18 abril 2008

Diário Político 81


Defenestração em parte incerta ou
Uma derrota para Sócrates

Convenhamos: o dr. Meneses defenestrou-se. Atirou-se para o vazio como aqueles estimáveis bichinhos, os lemmings, se atiram pela beira do fiorde que os viu nascer, crescer e multiplicar-se. Parece que não há consenso entre os etólogos sobre as causas desse fenómeno.
Por cá também ninguém se entendia sobre as razões do aparente sucesso do dr. Meneses. O tal que era nortista, basista e repentista. Como é que um partido com trinta e tal anos de idade eleva esta criatura ao pódio pouco reluzente de líder em momentos de oposição, ninguém entende. Mesmo em tempo de vacas magras, em tempo de negrume e aflição, entregar ao dr. Meneses sequer uma concelhia já era demais. O dr. Meneses era uma ventarola de ideias e confusões cada qual mais estranha, surpreendente, abstrusa.
Já imaginaram, sequer num momento de delírio, este cavalheiro, porventura amável no civil, a governar esta desgraçada pátria? Aposto singelo contra dobrado que o país inteiro iria em procissão solene e penitente pedir ao dr. Santana Lopes para voltar. E só Deus sabe quanto o dr. Santana foi detestado, atacado (e com razão, há que dizê-lo) e alvo de risota.
Seis meses! Seis meses (ou seja cinco meses e meio a mais) bastaram para pôr o pais de sobreaviso. Até os jornalistas se mostravam cansados e sem entusiasmo. Meneses como filão era excessivo e contraproducente. Havia gente, dizia-se, que já não comprava o jornal sem ter a garantia que nem uma linha havia com declarações de Meneses. É obra.
Claro que o dr. Meneses não é o inteiro culpado da triste situação em que se vê. Houve uns cavalheiros, e não dos de menor importância dentro do PSD, que o terão apoiado e entusiasmado a cobiçar um posto político para o qual ele manifestamente não tinha estatura. O sr. engenheiro Ângelo Correia, que tão tarde saltou do barco em perdição, o dr. Mota Amaral também fez parte do inner circle de apoiantes respeitáveis. E mais houve, mesmo entre os que se remeteram a um prudente (demasiadamente prudente) silêncio desde os inícios da saga menesiana.
Temos depois, o concurso de um grupo de incendiários entre os quais esta derradeira fornada comandada pelo dr Gomes da Silva, que já se distinguira (enfim: se tornara notado) noutros tempos de igual desnorte. Esteve igual a si próprio o que não é pouco. Quando se pensa que se atingiu o fundo, aí aparece esta perturbante novidade: com políticos como gomes da silva é sempre possível ir mais longe.
O resto é história conhecida: na vertiginosa corrida para as profundezas abissais a que assistimos, só o PS parecia satisfeito: as travessuras de Meneses, o seu estonteante percurso em zig-zag confortavam o partido do governo. Fizesse o que fizesse, e só Deus sabe quanto fez e quanto desfez, o protesto público seria sempre inferior ao sucesso dos auto-golos de Meneses. O PS apenas precisava de ir seguindo a sua rota de um passo em frente, dois atrás, para garantir uma vitória nas próximas legislativas, desde que Meneses fosse debitando as estarrecedoras propostas que ouvimos.
Agora, suceda o que suceder (ou quase: sempre podem ir buscar um líder a Rilhafoles!...) o partido da oposição irá dar alguma luta. Ou mesmo que a não dê: baste que fale pouco e baixinho, deixando o PS e Sócrates o seu profeta continuarem o seu penoso caminho.
Persegue-me, porém, um pensamento maligno: será que Meneses teve ontem, em Sintra, um relance de lucidez e, ao demitir-se, resolveu tirar o tapete aos socialistas? É que se o PSD conseguir encontrar entre o escasso lote de pretendentes que seguramente vão começar a aparecer alguém de respeitável, com duas ou três ideias, capaz de provar ao país que pode fazer as coisas melhor e com menos custo que Sócrates (o que não parece ser de grande complexidade) corre-se o risco (se é que entre um PS agónico e conservador e um PSD renovado ainda há alguma diferença) se risco há de entregar a pátria farta deste espectáculo à direita.

Vosso,
d'Oliveira

2 comentários:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Carísssimo d'Oliveira, Menezes deu um passo maior do que a perna e nunca o entendeu. Depois, a sua entourage era de fugir, a começar pelo anedótico secretário-geral, Ribau Esteves. Mas eles "andem" aí a preparar-se para a recandidatura, pois é isso que quer dizer a marcação tão apertada do calendário. Quanto a Sócrates, deixemo-lo governar. Nisso não estamos de acordo - acho que as coisas vão indo pelo melhor caminho (possível).

Albino M. disse...

Aposto singelo contra dobrado (singelo contra dobrado)?
Ó cum-caraças...