Confiança, dizem eles...
Ai minhas manas e leitorinhas!... então não é que aquela gente da finança, alta, média ou baixa, que são todos iguais, valha-os Deus, agora insiste que nós, os do montão, os paisanos, os ignorantes, as massas, devemos fazer mais um esforço e ter confiança, mostrar confiança nas bolsas, nas medidas governamentais, na responsabilidade dos banqueiros, na grandeza dos empresários, na honestidade dos correctores de Wall Street!
Então não deveriam ser eles a confiar, a investir, a comprar as acções que estão pelo preço da uva mijona, a “rastos de barato” como diria o falecido presidente do Clube dos Trouxas, meu venerado Rui Feijó que, como Jesus Cristo (apud Pessoa, em heterónimo) não percebia nada de finanças? Então hei-de ser eu, um Zé Ninguém, que não tem cheta, que hei-de ir a correr comprar acções da Telecom, obrigações da Galp, investir, inverter, arejar uns carcanhóis que antecipadamente algum banco misericordioso (como todos os bancos que se prezam sobretudo os dos sub-primes, super merda) me emprestará a juro razoável (segundo o onzeneiro) tomando como garantia a minha casa, os meus livros, a minha carcaça (de bem pouca valia, dada a idade e os estragos de uma vida crivada de erros meus, má fortuna e amor ardente)?
Hei-de ser eu, armado em Durão Barroso mais loquaz e mais interveniente (agora a criatura desdobra-se pelas televisões e anexos como se tivesse contribuído com algo mais do que um espesso silêncio para a resolução (???) da crise), quem deve tirar as castanhas do lume, já que é tempo delas, valha-nos ao menos isso, ainda hoje comprei uma dúzia no Chiado (chiça que as castanhas estão que fervem, até pensei que me tinha enganado e que estava a comprar “marrons glacés e não um honrado produto nacional e transmontano que pelo preço deve ter sido lavado em petróleo já refinado e embrulhado em seda natural, daquela com que se faziam umas saudosas gravatas Michelson’s que só se vendiam também no Chiado numa lojinha pequena e caríssima mesmo ao lado da Bertrand: vão lá e vejam os preços para saber quanto é dura a vida dos ricos e dos tipos que têm a mania de usar gravatas diferentes das da deputadagem, da ministeriagem e da empresariagem indígenas... )?
Já me perdi, o que até nem é mau porque assim devo assemelhar-me aos nossos capitães da indústria (eu ia a dizer cavalheiros de indústria mas se calhar eles não percebiam e já não estou para "dar pulos á margarida" como diziam os romanos, quem quiser perceber que vá ás fábulas latinas que eu não tenho tempo nem paciência para traduzir o meu estafado humor em terceiro grau...) que também andam por aí desnorteados, a fingirem que isto (a crise) não é nada com eles. E se calhar não é. A chuva quando cai não é para todos mas apenas para os que não tem gabardina nem chapéu de chuva. Ou seja: eles poderão safar-se mas nós vamos ser como o mexilhão quando o mar bate na rocha (Eu estou a ver a minha companheira de blog, a Sílvia que anda fugida, à nora com estes idiomatismos ((cfr. Dicionário Aurélio, 2º edição, pag. 913)) portugas, a tentar entender esta língua fugidia que nenhum acordo luso-brasileiro alguma vez consertará, pensando que o mcr endoidou definitivamente como era de prever mas não de lamentar.), nós vamos ser lixados, como é tradição, costume, hábito, fado, vida.
Eu gostaria imenso de dizer, como o velho professor de Candide que tudo corre pela melhor no melhor dos mundos, mas como todos sabem, nem Voltaire acreditava nisso. Aliás, acreditava em poucas coisas, o velho sacaninha, e por isso aí o temos janota a fazer galhardamente 300 anos, a espantar os dignos de espantar-se, os que ainda se surpreendem, os que são curiosos, os que gostam de saber e não se satisfazem com frases feitas, narizes de cera, proclamações altissonantes e outras balivérnias.
