29 fevereiro 2008

Estes dias que passam 94

Mais do mesmo....

Às vezes custa dar uma pazada num adversário político. Nem sempre se tira um pequeno consolo de tão salutar e lusitano acto sobretudo se, bem vistas as coisas, o adversário é um desastre confirmado, um punching ball, um pobre diabo condenado a esbracejar em vão no meio do deserto das ideias que não lhe povoam a cabeça.
Eu nunca tive pelo dr. Luis Filipe Menezes uma consideração sequer, digamos, modesta. Tirei-lhe, desde cedo a bissectriz, vi-o choramingar num qualquer congresso em que, a destempo, zurziu nos sulistas elitistas, tentando com torpeza, desastrosa sagacidade política e rara falta de oportunidade, ganhar uma plateia que, ainda por cima, se riu dele.
Pensei que essa aterradora experiência e o tempo, sobretudo o tempo, lhe trouxessem às mimosas meninges alguma ideia mais interessante do que esta excitação do populismo. Isto para o caso de não ficar definitivamente sepultado pela vergonha.
Mais tarde, ascendeu à presidência da Câmara de Gaia. Houve quem lhe louvasse o feito muito embora haja quem pense, e eu estou nesse grupo, que até a santinha da Ladeira ganharia a câmara ao pobre diabo socialista que por lá andava a fingir de autarca. Todavia, durante uns tempos, entretido com a cidade que lhe caíra no regaço, o dr. Menezes parecia ter ultrapassado o feliz estado de inocência política que o celebrizara. Tomou mesmo um par de medidas simples mas eficazes e com bom senso; pareceu ( logo se verá) que sabia dirigir uma câmara municipal. V N Gaia está melhor do que estava há uns anos e suponho que nem sequer os mais pertinazes socialistas locais se atrevem a murmurar o nome do anterior edil socialista.
Há, no entanto, nos políticos subalternos em geral, e no dr Menezes em particular uma singular atracção pelo abismo. Dois ou três pequenos sucessos fazem-nos sonhar com o voo majestoso das águias quando eles dificilmente superam o esvoaçar da galinha pedrês. E isso perde-os definitivamente.
Os deuses adoram pregar pequenas partidas aos humanos. E os deuses da política doméstica olharam embevecidos para o dr. Meneses e sopraram-lhe ao tenro ouvido a hipótese de um destino nacional. Era só correr com um maçador que dirigia o PPD entre duas eleições, depois de dois cataclismos políticos. E o dr. Meneses entendeu que chegara o seu momentum.
Desafiou o gestor interino do partido, aviou dois discursos inflamados e surpreendentemente ganhou o partido. Ou ganhou o que restava de um partido com vocação de poder que nunca teve jeito nem gosto pela oposição.
Desde esse infausto dia, isto parece uma montanha russa. O dr. Meneses parece uma bicha de rabiar. Dá estalos e estalinhos mas é tudo pólvora seca. O PS bem que lhe atira suculentas razões de combate, comete burrices semanais, mas nada! Nada desvia o dr Meneses da sua agenda própria. Onde se esperaria oposição, ouve-se confusão. Hoje uma coisa, amanhã outra, uma terceira três dias depois. Nem as minhas gatinhas que são novas e nem sempre percebem que não vale a pena andar atrás do próprio rabo, fariam melhor.
Consta que o engenheiro Sócrates já prometeu um milheiro de velas, de quilo, à Senhora de Fátima se o dr Meneses se mantiver galhardamente ao leme do PPD até às eleições. Alguém lhe terá dito que assim sendo até pode despedir definitivamente o poeta Manuel Alegre. E continuar a sua política de rigor (!!!) e de reformas (!!!) socialistas (!!!). Faça o que fizer ganha por falta de comparência de adversário.
Eu não choro pela má sorte do PPD. Eles é que cavaram a própria sepultura. Só que, em política, uma acção forte e interessante só pode ser levada a cabo sob o escrutínio e oposição de um adversário forte. E ao não o haver, resignamo-nos a dirigentes cada vez mais fracos. E ao um futuro cada vez mais deprimente. Por uma vez sem exemplo tenho alguma pena do dr. Pacheco Pereira. E de alguns dos seus pares. Não os quero para governantes mas também me dói vê-los tão desgovernados.

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