uma confissão: leu-se pouco. Mas desse pouco convém ressalvar desde já “Hoje não” de José Luís Peixoto que, com a novela “Ao acaso da paisagem” de Rui Graça Feijó representam a produção nacional. Peixoto é conhecido, Feijó não. Mas vale a pena. Está escrita com segurança, inteligência e uma trama bem pensada. Fui eu quem a apresentou no Porto e confesso que me deu real prazer. De Feijó corre por aí em secretíssima edição “Camilo e Casimiro” um texto que o autor considera libreto de ópera e que vale muito a pena.
Outro português que não pode ser esquecido neste balanço é Jorge Silva Melo. “Século passado” que já foi anteriormente referido e “Fala da Criada dos Noailles” um divertimento delicioso e como de costume bem escrito (muito bem escrito) deram-me um par de horas de muito gozo.
Do estrangeiro refiram-se o sumptuoso “Veneno y sombra y adios” (Alfaguara) de Javier Marias o terceiro tomo de uma obra que concitou louvores gerais: “Tu rosto mañana”. Com “El corazon Helado” (Tusquets) Almudena Grandes confirma todas as esperanças que nela se têm depositado e que (espero que brevemente) poderão ser aquilatadas pelos leitores portugueses. De facto traduzi para a D Quixote “Os ares difíceis” onde alguns dos temas deste novo romance já afloravam, entre eles, obviamente a guerra civil. Noutro registo mas igualmente seguro e bem construído “Un dia de cólera” de Arturo Perez Reverte revive com fidelidade esse “dos de Mayo” que Goya imortalizou e que de certo modo inaugurou a guerra peninsular onde os generais de Napoleão souberam como era lidar com povos em fúria.
E a este propósito cite-se o brilhantíssimo “Ir para o Maneta” de Vasco Pulido Valente. Qualquer pessoa se reconcilia com a História ao ler este texto magnificamente escrito, bem pensado e económico. Aliás o ano foi pródigo no capítulo história. De Irene Pimentel (que colaborou em “Vítimas de Salazar” sob a direcção de João Madeira, um especialista a quem já se devia “Os Engenheiros de Almas”) a Maria Alice Samara (“Verdes e vermelhos” (Notícias), edição antiga mas só agora encontrada) começa a ser perceptível um acrescido interesse sobre a história mais recente a que se junta o cuidadoso texto “Passagem para África” (Afrontamento) de Cláudia Coelho. Outro jovem historiador, Luís Miguel Duarte oferece uma excelente “Aljubarrota” numa escrita viva, moderna e desembaraçada. Bem mais velho mas com um talento indesmentível, Fernando António Almeida, poeta, romancista, autor de guias e roteiros resolveu-se a publicar a sua tese sobre Fernão Mendes Pinto, graças ao apoio da Câmara Municipal de Almada: os leitores que conhecem FAA encontrarão a mesma escrita sugestiva e um sólido conhecimento desse autor genial da nossa literatura de quinhentos. Terminemos a referência à história com a boa notícia da edição de mais um dos livros de “Histórias” de Heródoto: o quinto livro. Pouco a pouco Heródoto vai sendo traduzido. Cruzemos os dedos para ver se em 2008 esta boa disposição editorial continua.
Refira-se ainda “Um escritor na guerra” de Vassili Grossman, o autor de “Vida e destino” que, suponho, ainda não foi traduzido. “Vida e destino” é um romance com um fôlego idêntico senão superior ao melhor Soljenitsine e os textos de “Um escritor na guerra” não lhe ficam atrás. Grossman, um autor que só foi reconhecido depois da sua morte. Quantos, como ele, ainda esperarão, o tardio reconhecimento dos leitores.
