18 janeiro 2009

"O leitor (im)penitente 44


Sobre
um génio que era um santo
e seus fieis


Saiu ou vai sair muito em breve uma nova e acrescida edição da “fotobiografia” de Antero de Quental. Ora aí está um livro imperdível. Por todas as razões: rigor, beleza, tema etc...
E por uma outra não menos importante e não menos justa: trata-se de um trabalho assinado por Ana Maria de Almeida Martins, uma investigadora que tem no seu longuíssimo currículo uma vasta obra de e sobre Antero. Devem-se-lhe a edição das “Cartas” do enorme poeta e guia da geração de 70. A.M.A.M. pesquisou, organizou, juntou e, salvo milagre que se desejaria, terá publicado com cuidado, obstinação e carinho a mais completa edição da epistolografia anteriana. Devem-se-lhe igualmente a criação do Centro de Estudos Anterianos (com o apoio certo da Câmara de Vila do Conde), a revista “Estudos anterianos” (igualmente apoiada por Vila do Conde), a compra da casa onde o poeta passou dez anos de vida feliz, um sem número de textos e uma boa dúzia de livros sobre Antero. Ana M. A. Martins é, sem demérito para a numerosa tribu anteriana, a especialista mais operosa destes últimos trinta anos. A grande especialista, não tenhamos medo das palavras. Uma vida de paixão que se deve saudar e, sobretudo, reconhecer. É que Ana M A Martins sobre saber do que fala e escreve esconde-se na sombra do poeta, não vive dele mas para ele. Muitos leitores, como este, como Rui Feijó (que a crismou, com ternura e amizade, “soror Ana das anterianas descalças”) espera(va)m que ela dê(sse) o passo que pode e deveria dar: uma nova biografia do poeta. Não que as existentes não valham a pena, que valem e muito. Mas apenas porque com o trabalho de Ana M A Martins muito mais se sabe agora e, por isso, a necessidade de uma nova biografia é evidente.


Aleluia, alvíçaras: da Editora Assírio e Alvim, uma boa notícia: vai sair ainda este mês, uma nova edição da obra completa de Herberto Hélder. Chamar-se-á “Ofício Cantante”, título que se repete na bibliografia helderiana (1967) e que era uma antologia.

Morreu a Teresa Coelho. Conhecia-a desde miúda, enfim desde os seus dezasseis, dezassete anos ainda na Figueira. Era parente de amigos meus e já mostrava uma inegável curiosidade pelos livros, pelo cinema, pela vida. Depois fomo-nos encontrando por aí, graças ao Eduardo, graças aos livros e a algum amigo. Nunca se morre na hora certa, dizia o JSC aqui há bem pouco. É verdade. E a Teresa ainda tinha muito para dar. Estou, apesar da distância e do facto de nos últimos anos cada vez a ver menos e mais espaçadamente, mais só, mais pobre e mais triste. É a sina dos sobreviventes.

* O título da crónica remete para o admirável texto que Eça escreveu sobre Antero. E se é verdade que Antero sobreviveria de qualquer modo, tão grande era a sua estatura moral, política e literária, não menos verdade é que o texto de Eça no in memoriam teve como resultado tornar a sua imensa figura ainda mais visível. Não tenho à mão, porque o emprestei, o volume das obras de E.Q. onde consta esse texto magnífico, um dos melhores senão o melhor que ele escreveu. Mas proponho aos leitores o “ Antero de Quental in memoriam” (Editorial Presença e Casa dos Açores) datado de 1993 que é uma edição fac-similada de idêntico volume de 1892. Sem surpresa, o excelente prefácio desta edição é de Ana Maria de Almeida Martins


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