18 novembro 2008

A SOLUÇÃO

O mundo atravessa um momento complicado. O descontrolo do sistema bancário gerou uma crise de proporções ainda desconhecidas. Os gestores e consultores liberais e neoliberais das reengenharias foram pagos e bem pagos para sacarem abundantemente (para eles e para os accionistas), não cuidando das consequências. O povo era convidado a endividar-se e a endividar-se, sem que governo ou entidades, bem pagas para serem os reguladores, interviessem.

Com excepção da crise financeira, que assola Estados e famílias, não se ouvem grandes notícias de instabilidade social na maioria dos países europeus ou mesmo americanos.

Portugal é a excepção. Vejamos: no futebol é a vergonha das vergonhas, Enquanto uma minoria enriquece e faz manchete em capas de revistas e figura de vip em exposições e visitas ministeriais, os trabalhadores da bola, de muitos clubes, não recebem os seus vencimentos. Ano após ano o problema agrava-se. Os governos mudam mas os dirigentes desportivos ficam para manter o sistema. É estranho que ninguém ouse por ordem nesta balbúrdia que afecta muitos e que dá uma péssima imagem do país.

Se deixarmos o futebol e passarmos para Justiça, o caos não é menor, de uma outra natureza, mas não deixa de ser caótica (ou nem isso). Processos que se arrastam a perderem de vista. Investigações que não produzem prova reconhecida pelos Tribunais. Custos imensos para o Estado, para as empresas, para as pessoas. Decisões destemperadas e fora de tempo. Contradições ou lutas difusas entre investigadores e decisores. Freeport (que até faz perder a paciência à família real britânica). Apitos. Casa Pia. Portuscale. Operação Furacão, que leva mais de quatro anos, milhares e milhares de horas, recursos imensos afectos a investigar bancos – BCP, BES, BPN, Finibanco – e muitas empresas. Agora dizem-nos que se vai perder todo o trabalho realizado, porque o Tribunal decidiu levantar o segredo de justiça, o que leva o Diário de Notícias, a concluir que o Ministério Público sofreu mais uma derrota. O DN está errado porque a derrota não é do Ministério Público, a derrota é para a Justiça, para o país, para todos nós.

Na Educação, a algazarra que por aí não vai. Outro sistema caro, ineficiente, a caminho da ingovernabilidade. Até podemos deixar de lado o descontentamento que se diz alastrar no meio dos militares e das polícias. A saúde é outro sector em ebulição.

Enfim, Portugal vive dias bem complicados, até parece que a crise financeira nem é o mais relevante, tantos são os problemas e a falta de soluções à vista. É neste quadro de fundo que aparece a inovadora da ideia da líder do PSD: suspender a democracia por seis meses, até por tudo em ordem.

Como se vê, esperam-nos dias auspiciosos.

3 comentários:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

MFL tem repetido disparates nas suas últimas intervenções públicas. Esta é daquelas que, mesmo que pensasse verdadeiramente assim, não podia afirmá-lo. E se for levada à conta de ironia ultrapassa todas as marcas!
Na semana passada, jantei na mesma mesa de um membro da Comissão Política Nacional do PSD e o que ouvi o senhor contar sobre a organização do PSD e a liderança de MFL deixou-me convencido de que esta oposição não vai lá.

M.C.R. disse...

Parece que era mesmo ironia. A ironia própria da madame Leite.
Aliás a grande, esmagadora, maioria dos políticos é destituída de humor quanto mais de ironia.
Todavia, pegando na frase de MFL vou fazer um pequeno exercício que só não sai em comentário porque o antevejo longo. Será sobre as tendências autoritárias em tempo de crise.
O desastre português (e as notícias do Banco de Portugal esta manhã são desanimadoras) também passa pela falta de uma oposição forte. De resto, ao longo destes últimos trinta anos as oposições tem sido sistematicamente fracas, inconsequentes, maltratadas pelos media e pelos governos, sem presa na opinião pública. Assim é dificil irmos lá (todos: os cidadãos, o governo e a oposição)

O meu olhar disse...

Já não nos bastavam os problemas. Temos também que aguentar com estas soluções brilhantes. O problema da MFL é que resolveu sair do guião que tinha traçado para o discurso e ser espontânea. Deu nisto. Quando se apercebeu andou a plissar mas não evitou o embate.