No capítulo memorias: “Descascando a cebola” de Gunther Grass. Pessoalmente, entendo que, quem cresceu no nazismo não é culpado de aos 17 anos se engajar num batalhão SS depois de ser recusado pela Marinha. Aos 17 anos é-se, com sorte, muita sorte, um adolescente cheio de dúvidas, nunca um criminoso político. Os urros que a confissão de Grass provocou parecem-me do mais refalsado que li nos últimos tempos. Pretendeu-se descredibilizar um livro honesto e uma carreira de escritor de grande fôlego.
Outras memórias dignas de menção: “Souvenirs retrouvés” (José Corti ed) de Kiki de Montparnasse. Para quem não saiba, Kiki foi uma modelo de extraordinário êxito nos anos loucos de Montparnasse. Mais, foi uma excelente pintora, admirada por Soutine, Man Ray, Eluard ou Hemingway que a prefaciou (!!!) e ficou famosa pela inteligência e humor de que sempre deu provas. Ficaram famosas as suas intervenções nas reuniões dos surrealistas que a trataram com carinho e respeito. E já que estamos com a mão na massa, recomende-se o belíssimo álbum “El Paris de Kiki, artistas y amantes, 1900-1930”, Tusquets ed. Trata-se de uma das melhores introduções à história artística dessa época, profusamente ilustrada, centenas de fotografias, de anedotas, de notícias que se lêem com um prazer enorme.
E continuando nos álbuns: “5 siécles d’art royal au Benin” (Snoeck), súmula excelente da grande exposição patente no Musée do Quai de Branly. Com o interesse especial de nela figurarem muitas esculturas de mercenários portugueses ao serviço da corte africana.
Outro álbum de inegável qualidade “Eros au secret, l’enfer de la bibliotheque” (Biblioteca Nacional de França) com uma belíssima selecção de gravuras licenciosas, e iconografia variada dos livros condenados à reserva. A BNF aliás distinguira-se meses antes com outro belíssimo catálogo sobre René Char. Com um aliciante: preços perfeitamente decentes tendo em conta a qualidade dos catálogos.
Quase catálogo será o belo livro de Panonika Konigswarter, a baronesa que gostava de jazz, “Les musiciens de jazz et leurs trois voeux” (Buchet-Chastel): cerca de 300 músicos de jazz fotografados por “Nica”. Os retratos são acompanhados por curtos depoimentos dos retratados que referem os seus três principais desejos. Em casa de Panonika viveram Parker ou Monk e a ela foram dedicadas muitas composições. Uma amadora, uma conhecedora e finalmente uma mulher a quem se devem retratos extraordinários (para os interessados: 35€).
Outro quase catálogo: “4 poetas en guerra” (Planeta) de Ian Gibson. Lorca, Machado, Miguel Hernandez e Juan Ramón Jimenez, vitimas da sua lealdade à democracia e à república. Informação exemplar e boas ilustrações.
A propósito, já que tocámos algo de história literária: Alexandre O’Neil uma biografia literária” de Maria Antónia Oliveira é outra obra imperdível. O’Neil merecia esta atenção e os leitores também.
Uma banda desenhada: “Peanuts, obra completa” de Charles M. Schulz, Afrontamento. Os amigos do Snoopy e do Charlie Brown estão que nem uns cucos.
Um dicionário: “The Virgin Encyclopedia of Jazz”, ou como há sempre uma qualquer coisa que desconhecíamos.
E para acabar uma homenagem aos leitores de Fruttero e Lucentini, sobretudo ao livro “A mulher dos domingos” se é que houve tradução portuguesa. E ao filme que era delicioso (Jacqueline Bisset, Marcello Mastroianni e Jean-Louis Trintignant, realização de Luigi Comencini, 1975). Como é sabido Franco Lucentini suicidou-se, acabando assim a mais interessante dupla literária italiana. Carlo Fruttero acaba de publicar, cito a edição francesa que é a que tenho e li, “Des femmes bien informées” (Robert Laffont). Uma homenagem ao livro que os fez famosos e que acima referi. Três dos meus leitores são fans deste duo e decerto gostarão de saber que a velha fonte não secou. Ora aqui está um toque de nostalgia que fica sempre bem num balanço de livros.
