16 dezembro 2008

Au Bonheur des Dames, 159


Pois é, leitorinhas gentis: vocês não sabem, não vão acreditar, eu mesmo ainda duvido, até me belisco, e já estou a ver a cara da minha administradora (e amiga) deste blog, a almirante Kamikazi, agora livreira aplicada em Faro ( e vende belas coisas, olá se vende!…) e das restantes mulheres da tripulação que sabem dos meus infortúnios de canhoto (de pata e de coração) com a internet, com as máquinas em geral e com os computadores em particular.
A propósito do Natal, este incréu, ofereceu-se a si mesmo um IPod! Um IPod a sério, nada dessas mariquices de meia duzia de gigabites. Aliás, o último IPod de 160 giga!!! Ora tomem lá, que é serviço! Ainda por cima, por ser o último estava em “saldo”, enfim, com um preço enternecedor. Traduzindo: com um preço menos abusivo do que é costume.
Eu devo, todavia, explicar esta aventura. A CG andou durante mais de uma semana, murcha: uma constipação pertinaz (mas não o suficiente para a impedir de fumar uns cigarros que ela agora faz com o auxílio de uma maquineta …) deitou-a por terra. Aliás, na cama. Dores, tosse, olho pingão, enfim o trivial para a época. Ainda tentou acusar-me de lha ter pegado, por via de dois espirros que dei mas não teve êxito: precavido, avinhei-me, abifei-me (por acaso apeixei-me…) e abafei-me e sobrevivi, glorioso e resplandecente, aos miasmas com que ela empestava a casa. As gatas também sobreviveram, vê-se que são bichos com muita capacidade. E com um sólido apetite…
Chegou, porém, o dia abençoado em que a maleita retirou zangada provavelmente com os antibióticos e demais mezinhas com que a CG se enfrascava. Foi no passado sábado. Com a notória má fé das convalescentes, a CG anunciou-me, em tom imperrial e imperativo que “isto não é vida” que estava farta de estar em casa (como se eu fosse o responsável…) e que tinha de ir urgentemente às compras. Ao sábado?, murmurei, lembrado das multidões ululantes que atragantam centros comerciais e drivados. Hoje, repontou a ex-doente, sábado ou não sábado é hoje, e pronto.
Leitoras, desculpem-me, mas uma mulher que sai duma gripe e entra numa de compras é como um tsunami. Não dá hipótese. Consegui evitar várias hipóteses tenebrosas mas do “corte inglês” é que não me salvei. Do mal o menos, pensei. Sempre se almoçam umas tapas e há vários recantos para tomar o café e ler os jornais.
Uma vez dentro daquele bazar, consegui carta de alforria e, no caminho para o café passei pelo balcão dos computadores & restante parafernália. Convém dizer que a aparelhagem do meu carro dera o triste pio e um pesaroso electricista anunciara-me que não me convinha comprar um novo leitor de cd com caixa para dez discos. Porque se estragam com facilidade, porque já não fabricam, porque sei lá que mais. E que o que estava a dar era aparelhagens preparadas para mp3. Com a vantagem de poder caber muito mais música (óperas, disse-me ele como se adivinhasse esta minha debilidade por Rossini, seja ele musical ou em mero tournedó). E há aparelhos com entrada para IPod?, claro, respondeu-me e logo ali se consertou a compra de um desses maquinismos.
Mas o IPod será para mais tarde, preveni-me a mim mesmo. A época é de crise, a malta tem de ajudar uns bancos, coitados, que andam por aí a gemer, e umas seguradoras, e mais não sei quantas empresas, senão o país cai de cú.
Mas o homem põe e o Deus dos mercadores dispõe. Estava eu a olhar para a maquinaria exposta e alguém solta: olha um IPod dos de 160E a preço de saldo, interveio o vendedor melífluo. Se eu não tivesse já um até comprava, retorquiu o primeiro. Compro-o eu, e é para já!, disse uma parte de mim suficientemente alto para o vendedor se dirigir a este vosso criado com um sorriso de predador que vê uma presa inocente e nédia (o que aliás também é verdade…)
Foi assim que em meia hora fiquei proprietário orgulhoso de um IPod, da respectiva “dock”, que também estava com “preço especial”. E o vendedor blandicioso sussurrava: compre em doze meses que não paga juros…
Um homem não é de pau, como decerto saberão. E os tais doze meses davam, de facto uma mensalidade aprazivel (menos de quarenta euros!) que, enganando-me a mim próprio, traduzi logo: são dois livros que não compro…
E regressei a casa, carregado de novidades tecnológicas, receando a leitura informe de tremendos livros de instruções que sempre me pareceram escritos em serbo-croata antigo e na voz perifrástica, seja isso o que for.
Ora, é aquí, leitoras subtis, que o milagre das rosas ocorreu. À uma consegui logo transferir do computador 3697 horas de música, traduzidas em óperas, concertos de jazz, enfim um escândalo de música que já começou a ser ouvido na aparelhagem do carro! Consegui montar a “dock” que neste momento já mostra garbosa, as horas, toca tudo e até já pré-programei estações, enfim uma estação, a antena 2.
Mas há mais: embriagado por estes triunfos, descobri que uma simples pen também se pode carregar com música (o que já fiz depois de brevíssima explicação) e ser ouvida no aparelho maravilhoso do carro que também funciona perfeitamente.
Em suma, as coisas têm corrido de tal maneira que talvez me resolva a estudar este fim de semana toda a teoria quântica. Quem consegue mexer no IPod, na dock e no resto não deve ter receio de afrontar essas minúcias. E depois do Natal entro na topologia. A menos que o frio me impeça.

