A carta na garrafa:
às exmas gatas Bê e Lucy (chez Manuel António Pina) pelas suas congéneres Kiki de Montparnasse e Ingrid Bergman( chez mcr)
Caras amigas
Somos as gatas hospedadas por mcr, admirador incondicional do vosso hospedeiro Manuel António Pina. Por solilóquios vários do nosso hospedeiro soubemos que o vosso projecta editar “apenas para amigos” um livrinho de poemas.
Grande sacana!, murmurava o mcr, a gente nunca se vê e o tipo é menino para se esquecer de mim.
“Quem?, perguntou a CG, hospedeira nossa e nossa especial manicure, cabeleireira e massagista. O Manel Pina, um tipo que é poeta e que conheço desde sessenta e tal. E é bom?, Bom?, é óptimo. O gajo sabe da poda como poucos, quase nenhum.
Poda, pelo que conseguimos perceber deve ser o mesmo que poesia, só que em puro, limpo, directo, luminoso, sem rodriguinhos nem narizes de cera. Uma coisa, esta é da Ingrid, quase tão especial quanto uma gata. A Ingrid é muito selectiva neste capítulo da classificação dos seres vivos. Dos humanos só aproveita um senhor chamado Mozart, um outro chamado Joyce, um tal Borges e uns (quem seráo?) Rabelais e Voltaire. E o Fernão Mendes Pinto? Esse vem na segunda lista, divisão A, superior.
Ora, como verificam, este nosso hospedeiro, que é bom tipo, com suas manias, nunca se esquece de partilhar o fiambre do pequeno almoço comigo (Kiki dixit) anda com as vísceras alanceadas. E se o Manel esgota os livrinhos antes que o pilhe? Telefone, propõe a CG. Sei lá se o tipo tem telefone... os poetas são assim, comunicam por outros meios, por telepatia ou, no mínimo através dum tal alfabeto homográfico que era uma coisa que se fazia com bandeirinhas na mocidade portuguesa, uma estafadeira tão inútil quanto o resto e meia pateta, respondeu, sombrio o mcr. O homem é um nocturno, um cabouqueiro da noite, ninguém o apanha a horas decentes.
Foi por estas e outras razões que, enquanto o mcr está na livraria leitura com um par de jarretas da mesma idade (às quartas feiras é certinho: juntam-se na livraria, bebem café, chateiam os empregados e dizem mal do Saramago) fomos ao computador que está na nova sala dos livros e zás, atirámo-nos às teclas e aqui está: uma carta para vocês colegas e patrícias desta classe superior da Criação. É uma cunha que vos metemos: convençam o vosso hospedeiro a guardar um livrinho para o mcr. Ele merece, apesar de tudo. E tem todos os livros de Manuel António Pina. Ou quase, pois pode haver algum contrabandeado só para amigos de que não há notícia. Valeu?
* o gato que pesca é uma série que começou sob a égide de Puff von Heinzelmann, gato que morreu demasiado cedo e que tinha uma pecha pelo quartier latin. Agora é redigido por duas gatas mas mantém-se o masculino em homenagem ao primeiro redactor e à rua imortalizada por Yolande Foldés
**a fotografia que enriquece este post, o blog, e a internet é das autoras quando teriam seis meses.
às exmas gatas Bê e Lucy (chez Manuel António Pina) pelas suas congéneres Kiki de Montparnasse e Ingrid Bergman( chez mcr)
Caras amigas
Somos as gatas hospedadas por mcr, admirador incondicional do vosso hospedeiro Manuel António Pina. Por solilóquios vários do nosso hospedeiro soubemos que o vosso projecta editar “apenas para amigos” um livrinho de poemas.
Grande sacana!, murmurava o mcr, a gente nunca se vê e o tipo é menino para se esquecer de mim.
“Quem?, perguntou a CG, hospedeira nossa e nossa especial manicure, cabeleireira e massagista. O Manel Pina, um tipo que é poeta e que conheço desde sessenta e tal. E é bom?, Bom?, é óptimo. O gajo sabe da poda como poucos, quase nenhum.
Poda, pelo que conseguimos perceber deve ser o mesmo que poesia, só que em puro, limpo, directo, luminoso, sem rodriguinhos nem narizes de cera. Uma coisa, esta é da Ingrid, quase tão especial quanto uma gata. A Ingrid é muito selectiva neste capítulo da classificação dos seres vivos. Dos humanos só aproveita um senhor chamado Mozart, um outro chamado Joyce, um tal Borges e uns (quem seráo?) Rabelais e Voltaire. E o Fernão Mendes Pinto? Esse vem na segunda lista, divisão A, superior.
Ora, como verificam, este nosso hospedeiro, que é bom tipo, com suas manias, nunca se esquece de partilhar o fiambre do pequeno almoço comigo (Kiki dixit) anda com as vísceras alanceadas. E se o Manel esgota os livrinhos antes que o pilhe? Telefone, propõe a CG. Sei lá se o tipo tem telefone... os poetas são assim, comunicam por outros meios, por telepatia ou, no mínimo através dum tal alfabeto homográfico que era uma coisa que se fazia com bandeirinhas na mocidade portuguesa, uma estafadeira tão inútil quanto o resto e meia pateta, respondeu, sombrio o mcr. O homem é um nocturno, um cabouqueiro da noite, ninguém o apanha a horas decentes.
Foi por estas e outras razões que, enquanto o mcr está na livraria leitura com um par de jarretas da mesma idade (às quartas feiras é certinho: juntam-se na livraria, bebem café, chateiam os empregados e dizem mal do Saramago) fomos ao computador que está na nova sala dos livros e zás, atirámo-nos às teclas e aqui está: uma carta para vocês colegas e patrícias desta classe superior da Criação. É uma cunha que vos metemos: convençam o vosso hospedeiro a guardar um livrinho para o mcr. Ele merece, apesar de tudo. E tem todos os livros de Manuel António Pina. Ou quase, pois pode haver algum contrabandeado só para amigos de que não há notícia. Valeu?
* o gato que pesca é uma série que começou sob a égide de Puff von Heinzelmann, gato que morreu demasiado cedo e que tinha uma pecha pelo quartier latin. Agora é redigido por duas gatas mas mantém-se o masculino em homenagem ao primeiro redactor e à rua imortalizada por Yolande Foldés
**a fotografia que enriquece este post, o blog, e a internet é das autoras quando teriam seis meses.
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