A ilustração: Jacqueline Bisset em “A mulher dos domingos”.
E comecemos pela poesia. A poesia é quase o navio almirante das letras pátrias. Das letras até para ser mais preciso. No caso português ocorre que, por razões de todo em todo desconhecidas, temos, sem quaisquer dúvidas ou nacionalismos serôdios, uma plêiade de poetas de primeira água. Infelizmente para os mais apegados ao chão pátrio, não há olimpíadas de poesia pelo que lá se vai uma medalha de oiro quase certa. Paciência e fiquemos com a leitura dos poetas.
Echevarria, Fernando: um cavalheiro façanhudo com bigodes que já se não usam. E um talento, um senhor talento! Saiu a “Obra Inacabada” (afrontamento) um belo tomo que reúne toda a poesia anterior. Imprescindível em qualquer biblioteca.
Baptista, José Agostinho: um percurso silencioso que urge descobrir. Comecem pelo último: “Quatro luas” (Assírio e Alvim) que ainda não desapareceu das estantes das livrarias.
Mendonça, José Tolentino: “A noite abre meus olhos” (Assírio e Alvim) outra recolha da obra anterior. Com a vantagem de se perceber agora, muito bem, a alta qualidade deste poeta.
Nunes, Rui: “Ofício de Vésperas”. De um prosador de culto, “difícil” (!!??), um livro de poemas que já se adivinhavam. Quem esperou, ganhou.
Braga, Jorge de Sousa: “O poeta nu” (Assírio e Alvim) outra recolha da obra anterior publicada. JSB é uma voz bem original e mesmo quando usa a sátira há nele um sopro lírico que merece uma leitura atenta. E gozosa.
E das estranjas? Pois comecemos pelo nº especial de Telerama (Fr) sobre René Char que é um mimo. E bonito. Mais bonito ainda, maior, mais ilustrado e com uma larga cópia de poemas, o número 241 da Litoral (Esp) sobre José Manuel Caballero Bonald, um poeta da geração de cinquenta que não cessa de me maravilhar.
Ovídio (“Amores”, cotovia) voltou ao convívio dos portugueses. Bom tempo para os clássicos? É provável tanto mais que do longínquo e frio norte nos chegou uma outra pérola, “Kalevala”, (Ministério das letras) traduzido com amor, com paixão, por Orlando Moreira.
Do Japão, outro grande clássico: “O gosto solitário do orvalho” de Bashô. Ninguém consegue falar de haiku sem o referir.
Continuando no Japão, passagem á volúpia e à inveja: As edições Dianne de Selliers acabam de apresentar uma integral do “Genji Monogatari” em três volumes dentro de uma caixa, com 500 reproduções de gravuras japonesas dos séculos XII a XVII. Custa a módica soma de 480€ pelo que aqui se abre uma subscrição para oferecer ao cronista esta prendinha...
No romance, helás, uma confissão: leu-se pouco. Mas desse pouco convém ressalvar desde já “Hoje não” de José Luís Peixoto que, com a novela “Ao acaso da paisagem” de Rui Graça Feijó representam a produção nacional. Peixoto é conhecido, Feijó não. Mas vale a pena. Está escrita com segurança, inteligência e uma trama bem pensada. Fui eu quem a apresentou no Porto e confesso que me deu real prazer. De Feijó corre por aí em secretíssima edição “Camilo e Casimiro” um texto que o autor considera libreto de ópera e que vale muito a pena.
Outro português que não pode ser esquecido neste balanço é Jorge Silva Melo. “Século passado” que já foi anteriormente referido e “Fala da Criada dos Noailles” um divertimento delicioso e como de costume bem escrito (muito bem escrito) deram-me um par de horas de muito gozo.
