12 novembro 2008

Farmácia de Serviço 46


O boticário anda relapso. E triste. Não passa um dia, vá lá uma semana, em que não lhe morra um amigo. Por exemplo o Tony Hillerman, autor de romances policiais delicadíssimos, belíssimos, todos ou quase passados nos territórios da tribo Navajo (Diné ou Dinah, como eles se apelidam) e os seus heróis são polícias tribais.
Cada um dos romances é parte de um tratado sobre a cosmogonia surpreendente deste povo, uma aventura, um despaísamento que valem a viagem. Quem quiser saber mais que vá pelos livrinhos que andam entre nós publicados pela Caminho. Com B Akunin ou Andrea Camilleri, Hillerman é uma nova e exaltante cara do novo romance policial.

E que dizer do passamento de Miriam Makeba, nome ocidentalizado de uma mulher sul africana que assinava em pelo menos dez linhas? Que com ela morre alguma da mais exaltante música que nos acompanha desde os anos sessenta? Que ela, e Hugh Masekela, com quem trabalhou, deram a conhecer a fascinante música sul-africana, a música de Spokes Mashiane, os kuela, o jazz sul-africano, os impressionantes coros da nação zulu enfim um mundo sonoro que agora anda subavaliado pela designação world music? Qual world qual quê? Música, grande música, ritmo e cor a dar por um pau, música para cantar, para dançar, para amar.
Miriam morreu no palco. Ou quase. O ataque fatal apanhou-a no camarim depois de uma actuação generosa e emocionada. E solidária! Cantava para apoiar um autor perseguido pela máfia, ou pela camorra. Ou pela n’dranghetta, vá-se lá saber. Cantava porque nessa terra ignota alguns pobres emigrantes africanos tinham sido alvo de violência. Cantava porque essa era a sua arma, a sua vida, a sua razão de ser.
Recomendam-se (meramente indicativos): “An Evening with Belafonte” (B000063RVN); “Her Essential recordings: The empress of África” B0000E1P334; “Miriam Makeba en concert” 2B00007BH7J.
(e não esqueçam o branco Johnny Clegg que também deu o litro quando isso significava risco, perigo).
Passam 20 anos sobre a morte de Jacques Brel. Tempo mais que oportuno para comprar “Les 100 plus belles chansons” uma caixa (de metal, se faz favor!!! de cinco discos por menos de 30 euros, enfim 29,98!
De Brel já se disse tudo. Eu acrescentarei que o “devo” (outra vez!) à Maria João Delgado e um pouco às manas Feijó que cometem este mês os respectivos aniversários. Como de costume esqueci-me mas elas já sabem do que a casa gasta. E são pacientes!
Hoje, aliás ontem, passaram 90 anos sobre o armistício que pôs fim (?) à 1ª Grande Guerra. Nunca mais!, dizia-se depois daquela sangueira. Nunca mais? Bastaram uns escassos vinte anos.
A Grande Guerra, esta, foi uma guerra miserável (como todas as guerras mas aqui mais) onde se fusilaram milhares e milhares de soldados “pour l’exemple”. Ainda hoje se reabilitam soldados e oficiais pelas infâmias que não cometeram mas que pagaram com a morte. Quem quiser saber mais vai já ao blog do João Tunes que aborda o assunto com a habitual honestidade e dignidade (agualisa6.blogs.sapo.pt) e onde já produzi um comentário.
Quem quer ir um pouco mais longr, compra o Figaro hors serie La Grande Guerre, 1918-2008) São oito euros, traz mapas, artigos e bibliografia e está nos quiosques.

Quem tiver uns cacausinhos para arejar vai para Paris ver uma bela exposição de Rouault (Pinacotheque) ou os desenhos de Durer e Leonardo (e muitos outros) na École des Beaux Arts, sob o título “figures du corps”.
Mais baratinho, Madrid no Thyssen: a guerra e as vanguardas: tudo sobre o futurismo e adjacências. Um regalo.
Os amadores de televisão e de policiais inteligentes têm na RAI 1 às segundas, pelas nove horas mais uma série de filmes da serie Montalbano: outro regalo. A Sicília, Camilleri, um punhado de bons actores e histórias bem contadas. Em italiano, previne-se já.
Ainda para conhecedores da bela língua: já saíram e estão à venda os 9 primeiros volumes de Tutto Dante, dito (magistralmente!) por Roberto Benigni. Calma aí, malta, que estes nove volumes são apenas os referentes ao Inferno. Benigni recita, explica, comove, entusiasma-se, gesticula, faz piruetas e restitui-nos um Dante tão próximo, tão familiar, tão nosso (tão de Buarcos, diria eu...) que a malta não despega.

A gravurinha do dia intitula-se Navajo constelations e é uma maneira simples de homenagear Tony Hillerman

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