24 janeiro 2009

Estes dias que passam 139


Dois pontos sobre as notícias

Um jornal levanta uma forte suspeição sobre o Primeiro Ministro.
Um parente deste mete os pés pelas mãos nas declarações que faz.
Gravações ambíguas, vídeos que cá não são prova, mexericos, desmentidos e o costume vão fazendo crescer especulações. E paixões.
Nada, até agora, permite pôr em causa a honra e dignidade do Primeiro Ministro.
De todos os modos presume-se a inocência de qualquer pessoa acusada.

O Primeiro Ministro tem todo o direito de se defender e de se sentir insultado. Não deve, nem pode, é disparar contra tudo e todos, mormente contra os magistrados que estão encarregados de dirigir as investigações. Ora, as suas primeiras declarações e acusação que este processo só vem ao de cima em época eleitoral não são elegantes e podem conter um ataque a quem investiga.
O Primeiro Ministro já tentou emendar a mão mas, como de costume, o mal está feito: o ataque aos magistrados que instruem o processo já está desmentido mas deixa sempre uma cicatriz.
De resto, o Primeiro Ministro sabe perfeitamente que este caso renasceu há meses e foi provocado pelas investigações que correm em Inglaterra. E não passa pela cabeça de ninguém, sequer pela do senhor Primeiro Ministro, que se trata de uma conspiração inglesa contra os poderes instalados em Portugal.
Por outro lado, convém não falar muito no que transpira dos processos e no segredo de justiça porque disso, desses ardis nefastos, estamos todos bem lembrados de como se tentou (e se conseguiu) destruir Ferro Rodrigues. E mais não digo...
Convém apenas saber: foram ou não pagas luvas a alguém?
Porque é que um tio do senhor Primeiro Ministro se gaba de ter dado azo a uma reunião quando, por outra banda se afirma que essa reunião (“a única”, sic) foi pedida pela Câmara Municipal de Alcochete? Quem mente? Quem fala verdade?
Relembro, o caso de um Ministro de um dos primeiros governos democráticos que, por um filho estar implicado num escândalo, entendeu não ter condições políticas para permanecer no Governo. Outro tempos, dir-se-á. Talvez, mas o seu exemplo nem por isso deve ser esquecido ou criticado.
Resta-nos , a todos, fazer votos, exigir que esta investigação chegue rapidamente a bom porto. Ninguém, nós cidadãos, os acusados (justa ou injustamente) pode viver demasiado tempo, neste clima deletério. Todavia, a justiça, a boa justiça, e a investigação séria e cabal têm os seus tempos. Mas só esses.
Por várias vezes, defendi neste espaço, a presunção de inocência que aprendi nos bancos da faculdade. E nem sempre fui meigo com os instrutores de processos nacionais ou estrangeiros. Uma, ou outra vez, algum comentário pôs em causa essa minha posição com o argumento que assim eu desvalorizava o trabalho de investigação. Até agora, tenho tido a sorte de verificar que esses apelos à prudência e à mais estricta legalidade, se mostraram razoáveis e foram confortados pela queda das acusações contra os presumíveis réus, julgados –mal! – na praça pública.
Apesar de achar que este Primeiro Ministro é arrogante e conservador, ou por isso mesmo, tenho que, mais uma vez, defender o seu direito ao bom nome e à honra. E verifico, com alguma satisfação, que por banda da oposição há opinião idêntica. Isto é, apesar de tudo, um bom sinal para a democracia e para a causa da liberdade.
Ninguém está acima da lei. Nem abaixo.

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