Do estrangeiro refiram-se o sumptuoso “Veneno y sombra y adios” (Alfaguara) de Javier Marias o terceiro tomo de uma obra que concitou louvores gerais: “Tu rosto mañana”. Com “El corazon Helado” (Tusquets) Almudena Grandes confirma todas as esperanças que nela se têm depositado e que (espero que brevemente) poderão ser aquilatadas pelos leitores portugueses. De facto traduzi para a D Quixote “Os ares difíceis” onde alguns dos temas deste novo romance já afloravam, entre eles, obviamente a guerra civil. Noutro registo mas igualmente seguro e bem construído “Un dia de cólera” de Arturo Perez Reverte revive com fidelidade esse “dos de Mayo” que Goya imortalizou e que de certo modo inaugurou a guerra peninsular onde os generais de Napoleão souberam como era lidar com povos em fúria.
E a este propósito cite-se o brilhantíssimo “Ir para o Maneta” de Vasco Pulido Valente. Qualquer pessoa se reconcilia com a História ao ler este texto magnificamente escrito, bem pensado e económico. Aliás o ano foi pródigo no capítulo história. De Irene Pimentel (que colaborou em “Vítimas de Salazar” sob a direcção de João Madeira, um especialista a quem já se devia “Os Engenheiros de Almas”) a Maria Alice Samara (“Verdes e vermelhos” (Notícias), edição antiga mas só agora encontrada) começa a ser perceptível um acrescido interesse sobre a história mais recente a que se junta o cuidadoso texto “Passagem para África” (Afrontamento) de Cláudia Coelho. Outro jovem historiador, Luís Miguel Duarte oferece uma excelente “Aljubarrota” numa escrita viva, moderna e desembaraçada. Bem mais velho mas com um talento indesmentível, Fernando António Almeida, poeta, romancista, autor de guias e roteiros resolveu-se a publicar a sua tese sobre Fernão Mendes Pinto, graças ao apoio da Câmara Municipal de Almada: os leitores que conhecem FAA encontrarão a mesma escrita sugestiva e um sólido conhecimento desse autor genial da nossa literatura de quinhentos. Terminemos a referência à história com a boa notícia da edição de mais um dos livros de “Histórias” de Heródoto: o quinto livro. Pouco a pouco Heródoto vai sendo traduzido. Cruzemos os dedos para ver se em 2008 esta boa disposição editorial continua.
Refira-se ainda “Um escritor na guerra” de Vassili Grossman, o autor de “Vida e destino” que, suponho, ainda não foi traduzido. “Vida e destino” é um romance com um fôlego idêntico senão superior ao melhor Soljenitsine e os textos de “Um escritor na guerra” não lhe ficam atrás. Grossman, um autor que só foi reconhecido depois da sua morte. Quantos, como ele, ainda esperarão, o tardio reconhecimento dos leitores.
No capítulo memorias: “Descascando a cebola” de Gunther Grass. Pessoalmente, entendo que, quem cresceu no nazismo não é culpado de aos 17 anos se engajar num batalhão SS depois de ser recusado pela Marinha. Aos 17 anos é-se, com sorte, muita sorte, um adolescente cheio de dúvidas, nunca um criminoso político. Os urros que a confissão de Grass provocou parecem-me do mais refalsado que li nos últimos tempos. Pretendeu-se descredibilizar um livro honesto e uma carreira de escritor de grande fôlego.
Outras memórias dignas de menção: “Souvenirs retrouvés” (José Corti ed) de Kiki de Montparnasse. Para quem não saiba, Kiki foi uma modelo de extraordinário êxito nos anos loucos de Montparnasse. Mais, foi uma excelente pintora, admirada por Soutine, Man Ray, Eluard ou Hemingway que a prefaciou (!!!) e ficou famosa pela inteligência e humor de que sempre deu provas. Ficaram famosas as suas intervenções nas reuniões dos surrealistas que a trataram com carinho e respeito. E já que estamos com a mão na massa, recomende-se o belíssimo álbum “El Paris de Kiki, artistas y amantes, 1900-1930”, Tusquets ed. Trata-se de uma das melhores introduções à história artística dessa época, profusamente ilustrada, centenas de fotografias, de anedotas, de notícias que se lêem com um prazer enorme.
