23 outubro 2005

Incontornável

In A Revolta das Palavras:

"Matai-vos uns as outros!

Voltei! E logo para me irritar! No dia em que o Ministério Público lança o que chama de uma «mega-operação» de busca eu vejo na imprensa que, por causa dela, andam na Procuradoria a pôr processos-crime uns aos outros e a dizê-o em comunicado, para que conste. Mais, dizem que a dita operação ainda não conduziu, entre os buscados, à constituição de arguidos. Bravo! O saldo é positivo: uma operação destas e os únicos arguidos por junto são os próprios investigadores, por causa do triste segredo de justiça! Ah! E uma bela fotografia no «Diário de Notícias», já me esquecia.

José António Barreiros

*
In Grande Loja do Queijo Limiano, a propósito do post de JAB, agora com ilustração:

"Ainda a propósito deste assunto, algumas notas.

A primeira, para notar que não é preciso atribuir a nenhuma cabala ou conspiração aquilo que pode (facilmente) ser explicado pelo desleixo, pelo laxismo, irresponsabilidade ou pela incompetência.

A segunda, para notar que, em campos opostos, Ricardo Espírito Santo Salgado e Cândida Almeida, partilham de uma mesma filosofia de vida, a do relativismo moral. Se, na passada terça-feira à RTP, Ricardo Salgado tudo resumia a uma ou outra 'negligência', ontem a responsável máxima do DCIAP, e das operações em curso, resumiu a monumental gaffe que permitiu ao BES saber que não era o único investigado, a uma mera e inócua 'falta de atenção' numa performance televisiva das mais vergonhosas de todos os tempos para a credibilidade da Justiça portuguesa.

Recorde-se que ontem foi o dia em que Souto Moura, com a falta de tacto e habilidade habituais, veio queixar-se, a propósito da operação judicial em curso, da comunicação social, das fugas de informação e da violação do segredo de justiça, ao mesmo tempo que deixava nos jornalistas o onús, e mais um round de processos, por estes se recusarem a revelar - sistematicamente - as fontes, só que, e o mundo é cruel, agora sabe-se quem foram as fontes...

Entretanto, e a reboque da pressão mediática, e do ridículo, só hoje é que a PGR resolveu 'clarificar' aquela que deveria ter sido a primeira coisa a ser dita por Cândida Almeida - se tivesse a mínima noção das coisas e da responsabilidade do cargo que ocupa - quando confrontada com os factos - que no processo de averiguações (à violação do sigilo) anunciado por Souto Moura estaria incluído também o próprio DCIAP de modo a averiguar da inocência da gaffe.

Que não haja dúvidas - as investigações em curso são das mais importantes jamais realizadas, mas se chegarem a algum lado, não será por causa de algums dos responsáveis nominais de topo - entre os quais se inclui Cândida Almeida - será apesar deles. Falta-lhe o mínimo dos mínimos de sensibilidade para perceber o que está em jogo, e actuar em conformidade, mas, sobretudo, falta-lhes o essencial - falta-lhes a humildade, a humildade de reconhecer que são humanos, que não estão acima do povo, mas que actuam em seu nome. Ontem, em breves instantes na TV, que pareceram uma eternidade, se dúvidas havia ficaram todas dissipadas. Obviamente que ainda ninguém colocou o lugar à diposição, certamente por 'falta de atenção'."

Manuel

5 comentários:

Kamikaze (L.P.) disse...

Lamentavelmente a pose de Cândida Almeida não foi totalmente conseguida, pois mal se percebe que (para além do Cód. Proc. Penal que exibe na mão direita)a mão esquerda sustém a Constituição da República...

Também lamentavelmente, não terá sido totalmente conseguido o presumível objectivo da entrevista/declarações de Cândida Almeida ao DN, pois apesar da prestimosa disponibilidade para, imediatamente após o desencadear das buscas, dizer de sua justiça e amavelmente se deixar fotografar em pose para a posteridade, o DN arrasa e põe a ridículo a própria, o DCIAP, a PGR e o MP...

Mas, neste contexto, alguém se espanta???

Dr. Assur disse...

Tudo lamentável.

Manuel disse...

Eu gostava de saber onde estão o brio, e os valores, dos magistrados sindicalistas. Cada minuto de silêncio 'corporativo' em relação à situação insustentável em que Cândida Almeida se colocou faz mais mossa à imagem global do MP que os 'ataques' do Alberto Costa todos juntos...

O meu olhar disse...

Não tenho opinião formada sobre os principais visados neste post: Cândida Almeida e Souto Moura. Todavia, não posso deixar de lamentar que se fale tanto do que estes fizeram de errado e menos do que foi desencadeado com este processo. Parece-me que as inabilidades destes são muito menores do que as possíveis consequências de um desenvolvimento correcto deste caso. A crítica, a estes, se devida, deveria ser nota de rodapé, não tema central. Para quem está por fora indicia guerrilhas internas. Isto sem qualificar a justiça das mesmas, que desconheço.
O que interessa aqui é louvar quem desencadeou e trabalhou o processo. “Só” isso, nesta fase, é já de louvar. Esperemos que o desenvolvimento e as conclusões do processo não tenham em conta o status e a influência das pessoas envolvidas mas tão-somente os factos que quiserem e conseguirem apurar.

Manuel disse...

Há qualquer coisa de errado quando, perante o óbvio, já vale a desculpa do 'terá sido mal feito mas pelo menos tentaram fazer alguma coisa'...

Alguém se lembra de uma acusação/investigação que o DCIAP tenha não iniciado mas levado com sucesso até ao fim ?

Será pedir muito um mínimo de competência e profissionalismo ?