É por isso, por me sentir mais próximo do velho Senhor do que destas imitações de intelectual que por cá pululam, saltitantes e excitadas, que me sinto intranquilo e não me converto à novíssima moda do hossana à Europa (enfim desunida) ao governo que me vai aumentar a pensão, e aos senhores deputados que votaram rapidamente e em força o aval aos bancos. Não que não seja necessário que o é, mas provavelmente votar só isso será pouco, muito pouco. Precisa-se de outro paradigma, de outra vida, de outra responsabilidade. Remeto-vos, leitoras conscienciosas, para o belo post de JSC aí em baixo. Ele diz bem o que eu só toscamente consigo murmurar.
E, para fechar em beleza, um conselho baratinho: corram, voem à livraria mais próxima e comprem o último Herberto Hélder. Na editora já esgotou mas ainda hoje o vi em duas ou três livrarias, mormente numa pequena livraria do Centro Comercial Palmeiras em Oeiras. Ora aqui está um profissional que não deixa os seus créditos por mãos alheias. Mesmo tendo uma pequena loja num pequeno centro comercial, não deixou de encomendar o Hélder. Precisamos de muitos livreiros como este. Ou como uma certa Liliana Palhinha em Faro onde existe uma coisa linda e divertida: Pátio de Letras. Entrem e vejam. E bebam um copo enquanto compram um livro e folheiam outro. E falem com a senhora livreira. Além de bonita é inteligente e simpática.
São pessoas destas que me fazem pensar que nem tudo está perdido.
Ai minhas manas e leitorinhas!... então não é que aquela gente da finança, alta, média ou baixa, que são todos iguais, valha-os Deus, agora insiste que nós, os do montão, os paisanos, os ignorantes, as massas, devemos fazer mais um esforço e ter confiança, mostrar confiança nas bolsas, nas medidas governamentais, na responsabilidade dos banqueiros, na grandeza dos empresários, na honestidade dos correctores de Wall Street!
Então não deveriam ser eles a confiar, a investir, a comprar as acções que estão pelo preço da uva mijona, a “rastos de barato” como diria o falecido presidente do Clube dos Trouxas, meu venerado Rui Feijó que, como Jesus Cristo (apud Pessoa, em heterónimo) não percebia nada de finanças? Então hei-de ser eu, um Zé Ninguém, que não tem cheta, que hei-de ir a correr comprar acções da Telecom, obrigações da Galp, investir, inverter, arejar uns carcanhóis que antecipadamente algum banco misericordioso (como todos os bancos que se prezam sobretudo os dos sub-primes, super merda) me emprestará a juro razoável (segundo o onzeneiro) tomando como garantia a minha casa, os meus livros, a minha carcaça (de bem pouca valia, dada a idade e os estragos de uma vida crivada de erros meus, má fortuna e amor ardente)?
Hei-de ser eu, armado em Durão Barroso mais loquaz e mais interveniente (agora a criatura desdobra-se pelas televisões e anexos como se tivesse contribuído com algo mais do que um espesso silêncio para a resolução (???) da crise), quem deve tirar as castanhas do lume, já que é tempo delas, valha-nos ao menos isso, ainda hoje comprei uma dúzia no Chiado (chiça que as castanhas estão que fervem, até pensei que me tinha enganado e que estava a comprar “marrons glacés e não um honrado produto nacional e transmontano que pelo preço deve ter sido lavado em petróleo já refinado e embrulhado em seda natural, daquela com que se faziam umas saudosas gravatas Michelson’s que só se vendiam também no Chiado numa lojinha pequena e caríssima mesmo ao lado da Bertrand: vão lá e vejam os preços para saber quanto é dura a vida dos ricos e dos tipos que têm a mania de usar gravatas diferentes das da deputadagem, da ministeriagem e da empresariagem indígenas... )?
