30 julho 2004

Postais do Sul (2)

A estrada da Serra

O cheiro dos estofos de napa do carro familiar garantia enjoo, mesmo em pequenos percursos e quando nas férias rumávamos a Lisboa, pela então incontornável estrada da serra, já se sabia que as “paragens técnicas” seriam inevitáveis.
Pelo menos eu, na minha infantil candura, encarava-as com a naturalidade de quem - nessa época de propagação da ideologia do “pobrezinhos mas honrados” e “orgulhosamente sós” - não podia imaginar que a distância que nos separava da almejada capital a viria a fazer em apenas duas horas (ou um pouco mais, dependendo da maior ou menor observância dos limites de velocidade…), sobrevoando a serra em bem lançados viadutos, para mais com ar condicionado e, sobretudo, com estofos inodoros.
Ainda assim, a beleza da paisagem a partir de São Braz de Alportel (a percepção da Pousada marcava, para nós, o verdadeiro início da viagem) não nos deixava indiferentes.
E aproveitávamos sempre para parar no Barranco do Velho e retemperar os ânimos enchendo os sentidos de paisagem e do ar lavado daqueles montes e vales.
No regresso, quando ali chegávamos à tardinha, não havia enjoo que resistisse às sopas caseiras do restaurante à beira da estrada, em especial a de feijão encarnado, hortaliça e toucinho.

Há muito – não foi preciso esperar pela conclusão da A2 – que a estrada da serra deixou de ser percurso incontornável, para gáudio dos viajantes apressados, como este turista acidental.
Mas, quando o troço que agora a atravessa ainda não estava construído, e as intermináveis bichas tornavam o percurso ante ou post auto-estrada um desespero mesmo para pessoas normalmente pacientes, ocorreu-me - no que me restava da infantil candura - que a quase esquecida estrada da serra poderia ser uma boa alternativa.
Desenganei-me. A estrada – ou melhor, o que restava dela – resumia-se a uma lomba central de alcatrão, de tal forma esburacado que o percurso se tornava uma autêntico desafio à perícia do condutor, aos nervos dos passageiros e à suspensão do veículo.
Quando tentei perceber como era possível terem deixado a estrada chegar a tal ponto, falaram-me da inoportunidade de um investimento em melhoramentos, quando era já certo que a auto-estrada estava para chegar, era uma questão de mais ano menos ano.
Continuei a não perceber. Não teriam as populações serranas, para mais numa época em que os discursos oficiais já há muito manifestavam preocupações com a desertificação do interior, direito a um mínimo de efectiva consideração?

A A2 lá acabou por ser concluída sem que, até lá, o arranjo da estrada da serra se tivesse, sequer, iniciado. Encontra-se hoje, finalmente, em bastante bom estado de conservação e, se nunca chegou a ser uma alternativa a condutores desesperados é, estou em crer, um caminho para suavizar o isolamento e a pobreza das populações, até por via do “boom” de programas turísticos “alternativos” (por regra da iniciativa de gente que sabe ganhar a vida sem desrespeito pela natureza e tradições).
Ou era, que o FOGO, por via da incúria e desleixo, aparentemente crónicos neste país, destrói este ano o que no ano passado, já horribilis, foi poupado. Talvez por isso não esteja activo o link que se fazia em tempos para a página do site do Ministério da Agricultura relativo às árvores de interesse público, de que faziam (fazem?) parte muitas das que se avistavam da estrada da serra.

Oxalá me engane e o link tenha sido apenas deslocalizado.

6 comentários:

Kamikaze (L.P.) disse...

Caro carteiro:
A bem do rigor e por respeito ao ciclismo, rectifiquei, n'"O Ciclista" os nomes das equipas de Loulé e Tavira e inseri os respectivos links (entre vários outros, relativos às localidades mencionadas no post).

Anónimo disse...

A A1 é a Autoestrada no Norte!!
Penso que será a A2 (Auto estrada do Sul)que se está a referir.

Kamikaze (L.P.) disse...

Obrigado LC, pela pesquisa do novo link para as árvores de interesse público! Entretanto já rectifiquei A2 e o link final sobre as árvores, com fotos, que estava enganado.

Kamikaze (L.P.) disse...

Restaurantes rurais com selo de garantia
PUBLICADA: 22/08/2001

No âmbito do Programa de Iniciativas de Promoção do Mundo Rural Algarvio, 22 restaurantes de diversos concelhos do Algarve foram seleccionados para exibir o selo de qualidade garantida. As associações Alcance (nordeste), Vicentina (barlavento) e InLoco (sotavento), a Região de Turismo do Algarve, a Comissão de Coordenação da Região Sul e a Agência de Desenvolvimento Globalgarve basearam-se em cinco critérios para a escolha: qualidade gastronómica, higiene, segurança alimentar, informação e serviços disponibilizados. Eis os restaurantes eleitos e a zona ou localidade em que se encontram: Estalagem do Guadiana e Ti Afonso (Alcoutim), Monte Branco e Restosnack (Martinlongo), Chefe Dimas e Taberna do
in http://viajar.clix.pt/com/noticias.php?id=430&lg=pt

NOTÍCIAS TURÍSTICAS
Restaurantes rurais com selo de garantia
PUBLICADA: 22/08/2001

Gabão (Aljezur), D. Rodrigo (Altura), O Camponês (Odeleite), O Celeiro (Lagos), O Moinho da Ti Casinha e Barranco do Velho Ti Bia (Ribeira das Mercês), A Charrete (Monchique), Jardim das Oliveiras (Porto Escuro), Quinta de S. Bento (Fóia), Vila Lisa (Mexilhoeira), Zé Dias (Vilarinhos), Cantinho dos Caçadores e Casa de Pasto de Monte Clérigo (S. Marcos da Serra), Casa de Pasto do João Praça (Aldeia Ruiva), A Tasca e Vila Velha (Vila do Bispo) e Forte do Beliche (Cabo de S. Vicente).

Kamikaze (L.P.) disse...

Meu caro Carteiro,
Clube T e Vila Lisa, pois pois, o tal do tasco do Tenazinha deve ser por si frequentado só por causa das afinidades ciclistas!(estou a brincar, é melhor avisar, eh eh eh, à acautela, que há comentaristas do Incursões que podem não perceber, embora não seja o seu caso, seguramente, claro, eh eh eh de novo)
O Vila Lisa só é tasca na aparência, a frequência é mais "tios e tias", pelo menos desde que o Mário Soares o divulgou como um dos seus locais de eleição.
Diz-me o turista acidental que comida regional a sério, a melhores preços (o sistema também é o de preço fixo e vários pratos)que bom a sério é o Mula Cheia, ali para o Parchal, a seguir aos escorregas...

Kamikaze (L.P.) disse...

Ou seja, não muito longe do Vila Lisa.