21 março 2007

Porque

Neste dia mundial da poesia deixo aqui um poema, de que gosto especialmente, de uma grande senhora da poesia portuguesa

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Andresen

4 comentários:

ferreira disse...

Também gosto muito deste poema.
Parece-me que é dedicado ao amor e companheiro de sempre: F.S.T.
Um abraço poético

M.C.R. disse...

É de facto um poema de grandíssima qualidade dedicado a um homem que tinha algumas grandes qualidades e que foi injustiçado no fim da sua vida, Francisco de sousa Tavares.
A sofia, uma grande senhora onde quer que fosse, deu uma vez uma enrevista a Bernard Pivot no programa "apostrophes": que coisa linda!...
Que inteligencia! que humildade ao falar de si!
Muito boa ideia, esta de trazer uma poetisa solar a este blog!

O meu olhar disse...

Caro Ferreira e MCR,
Ainda bem que gostaram.
Um abraço

Silvia Chueire disse...

Este poema é da minha maior estima, eu o tenho numa antologia do E. de Andrade, dedicado a mim ( não por ela , nem pelo Eugénio, claro ). : )
Gosto imenso deste poema!

Abraços,

Silvia