29 julho 2004

LETRA PARA UM HINO

É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre. 

Manuel Alegre.
In: “O Canto e as Armas”. edt. Centelha. Coimbra

2 comentários:

Primo de Amarante disse...

O punho erguido significa a solidariedade e a união; os dois dedos em V significa "cada um que se desenrasque".

Primo de Amarante disse...

Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar
São Paulo Portas à proa
Santanás a comandar

Ouvi agora senhores
Uma história de pasmar
D. Bagão conta o pilim
D. Morais trata das velas
D. Guedes limpa com VIM
Tachos, pratos e panelas

D. Pereira na enfermaria
Conta pensos e emplastros
E o D. António Mexia
Põe vaselina nos mastros

D. Durão deu à soleta
Enjoou de andar à vela
E Santa Manuela Forreta
Largou-os sem lhes dar trela

Aflito El-Rei Sampaio
Com estas novas tão más
Disse aos bobos de soslaio
Chamai lá o Santanás

Aqui estou meu Senhor
Vós mandasteis-me chamar?
Soube agora desse horror
D. Durão vai desertar?

Cala-te lá meu charmoso
Não me lixes mais a vida
Troco um cherne mal-cheiroso
Por um carapau de corrida?

Pobre da Nau Catrineta
Já lamento a tua sorte
Esta marinhagem da treta
Nem sabe onde fica o Norte

Parece que já estou vendo
Em vez de descobrir mundo
Ao primeiro pé de vento
Espetam com o barco no fundo

Ou então este matraque
Com pinta de Valentino
Gasta-me a massa do saque
Nas boîtes do caminho

Não se aflija meu Rei
Que agora vou assentar
Pois depois do que passei
Cheguei onde quis chegar

E por aquilo que passei
Aqui ninguém nos escuta
Eu quero mesmo é ser Rei
E vamos embora à luta

in: abnoxio