Já que estão com
a mão na massaDaqui a dois anos celebra-se o primeiro centenário da República. Parece que se preparam grandes festejos ou pelo menos é isso que é permitido pensar dada a gigantesca comissão já nomeada.
Nunca fui um especial entusiasta de comemorações deste teor mas percebo bem que haja quem sinta uma imperiosa necessidade de se proclamar republicano. O republicanismo está ainda associado a uma certa ideia de defesa de ideais de igualdade, solidariedade e justiça social. Convenhamos que as coisas nem sempre se passam assim e que a República, mesmo a !ª (1910-1926) andou muitas vezes longe destes desideratos. O Partido Democrático avassaladoramente maioritário durante este período não foi um amigo dos sindicatos, dos trabalhadores para não falar das mulheres e dos camponeses. E para não falar sobretudo do clero, da maioria católica que não só se sentiram atingidos pela perda de privilégios extravagantes mas também pela tenaz perseguição que a ala mais radicado novo regime levava a cabo contra os “talassas”, os monárquicos e os crentes habilmente amalgamados pela propaganda republica numa imensa conspiração restauracionista que, como na fábula do rapaz e do lobo, acabou em 1926 por se tornar real. Ou melhor: o golpe de Gomes da Costa é sobretudo obra de republicanos, como são republicanos muitos dos mais influentes dirigentes do regime que se lhe seguiu.
Devia, julgo, poder fazer-se agora a história desapaixonada desse período com as suas grandezas e... com as suas misérias. Foi isso que um grupo de monárquicos veio solicitar há pouco e é isso que a ética republicana, pelo menos como a entendo, exige. Não se trata de, mais uma vez, pedir umas estúpidas desculpas, que nada significam e que nada resolvem, mas apenas de fazer finalmente a história de uma época que a imensa maioria dos portugueses desconhece e que, por exemplo, um museu como o da república, omite.
Sob pena de, não o fazendo, levar a água ao moinho dos adversários da Republica ( e muitas vezes da liberdade) a quem as roupagens de vítima favorecem.
Há pouco tempo, um desses concursos populares, deu a Salazar o estranho e inesperado título de português mais popular e importante do século passado. Suponho que Afonso Costa nem sequer aparece citado na lista das personalidades marcantes. Isto diz muito sobre o desconhecimento da República.
Consta, porém, que há uma opinião bastante generalizada que remete a história e a critica das misérias da República para os seus adversários ou para “gente do género Vasco Pulido Valente”. Trata-se , a ser verdade, de uma burrice supina seja qual for o ponto de vista que se adopte. À uma, o dever do historiador é a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade. Depois, VPV é seguramente um historiador brilhante irredutível a géneros sejam eles quais forem. Terceiro, voltar a tentar escrever piedosas hagiografias da Primeira República, é um erro palmar que não só não ajuda a comprender a época mas, sobretudo, nos remete para o que de mais torpe e canalha se herdou do salazarismo.
Perceberam ou é preciso fazer um desenho?
Nunca fui um especial entusiasta de comemorações deste teor mas percebo bem que haja quem sinta uma imperiosa necessidade de se proclamar republicano. O republicanismo está ainda associado a uma certa ideia de defesa de ideais de igualdade, solidariedade e justiça social. Convenhamos que as coisas nem sempre se passam assim e que a República, mesmo a !ª (1910-1926) andou muitas vezes longe destes desideratos. O Partido Democrático avassaladoramente maioritário durante este período não foi um amigo dos sindicatos, dos trabalhadores para não falar das mulheres e dos camponeses. E para não falar sobretudo do clero, da maioria católica que não só se sentiram atingidos pela perda de privilégios extravagantes mas também pela tenaz perseguição que a ala mais radicado novo regime levava a cabo contra os “talassas”, os monárquicos e os crentes habilmente amalgamados pela propaganda republica numa imensa conspiração restauracionista que, como na fábula do rapaz e do lobo, acabou em 1926 por se tornar real. Ou melhor: o golpe de Gomes da Costa é sobretudo obra de republicanos, como são republicanos muitos dos mais influentes dirigentes do regime que se lhe seguiu.
Devia, julgo, poder fazer-se agora a história desapaixonada desse período com as suas grandezas e... com as suas misérias. Foi isso que um grupo de monárquicos veio solicitar há pouco e é isso que a ética republicana, pelo menos como a entendo, exige. Não se trata de, mais uma vez, pedir umas estúpidas desculpas, que nada significam e que nada resolvem, mas apenas de fazer finalmente a história de uma época que a imensa maioria dos portugueses desconhece e que, por exemplo, um museu como o da república, omite.
Sob pena de, não o fazendo, levar a água ao moinho dos adversários da Republica ( e muitas vezes da liberdade) a quem as roupagens de vítima favorecem.
Há pouco tempo, um desses concursos populares, deu a Salazar o estranho e inesperado título de português mais popular e importante do século passado. Suponho que Afonso Costa nem sequer aparece citado na lista das personalidades marcantes. Isto diz muito sobre o desconhecimento da República.
Consta, porém, que há uma opinião bastante generalizada que remete a história e a critica das misérias da República para os seus adversários ou para “gente do género Vasco Pulido Valente”. Trata-se , a ser verdade, de uma burrice supina seja qual for o ponto de vista que se adopte. À uma, o dever do historiador é a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade. Depois, VPV é seguramente um historiador brilhante irredutível a géneros sejam eles quais forem. Terceiro, voltar a tentar escrever piedosas hagiografias da Primeira República, é um erro palmar que não só não ajuda a comprender a época mas, sobretudo, nos remete para o que de mais torpe e canalha se herdou do salazarismo.
Perceberam ou é preciso fazer um desenho?
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