13 janeiro 2008

ÍTACA




Quando partires de regresso a Ítaca
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e experiências
(…)

Que sejam muitas as manhãs de Verão,
Quando, com que prazer, com que deleite,
Entrares em portos jamais antes vistos!
Em colónias fenícias deverás deter –te
para comprar mercadorias raras:
coral e madrepérola, âmbar e marfim,
e perfumes subtis de toda a espécie:
compra desses perfumes quanto possas
e vai ver as cidades do Egipto,
para aprender com os que sabem muito.

Terás sempre Ítaca no teu espírito,
Que lá chegar é o teu destino último.

Mas não te apresses nunca na viagem.
È melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha,
rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.

Ítaca deu –te essa viagem esplêndida,
Sem Ítaca não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar –te.

Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
terás compreendido o sentido de Ítaca.


Constantino Kavafis (1863-1933)
(versão de Jorge Sena)

1 comentário:

Silvia Chueire disse...

Acho lindo este poema. Que boa idéia, O Meu olhar, colocá-lo aqui!

Beijos,
Silvia