06 julho 2006

Nesta noite



Apresentemos a face despida à noite,
à brisa da noite acabada de chover.
Galga-nos o tempo
e há poucos minutos de silêncio.

Apresentemos sem receio o corpo,
braços, pernas, face límpida,
ao olhar da lua,
como se fôssemos inocentes.

Como se nada sentíssemos antes,
o sorriso pudesse estar leve,
e em tudo confiássemos.
Nesta noite de silêncio,
nada nos pode ferir.

Hoje nosso corpo é jovem.
Nosso querer é jovem.
Nosso olhar é jovem.

Não esquecemos o tempo,
temos a memória da desolação.
Mas não se amarga a dor eternamente.
Há um bem-estar que o poema
não descreve, nesta noite.

Porque a noite é longuíssima,
porém finita,
estamos calmos.

Sabemos o que podíamos saber.

Silvia Chueire

2 comentários:

C.M. disse...

"Como se fôssemos inocentes"!

Que poema tão erótico e, ao mesmo tempo, místico! Ou será a mística do corpo?...

Se fôssemos inocentes e puros, o mundo com certeza não estaria como está hoje…

Silvia Chueire disse...

O poema nos conclama à inocência, Delfim. A um momento de inocência, um " como se", mesmo depois de o tempo nos ter confrontado com a vida.
Obrigada pelas suas palavras.

Abraços,

Silvia