O vazio das vidas faz-se vivendo o que nos acontece, caso a caso, problema a problema, refeição a refeição. Sem reflectir, apenas reagindo ás situações. E quanto mais nos entranhamos na resolução dos problemas que nos ocorrem, mais escondidos ficamos de nós e da essência da vida.
Não foi pela via da tomada de consciência do vazio da minha vida que se deu em mim o clique. Foi pela via do cansaço, da saturação. Foi puro sentimento, nada de racional. Já passei a fase de dizer, ou pensar, que foi a vida ou os outros que me trouxeram até aqui: na forma e no conteúdo. Se alguma coisa aprendi, neste processo, foi que o papel de passividade, de vítima, está reservado para os que se querem acomodar na sua infelicidade. É fácil nada fazer, nada mudar, invocando mil razões (todas exteriores a nós) culpando pessoas e situações pela nossa própria situação. Isso leva-nos à queixa sistemática. “Gostava tanto de… mas…” Puro engano. Somos vítimas de nós mesmo. Criamos as grades com que nos prendemos á vida que verdadeiramente não queremos.
Quando cheguei à conclusão que a minha vida dependia de mim muito mais do que eu pensava, senti colarem-se nos meus olhos umas lentes que me deram uma visão completamente diferente da vida. Passei a ver tudo à luz de um novo prisma. Como se tivesse saltado para o lado de lá e olhasse as situações como observadora “objectiva”, exterior a mim mesma.
Não consigo situar no tempo esse momento da viagem, mas a partir daí nada foi como dantes. Seria impossível analisar as coisas com outro paradigma e funcionar como o fizera até então. Num momento, senti-me sem defesas, em absoluto desamparo, no momento seguinte ganhei a força que me veio da consciência de ser dona de mim. Com limites, bem sei, mas muito inferiores aos que eu antes ficcionara.
Senti-me mais responsabilizada. Era tudo uma questão de opção. Ganha-se e perde-se sempre alguma coisa. O importante foi saber o que queria verdadeiramente de mim e da vida.
Foi um processo difícil. É mais fácil escondermo-nos atrás da vida do que enfrenta-la. Hoje sinto que o percurso que fiz me trouxe até mim. À essência do que sou e quero.
Dei o salto.
6 comentários:
NOS CUS DE JUDAS é o diário de um Tuga em terras de Angola.
http://cus-judas.blogspot.com
Não podia ser uma construção mais verdadeira, o Meu olhar.
Gosto do texto.Da forma e conteúdo.
Abraço grande,
Silvia
mt interessante o blogue. n conhecia.
deixo uma dica de um autor novo que merece ser divulgado:
www.tiagonene.pt.vu
Bi.
Ena, ena! :-)
Olá caros amigos, obrigada pela vossa reacção. Encontrei este texto num caderno antigo. Foi escrito há já alguns anos. Retrata um processo que foi precioso para mim. Resolvi partilha-lo.
Um abraço
Há mais?
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