02 dezembro 2007

O Salto



O vazio das vidas faz-se vivendo o que nos acontece, caso a caso, problema a problema, refeição a refeição. Sem reflectir, apenas reagindo ás situações. E quanto mais nos entranhamos na resolução dos problemas que nos ocorrem, mais escondidos ficamos de nós e da essência da vida.

Não foi pela via da tomada de consciência do vazio da minha vida que se deu em mim o clique. Foi pela via do cansaço, da saturação. Foi puro sentimento, nada de racional. Já passei a fase de dizer, ou pensar, que foi a vida ou os outros que me trouxeram até aqui: na forma e no conteúdo. Se alguma coisa aprendi, neste processo, foi que o papel de passividade, de vítima, está reservado para os que se querem acomodar na sua infelicidade. É fácil nada fazer, nada mudar, invocando mil razões (todas exteriores a nós) culpando pessoas e situações pela nossa própria situação. Isso leva-nos à queixa sistemática. “Gostava tanto de… mas…” Puro engano. Somos vítimas de nós mesmo. Criamos as grades com que nos prendemos á vida que verdadeiramente não queremos.

Quando cheguei à conclusão que a minha vida dependia de mim muito mais do que eu pensava, senti colarem-se nos meus olhos umas lentes que me deram uma visão completamente diferente da vida. Passei a ver tudo à luz de um novo prisma. Como se tivesse saltado para o lado de lá e olhasse as situações como observadora “objectiva”, exterior a mim mesma.

Não consigo situar no tempo esse momento da viagem, mas a partir daí nada foi como dantes. Seria impossível analisar as coisas com outro paradigma e funcionar como o fizera até então. Num momento, senti-me sem defesas, em absoluto desamparo, no momento seguinte ganhei a força que me veio da consciência de ser dona de mim. Com limites, bem sei, mas muito inferiores aos que eu antes ficcionara.

Senti-me mais responsabilizada. Era tudo uma questão de opção. Ganha-se e perde-se sempre alguma coisa. O importante foi saber o que queria verdadeiramente de mim e da vida.

Foi um processo difícil. É mais fácil escondermo-nos atrás da vida do que enfrenta-la. Hoje sinto que o percurso que fiz me trouxe até mim. À essência do que sou e quero.
Dei o salto.

6 comentários:

Roberto Ivens disse...

NOS CUS DE JUDAS é o diário de um Tuga em terras de Angola.

http://cus-judas.blogspot.com

Silvia Chueire disse...

Não podia ser uma construção mais verdadeira, o Meu olhar.
Gosto do texto.Da forma e conteúdo.


Abraço grande,

Silvia

Unknown disse...

mt interessante o blogue. n conhecia.

deixo uma dica de um autor novo que merece ser divulgado:

www.tiagonene.pt.vu

Bi.

o sibilo da serpente disse...

Ena, ena! :-)

O meu olhar disse...

Olá caros amigos, obrigada pela vossa reacção. Encontrei este texto num caderno antigo. Foi escrito há já alguns anos. Retrata um processo que foi precioso para mim. Resolvi partilha-lo.
Um abraço

M.C.R. disse...

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