E continuando nos álbuns: “5 siécles d’art royal au Benin” (Snoeck), súmula excelente da grande exposição patente no Musée do Quai de Branly. Com o interesse especial de nela figurarem muitas esculturas de mercenários portugueses ao serviço da corte africana.
Outro álbum de inegável qualidade “Eros au secret, l’enfer de la bibliotheque” (Biblioteca Nacional de França) com uma belíssima selecção de gravuras licenciosas, e iconografia variada dos livros condenados à reserva. A BNF aliás distinguira-se meses antes com outro belíssimo catálogo sobre René Char. Com um aliciante: preços perfeitamente decentes tendo em conta a qualidade dos catálogos.
Quase catálogo será o belo livro de Panonika Konigswarter, a baronesa que gostava de jazz, “Les musiciens de jazz et leurs trois voeux” (Buchet-Chastel): cerca de 300 músicos de jazz fotografados por “Nica”. Os retratos são acompanhados por curtos depoimentos dos retratados que referem os seus três principais desejos. Em casa de Panonika viveram Parker ou Monk e a ela foram dedicadas muitas composições. Uma amadora, uma conhecedora e finalmente uma mulher a quem se devem retratos extraordinários (para os interessados: 35€).
Outro quase catálogo: “4 poetas en guerra” (Planeta) de Ian Gibson. Lorca, Machado, Miguel Hernandez e Juan Ramón Jimenez, vitimas da sua lealdade à democracia e à república. Informação exemplar e boas ilustrações.
A propósito, já que tocámos algo de história literária: Alexandre O’Neil uma biografia literária” de Maria Antónia Oliveira é outra obra imperdível. O’Neil merecia esta atenção e os leitores também.
Uma banda desenhada: “Peanuts, obra completa” de Charles M. Schulz, Afrontamento. Os amigos do Snoopy e do Charlie Brown estão que nem uns cucos.
Um dicionário: “The Virgin Encyclopedia of Jazz”, ou como há sempre uma qualquer coisa que desconhecíamos.
E para acabar uma homenagem aos leitores de Fruttero e Lucentini, sobretudo ao livro “A mulher dos domingos” se é que houve tradução portuguesa. E ao filme que era delicioso (Jacqueline Bisset, Marcello Mastroianni e Jean-Louis Trintignant, realização de Luigi Comencini, 1975). Como é sabido Franco Lucentini suicidou-se, acabando assim a mais interessante dupla literária italiana. Carlo Fruttero acaba de publicar, cito a edição francesa que é a que tenho e li, “Des femmes bien informées” (Robert Laffont). Uma homenagem ao livro que os fez famosos e que acima referi. Três dos meus leitores são fans deste duo e decerto gostarão de saber que a velha fonte não secou. Ora aqui está um toque de nostalgia que fica sempre bem num balanço de livros.
A ilustração: Jacqueline Bisset em “A mulher dos domingos”.
4 comentários:
Femme des dimanches? De tous les jours, s´il vous plait. Dans ce temps la, of course...
lamentavelmente, não consta desta lista um dos (para mim o) melhores romances portugueses de 2007: o enigma de salomé, de nuno júdice, publicado pela teorema, colecção mitos.
MM
A leitora Mª Manuel não leu o que que escrevi a abrir este balanço: só iria falar de livros que li. O caso da "Salomé"de Júdice, poeta que muito me agrada, entra na categoria dos não lidos, aliás dos que nem sequer vi.
Mais uma vez se pretendeu utilizar o comentário para evocar assuntos totalmente estranhos ao texto. Por muito respeitáveis que as causas sejam isso não passa de pirataria. Caixotinho do lixo!
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