Já me perdi, o que até nem é mau porque assim devo assemelhar-me aos nossos capitães da indústria (eu ia a dizer cavalheiros de indústria mas se calhar eles não percebiam e já não estou para "dar pulos á margarida" como diziam os romanos, quem quiser perceber que vá ás fábulas latinas que eu não tenho tempo nem paciência para traduzir o meu estafado humor em terceiro grau...) que também andam por aí desnorteados, a fingirem que isto (a crise) não é nada com eles. E se calhar não é. A chuva quando cai não é para todos mas apenas para os que não tem gabardina nem chapéu de chuva. Ou seja: eles poderão safar-se mas nós vamos ser como o mexilhão quando o mar bate na rocha (Eu estou a ver a minha companheira de blog, a Sílvia que anda fugida, à nora com estes idiomatismos ((cfr. Dicionário Aurélio, 2º edição, pag. 913)) portugas, a tentar entender esta língua fugidia que nenhum acordo luso-brasileiro alguma vez consertará, pensando que o mcr endoidou definitivamente como era de prever mas não de lamentar.), nós vamos ser lixados, como é tradição, costume, hábito, fado, vida.
Eu gostaria imenso de dizer, como o velho professor de Candide que tudo corre pela melhor no melhor dos mundos, mas como todos sabem, nem Voltaire acreditava nisso. Aliás, acreditava em poucas coisas, o velho sacaninha, e por isso aí o temos janota a fazer galhardamente 300 anos, a espantar os dignos de espantar-se, os que ainda se surpreendem, os que são curiosos, os que gostam de saber e não se satisfazem com frases feitas, narizes de cera, proclamações altissonantes e outras balivérnias.
É por isso, por me sentir mais próximo do velho Senhor do que destas imitações de intelectual que por cá pululam, saltitantes e excitadas, que me sinto intranquilo e não me converto à novíssima moda do hossana à Europa (enfim desunida) ao governo que me vai aumentar a pensão, e aos senhores deputados que votaram rapidamente e em força o aval aos bancos. Não que não seja necessário que o é, mas provavelmente votar só isso será pouco, muito pouco. Precisa-se de outro paradigma, de outra vida, de outra responsabilidade. Remeto-vos, leitoras conscienciosas, para o belo post de JSC aí em baixo. Ele diz bem o que eu só toscamente consigo murmurar.
E, para fechar em beleza, um conselho baratinho: corram, voem à livraria mais próxima e comprem o último Herberto Hélder. Na editora já esgotou mas ainda hoje o vi em duas ou três livrarias, mormente numa pequena livraria do Centro Comercial Palmeiras em Oeiras. Ora aqui está um profissional que não deixa os seus créditos por mãos alheias. Mesmo tendo uma pequena loja num pequeno centro comercial, não deixou de encomendar o Hélder. Precisamos de muitos livreiros como este. Ou como uma certa Liliana Palhinha em Faro onde existe uma coisa linda e divertida: Pátio de Letras. Entrem e vejam. E bebam um copo enquanto compram um livro e folheiam outro. E falem com a senhora livreira. Além de bonita é inteligente e simpática.
São pessoas destas que me fazem pensar que nem tudo está perdido.
3 comentários:
Vai-se a ver e ontem podia ter tropeçado no meu amigo, em pleno Chiado, e poderíamos ter aí discutido, crises, gravatas, livros e quejandos. Um abraço
E já agora poderíamos ter almoçado juntos, que ainda por ali conheço uns quantos sítios onde duas pessoas de bem podem assentar arraiais e dar ao dente. fica para a próxima. Outro abraço
Quase custa a acreditar que quem andou a fazer tamanhas maldades ao mundo com subprimes e quejandos agora nos peça para termos confiança! Ah, e, claro, que lhes paguemos as dívidas através do ivestimento estatal de milhões para evitar as falências...gostaria de saber quem iria investir alguns milhõezitos na minha pessoa se eu estivesse à beira da bancarrota, aliás, quase que estou, como muitos bons e valentes portugueses e europeus e americanos. Mesmo assim, é com o dinheiro do estado (sempre ouvi dizer que o Estado somos nós, logo, o dinheiro é nosso) que se está a tentar salvar o que os multimilionários gestores andaram a fazer...ah, e além de tudo isto, ainda temos, nós portugueses, que sofrer mais uma agrura, a do (des)acordo ortográfico...e os estrangeiros ainda se admiram por gostarmos tanto de fado, que é tão triste...o que vale é que depois vamos ver o mar e tudo passa...
Enviar um comentário