* alguém dirá que a ilustração não tem nada a ver com o texto. Homessa! E por que raio havia de ter? E para já até tem. E eu gosto do Tati

5 comentários:

josé disse...

Para quem tem uma Koetsu, virar para um pod, ai! que até se me dói o dó de peito.

Um pod, mesmo aos ais, não consegue tirar um quinto do sumo que a Koetsu espreme de umas espiras bem alinhadas.

Mas ainda assim, será que o som é de gritos, ou apenas mia, nas áreas de uma Callas?

Os pods, debitam mp3 e parece ser esse o caso. Um ocaso, para a qualidade mínima de uma audição musical.

A Alta fidelidade fica à porta dos uns e zeros dos pods e mp3. Mas há quem garanta ( José Vítor Henriques) que num bom ambiente e acalentado por um bom amplificador engana o mais prevenido.

Será?

M.C.R. disse...

Meu caro josé

A minha Koetu é uma Kiseki blue S.

O IPod é para deambular e para o carro.
A Kiseki é para os LP que infelizmente são já apenas 1/4 da discoteca.
E infelizmente a produção actual de LP é marginal e não abrange mais de 5% da produção discográfica com terríveis falhas no jazz, em alguma clássica em quase toda a música antiga e em muita barroca.
Devo dizer que o IPod tem uma sonoridade absolutamente invulgar e que ganha a muita aparelhagem que por aí anda.
Por outro lado: comparativamente este IPod custou cerca de 20% do preço da Kiseki (feita a correcção de preços, claro)... A alta fidelidade esotérica deixou de estar ao meu alcance. basta ir á Imacústica e ver.Ai!.....

O meu olhar disse...

MCR, não pára de me espantar. Agora são as suas novas (?) competências nas tecnologias! O seu texto está um verdadeiro mimo….:)

josé disse...

Pois é uma Kiseki que confundo sempre com a outra.

Mas vamos ao sumo da questão que quero colocar:

O meu comentário foi apenas uma introdução ao assunto que também me interessa de há anos ( desde que o José Vítor Henriques, um dos maiores especialistas destes esoterismos sonoros, o mencionou).

O som do iPod, é de qualidade segura para se ouvir toda a subtileza de uma sinfonia ou de uma ária, na área erudita?
QUero dizer, comparando a sonoridade de um LP, o iPod, retribui igual satisfação auditiva ou passa apenas como um sucedâneo bem conseguido na imitação?

Pode parecer uma dúvida esotérica, mas é isso mesmo- um diferencial de confiança na evolução tecnológica da captação e reprodução sonora.

M.C.R. disse...

Meu caro José

A discussão das vantagens LP versus cd ou IPod é uma discussão interminável e quase sem sentido. Há cada vez menos LP, prevê o fim do CD pelo que o IPod e anexos irão ficar sozinhos ou com uma concorrencia que desconheço.
Tenho por mim que tudo depende (e muito) do reproductor Uma má coluna desgraça a melhor música e uma coluna que não esteja adaptada à aparelhagem a montante idem. Até os cabos são importantes...
eu sou um fiel auditor com ouvido médio ou, se calhar, apenas sofrível. Gosto do som do IPod . Muito. O meu irmão que é um amador esclarecido e conhecedor usa o IPod (aliás um sucedâneo mas vai comprar um IPod) com grande satisfação.
eu já aqui disse que, não obstante ter uma aparelhagem que o senhor Vicente da Imacústica classificou como um velho RolsRoyce, gosto bastante dos cd que aliás oiço por vezes nessa mesma aparelhagem (leitor Philllips CD650; preamplificador 3BX da musical fidelity e colunas bi-amplificadas Meridian)
De resto tenho uma pequena pecha contra os LP: riscam-se!... vão estragando mesmo que se tenha o maior dos cuidados. E eu até substituía as embalagens de plástico por umas especiais de papel...
Portanto entro no IPod sem grandes cuidados Não sou um fanático (e conheço alguns... que sempre que me mostravam aparelhagens espectaculares nunca ouviam mais do que os primeiros compassos de uma qualquer peça...) e ainda não me escandalizei com qualquer audição.